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Grandes escândalos: os pneus Firestone e o Ford Explorer
História

Grandes escândalos: os pneus Firestone e o Ford Explorer

Problemas na fabricação dos pneus causaram 271 mortes após acidentes graves causados pela separação da banda de rodagem

Redação

15 de nov, 2017 · 8 minutos de leitura.

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Ford Explorer equipado com pneus Firestone
Crédito:Foto: John C. Hillery/Reuters
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A Ford e a Firestone encararam uma das piores crises de suas histórias na segunda metade do fim dos anos 90. Em 1996 foram registrados os primeiros acidentes envolvendo unidades do Explorer equipados com pneus Firestone. Quase todos os capotamentos ocorridos eram causados pelos pneus, cujas bandas de rodagem se separavam da carcaça com o carro em velocidade elevada. O problema causou nada menos que 271 mortes e deixou 823 feridos em acidentes.

Os primeiros registros foram no estado do Arizona ainda em 1996, que na época não comunicou ao NHTSA, o principal órgão de segurança viária dos Estados Unidos. O NHTSA foi mantido fora do caso por medo dos advogados locais. Eles temiam que o órgão governamental não encontrasse problemas nos pneus e isso prejudicasse as ações judiciais particulares já em andamento.

Em 1998, já eram 21 acidentes registrados nos Estados Unidos, número que subiu para 51 já no ano seguinte, quando o NHTSA foi finalmente informado do problema por um pesquisador da seguradora State Farm.

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Ford e Firestone já sabiam dos problemas dos pneus ATX, ATX II e Wilderness AT, que equipavam diferentes versões do Explorer. Em 1998, a Firestone já estava substituindo pneus na Venezuela por problemas relacionados à separação da banda de rodagem. Em 1999, A própria Ford começou a trocar os pneus de Explorer na Arábia Saudita e em alguns países da Ásia.

Em 2000, o NHTSA foi forçado a tomar uma atitude após a imprensa do Texas jogar luz no assunto. Trinta pessoas já tinham morrido a bordo de Explorers equipados com os pneus problemáticos da Firestone. A entidade iniciou uma investigação sobre o caso, que terminou com um recall de 6,5 milhões de pneus fabricados entre 1991 e 1996. Posteriormente, o número chegou a 14,4 milhões de pneus defeituosos trocados.

A fábrica de onde saíram os pneus, em Decatur, Illinois, foi fechada em 2001, colocando 1.500 empregados na rua. No entanto, todos os pneus das linhas afetadas foram recolhidos, indepedentemente de onde foram fabricados.


Separação
O relacionamento entre Ford e Firestone vem praticamente desde a fundação das duas empresas. No entanto, o problema nos pneus causou a separação entre as duas. A Ford afirmou que a Firestone não revelou informações sobre os pneus que faria a fabricante de automóveis considerá-los inseguros. A Firestone, por outro lado, criticou a engenharia do Explorer, culpando o carro pelos problemas apresentados.

A Firestone tentou responsabilizar a Ford por recomendar uma pressão de pneus abaixo do indicado para os pneus. A pressão menor serviria para suavizar o rodar do utilitário. No entanto, isso os fazia trabalhar em temperaturas acima do adequado, causando a separação da banda de rodagem. O Explorer rodava com 26 psi, ante os 35 psi indicados para a Ranger, picape do qual o primeiro Explorer era derivado direto. A Ranger usava os mesmos pneus problemáticos.


A Ford se defendeu dizendo que os Explorer equipados com pneus Goodyear apresentavam menos problemas do que com os Firestone. A marca, no entanto, já vinha enfrentado problemas com o Explorer há alguns anos. Por ser alto, o utilitário oferecia mais riscos de um capotamento após uma manobra brusca do que um carro. Por isso, a Ford diminuiu a pressão recomendada nos pneus e baixou a suspensão em alguns milímetros.

Só que a pressão mais baixa, além dos problemas com os pneus, fez com que o Explorer tivesse um consumo de combustível muito mais alto que o dos concorrentes. Por isso, na segunda geração do modelo, lançada nos Estados Unidos em 1995, a Ford resolveu tirar material do teto do carro, para tentar diminuir o peso.

A medida acabou causando outro problema. O teto era tão frágil que não suportava o peso do próprio carro após um capotamento. Era justamente a situação que o modelo estava mais sujeito, principalmente com a temeridade dos pneus Firestone que o equipa.


A precariedade do comportamento ao volante do Explorer foi um dos argumentos da Firestone contra a Ford. No entanto, o pedido de investigação foi arquivado pelo NHTSA. O órgão acabou concluindo que os pneus eram os causadores dos acidentes, e não um suposto mau comportamento do Explorer.

O recall custou nada menos que US$ 1,67 bilhões à Firestone. Para a Ford, foram US$ 530 milhões gastos em indenizações e na troca de pneus do modelo.

A terceira geração do Explorer, lançada em 2002, teve profundas alterações estruturais para melhorar a dirigibilidade do modelo. E os pneus já não eram mais da Firestone.


Troca de poder

Na época, os presidentes das duas empresas foram substituídos por causa do problema. Masatoshi Ono saiu da Firestone em outubro de 2000, dando lugar a John Lampe. Em janeiro de 2001, o presidente da Bridgestone, Yoichiro Kaizaki também deixou o cargo. Em novembro de 2001, Jacques Nasser foi demitido da presidência da Ford. O cargo foi ocupado por William Clay Ford Jr., nada menos que o bisneto de Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, e também bisneto de Harvey Firestone, fundador da Firestone Tire and Rubber Company.

 


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