Crianças não têm medo de sonhar e não desistem facilmente do que querem. Foi graças à insistência do pequeno Arthur, de 8 anos, que Zelda, uma Volkswagen Kombi de 1975, acabou entrando para a família da bancária Andrea Padovan.
“Em 2011, meu compadre foi nos buscar no aeroporto com uma Kombi. Meu filho, então com 3 anos, sentou no banco da frente, ficou maravilhado e disse que queria ter uma. Mas não demos muita importância.”
O compadre trabalhava em uma oficina de restauração e tinha cinco Kombis. Cinco anos depois, ele usou uma delas para levar Arthur à festa que Andrea e o marido Flávio organizaram pelo seu oitavo aniversário. “Depois da festa, perguntamos do que ele havia gostado mais e ele respondeu: andar de Kombi.”
Vendo a fascinação do garoto, o compadre ofereceu a van VW a seus pais, que acabaram fechando negócio. O nome Zelda, escolhido por Arthur, veio de um personagem de videogame e também homenageia a avó materna do menino, Zenilda.
Zelda havia sido o veículo de trabalho de um feirante por muitos anos e tinha vários pontos de ferrugem. Durante a restauração, que levou um ano e foi concluída em abril de 2017, a carroceria e o estofamento foram recuperados.
O antigo motor 1.5 deu lugar a um 1.6 com carburação dupla. “Queríamos deixar o carro original, mas com uma estética californiana. A suspensão é rebaixada, mas sem ser ‘socada’ no chão”, explica Andrea.
Os detalhes da customização surgiram aos poucos. O painel foi enfeitado com uma garrafinha com flores e uma boneca havaiana. “Gostamos muito de viajar para os EUA. Meu marido surfa e anda de skate, a gente vive nesse mundo.”
A mala vermelha no rack do teto foi garimpada na internet e tem significado especial. “Foi com uma peça igual a essa que meu pai veio de Crato, no Ceará, para São Paulo”, diz Andrea.
Senhora.
A dirigibilidade peculiar da van e exige certo malabarismo do motorista. “Como as luzes de seta e os retrovisores são pequenos, ponho a mão para fora ao mudar de faixa e, antes de entrar em uma via, tenho de girar meu tronco”, conta Andrea. “Isso virou um cacoete que eu e o Flávio acabamos reproduzindo mesmo quando dirigimos nosso Honda Fit.”
Em julho, a família rodou mais de 1.500 km com a Kombi em uma viagem de férias por Minas Gerais. A bancária sonha em levar Zelda até os EUA, mas reconhece que a idade avançada traz muitas limitações a essa adorável “senhora”.
“Ela não passa de 80 km/h e precisa fazer várias paradas pelo caminho. Em subidas, fica fraquinha. Em descidas, os freios a lona superaquecem e perdem a eficácia; por isso, ao menor cheiro de queimado, temos de parar até as lonas esfriarem.”
Na capital paulista, Zelda tem uma vida social movimentada. “Ela sai da garagem na sexta-feira e só retorna na noite de domingo”, diz Andrea, que toma alguns cuidados. “Só vamos a restaurantes em que possamos estacioná-la na porta. Em shoppings, desligamos o cachimbo para evitar furto.”
Por onde passa, a van provoca saudade em quem já usou uma Kombi no trabalho, em viagens ou para fazer mudanças. “Eu me emociono com a emoção das pessoas”, conta Andrea. “Teve um senhor que pediu para sentar ao volante da Zelda, começou a chorar e disse: ‘Vocês não sabem o bem que me fizeram, pude reviver a minha infância’”.
A Kombi tem perfis em redes sociais como Facebook e Instagram, nas quais já é bastante conhecida. “Muitos veem fotos e a identificam. Até criamos uma hashtag para a Zelda.” Não tão agradável é o assédio de interessados em revender a Kombi para colecionadores de outros países. “Vira e mexe, somos abordados. Logo aviso que o carro é do meu filho e não está à venda.”