Há alguns meses, o advogado R. H. pagou R$ 90 mil em um modelo usado da Jaguar. Pouco depois, ele teve de trocar algumas peças e levou um susto. Gastou R$ 26,8 mil, ou 30% do valor do carro. Em tempos de alta nos preços dos carros zero-km, mais consumidores estão apostando em importados de luxo usados. Com isso, realizam o sonho de ter modelos estrangeiros de marcas que trazem status.
Porém, apesar dos valores comparáveis aos de carros nacionais novos, os importados têm manutenção e seguro quase sempre bem mais caros. Para que o consumidor não tenha desagradável surpresa – e o orçamento comprometido – com esses custos extras, preparamos algumas dicas para auxiliá-lo na compra do estrangeiro de segunda mão.
O mecânico Pedro Luiz Scopino diz que modelos feitos após 2010 são opções mais seguras. “Eles têm mecânica mais moderna e dão menos dor de cabeça – é raro ter de abrir o motor de um carro desses. Já nos mais antigos, a dificuldade de achar peças é maior”, ele compara.
Muitos adquirem o importado não como modelo de uso diário, mas para ser intercalado com outros veículos. “Essas pessoas ficam menos vulneráveis quando o carro tem problemas”, diz Scopino.
É o caso do advogado Ulisses Penachio. Ele tira o carro da garagem apenas em certas situações, como dias de chuva, reuniões de trabalho, viagens e deslocamentos com suas duas filhas. No dia a dia, roda com uma moto BMW GS. No ano passado, quando chegou a hora de vender sua perua VW Jetta Variant, ele acabou comprando um Mercedes-Benz C 180 ano 2012, seu primeiro exemplar de uma marca premium.
“O sedã novo custava R$ 120 mil e este, com 18 mil km, estava à venda por R$ 80 mil. Achei a diferença enorme e não quis gastar tanto em algo que não usaria todo dia”, ele conta. “Eu queria um modelo mais divertido que a Variant e o Classe C é uma delícia de dirigir. Nunca tive um carro tão prazeroso. Além disso, fiz uma revisão na concessionária e gastei até menos do que eu esperava.”
Já o corretor de seguros Roustaing Guimarães é um consumidor contumaz de importados usados. “Conheço o mercado há muito tempo e sei onde achar bons especialistas, além de peças novas e usadas”, diz ele, que atualmente dirige um Land Rover Discovery 2006.
“Nunca perdi dinheiro. O segredo é saber comprar. Tem de pagar barato. A tabela do meu carro era de R$ 68 mil e paguei R$ 30 mil. Ele teve um problema no turbo e pediram R$ 50 mil ao antigo dono pelo reparo. Fiz o serviço por R$ 18 mil.”
Ele reconhece que achar peças de reposição, sobretudo as de acabamento, pode ser desafiador. E conta que muitos incautos são pegos desprevenidos pelos altos custos de manutenção e acabam se dando mal.
“Muita gente vai descuidando dos reparos. Se um sistema eletrônico tem pane e não é vital para o carro, em vez de consertar a pessoa manda desligar. Daí o carro vai se deteriorando e, na hora da revenda, ninguém quer dar nada por ele.”
Colaboraram: Rafaela Borges, Roberto Godoy e Tião Oliveira
Garantia. BMW e Jaguar Land Rover oferecem garantia para alguns modelos usados. No caso da marca alemã, há o Premium Selection, para veículos com até cinco anos e menos de 120 mil km rodados.
Esses carros, após passarem por inspeção de fábrica, são colocados à venda nas concessionárias da marca. A cobertura, de dois anos, é semelhante à oferecida para os zero-km.
Os detalhes do programa Approved Cars, da Jaguar Land Rover, são semelhantes. O período de revisões varia de acordo com o carro, mas elas devem ser feitas, em média, a cada 13 mil km ou 12 meses (o que vier primeiro).
Antes da compra
Cálculos realistas. Pesquise o custo de manutenção para o modelo desejado e veja se realmente cabe no seu bolso. Algumas peças podem ter preços estratosféricos. “O motor do Evoque 2012 de um cliente fundiu e pediram R$ 100 mil por um novo”, diz o mecânico Pedro Scopino.
Facilidade de reparo. Investigue a oferta de peças. Em modelos que venderam pouco ou marcas com passagem rápida pelo País, será mais difícil achar componentes, inclusive no mercado paralelo. Para gastar menos, veja a existência de oficinas preparadas para fazer reparos em seu carro, caso ele já esteja fora da garantia. “Em alguns modelos, o serviço depende de equipamentos eletrônicos que não se encontram com facilidade”, alerta Scopino.
Seguro. Verifique como o carro será recebido pelas seguradoras. Várias não aceitam importados muito antigos, caros ou exclusivos, por causa da dificuldade em fazer reparos em caso de sinistro. “Renovar apólice não é tão difícil. Mas, para um seguro novo, o interessado só consegue se já for cliente antigo e com boa pontuação na seguradora”, diz o corretor Roustaing Guimarães.
Outros proprietários. Fóruns na internet e clubes são ótimos para troca de informações, tanto sobre pontos fracos do modelo desejado (consumo elevado, por exemplo) como sobre mão de obra de confiança.
Plano B. Leve em conta que você poderá ter de importar algumas peças e, nesse caso, o carro ficará parado na oficina mais tempo do que você gostaria – às vezes, por meses. Se a sua ideia for usar o importado no dia a dia, qual será seu plano B de mobilidade quando ele apresentar problemas?
Parentesco mecânico. Modelos de marcas diferentes às vezes compartilham a base mecânica. Isso amplia as possibilidades na hora de buscar peças. “Os jipinhos XC60 e Evoque usam o mesmo motor do sedã Fusion. Fui buscar uma bomba d’água para um Evoque e a mesma peça custava R$ 2 mil na Land Rover, R$ 1.500 na Volvo e R$ 500 na Ford”, diz Scopino.
Avaliação. Como em qualquer compra de usado, faça uma avaliação cuidadosa do estado de conservação do carro, de preferência com um mecânico que conheça a marca.
Conheça seus direitos
Garantia. Adquirir o veículo de uma loja dá maior segurança, pois configura relação de consumo e o comprador tem direito a garantia, o que não ocorre em transações entre pessoas físicas. Mesmo após o fim da cobertura de fábrica, o usado tem garantia legal de três meses. Essa garantia é responsabilidade da loja e integral, ou seja, abrange todos os componentes. “Os reparos deverão ser feitos em até 30 dias”, frisa a assessora técnica do Procon-SP Fátima Lemos. “Após o prazo, o consumidor tem o direito a desfazer a compra ou trocar o usado por outro de valor similar.”
Peças. A lei obriga o fabricante a manter o mercado abastecido com peças de todos os seus produtos ainda em linha. “Se a produção foi descontinuada, a montadora deve garantir a oferta de componentes por um período razoável – no mínimo, durante o tempo de vida útil do produto”, diz Fátima. Isso não muda se o veículo foi feito no exterior. “A fabricante tem o ônus e o bônus de explorar o mercado: se exporta a um país, tem de atender os consumidores dali. Em caso de falta de peças, o representante da marca responde pelos prejuízos dos clientes.”