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Carros franceses não vingam, a não ser que sejam romenos ou indianos

Estratégia comercial da Renault se mostrou mais acertada que a da Peugeot e Citroën no País e afastou dela a má fama do carro francês por aqui

Diego Ortiz

20 de set, 2017 · 6 minutos de leitura.

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Dacia Sandero 2009
Crédito: Crédito: Dacia

Os carros franceses têm uma fama estranha no Brasil. Um passado de pós-venda atrapalhado, peças raras e caras e uma certa fragilidade causaram um dano que até hoje Peugeot e Citroën não conserguiram reverter, mesmo trabalhando muito e bem para isso.

Mas e se o carro francês for romeno ou indiano? Ahh, aí o brasileiro compra e não é pouco. A afirmação que parece não fazer sentido é o pilar comercial da Renault no Brasil. Sandero e Logan, da romena Dacia, e o Kwid, feito pela divisão indiana da marca, vão muito bem, conquistando números que a PSA não consegue com todos os seus carros juntos.

É muito estranho constatar, portanto, como houve essa incrível dissociação dos carros franceses de um lado e da francesa Renault da outra. Ter feito uma fábrica no Brasil no longínquo ano de 1999 pode ter ajudado a marca, mas na minha opinião, os fatores foram outros, muito mais estratégicos do que qualquer outras coisa.

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Primeiro citarei os pontos positivos da Renault e depois os que acho que foram os vacilos da PSA. O Clio chegou ao País com a imagem de ser um carro robusto, bem equipado e barato. Mesmo não sendo um primor de design, fator decisivo de compra por aqui, o modelo conseguiu seu lugar por oferecer mais por quase o mesmo preço dos concorrentes.

Depois houve o grande acerto chamado Scenic, o carro da família brasileira fim dos anos noventa e início dos dois mil. A Scenic funcionava, para as mulheres, como os SUVs são hoje. Tinha posição de pilotagem mais altinha, era espaçosa, cheia de porta-objetos, um sonho.

No meio do caminho houve um certo período mais nebuloso, com Megane e cia, mas logo depois a marca voltou às origens de oferecer mais por quase o mesmo e lançou Sandero e Logan. Eles tinham espaço interno e porta-malas, em especial o sedã, que nenhum concorrente direto sequer sonhou. Mais uma vez eles não tinham design, mas iam certeiros no desejo do brasileiro de comprar carro por metro. E agora há o Kwid, o carro mais barato do Brasil (tirando o Chery QQ que ninguém compra mesmo). O SUV dos compactos, uma corajosa inversão de valores, já que ele oferece design, mas não espaço. Mas ele é barato. E barato sempre vende!


Agora vamos à PSA. Tanto Peugeot quanto Citroën tiveram seus momentos de brilho e desperdiçaram todos. A Peugeot possuiu uma joia rara nas mãos chamada 206. O carro era um primor de produto: bonito, com espaço adequado, desempenho bacana, preço bom… E vendeu, vendeu muito. Aí vai a marca e me lança o 207. Só que ele não era o 207. Era uma reestilização leve do 206, que comparada ao 207 europeu parecia uma gambiarra. A imprensa especializada apelidou o carro de duzentos e seis e meio e o consumidor se sentiu enganado. Junta-se a isso o pós-venda ainda problemático citado no início e temos uma fórmula difícil de fazer sucesso e que afetou a fabricante até hoje.

No lado da Citroën, um Picasso. A monovolume era o sonho de consumo dos casais de classe média com mais de dois filhos. Era moderno, estiloso, bem equipado e dava para levar a casa toda nele. Mas ele foi ficando velho, foi perdendo o interesse junto ao consumidor ao lado de todo o segmento dos monovolumes e, por fim, foi extinto pelas leis de emissões em 2012.

Fica mais fácil falar hoje o que poderia ter sido feito? Claro que fica, ainda mais de fora dos meandros de custos e investimentos que só as fabricantes sabem. Mas se a Citroën tivesse visto o sucesso do Ford EcoSport e transformado o Picasso por fora num SUV a história poderia ter sido bastante diferente. E só para esclarecer, não, eu não teria comprado um SUV do Picasso. Mas adoro o novo C4 Picasso e amo o 208 e o 3008. Quem não conhece um destes carros, deveria.


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