João Vieira é taxista no aeroporto de Guarulhos. Nunca foi caminhoneiro, mas sempre cultivou o sonho de ter um Ford F-600 para reviver os tempos em que o pai transportava chuchu produzido na propriedade da família, na zona norte de São Paulo. A intensa procura terminou quando encontrou, em anúncio na internet, um exemplar bege, fabricado em 1959, e que – coincidência ou não – serviu durante décadas a um produtor de verduras. O caminhão passou pelas mãos de um advogado que não se animou a restaurá-lo e o colocou à venda. “Quando vi que o caminhão estava íntegro e bem alinhado, fechei negócio. Sou o terceiro dono”, orgulha-se.
Bom gosto, dedicação e capricho nos detalhes da restauração resultaram em um veículo que preserva as características originais, mas traz alguns toques de personalização e segurança, como forração interna com carpete, cintos de segurança de três pontos, cromados em profusão, para-brisa degradê feito sob encomenda, pisca-alerta, buzinas acionadas por ar comprimido, duplas lanternas traseiras e, o
toque final da personalização, uma placa preta decorativa com a inscrição “Ford F 600 V8 272-59”.
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Comprado em janeiro de 2014, o caminhão ficou guardado, intacto, durante um ano. Nesse período, Vieira foi atrás das peças que faltavam ou que teria de trocar. Terminada a garimpagem, levou o F-600 para a chácara de um amigo e iniciou o restauro. O trabalho de desmontagem, funilaria, pintura e remontagem, feito com a ajuda de um profissional, consumiu dois anos, e o resultado é que se vê nas fotos.
Por dentro, o Ford conserva a simplicidade do painel de aço pintado na cor do veículo, volante e botões originais pretos. O teto é forrado de branco. Os painéis das portas também são vermelhos. O velocímetro marca 140 km/h. No mesmo nicho estão algumas luzes-espia e marcador de combustível. E só. Tudo simples e funcional, como convinha a um veículo de serviço. O pomo da alavanca de câmbio tem a marca Ford.
A cor escolhida para a carroceria foi o Vermelho Flash 2, com teto Branco Diamante. A caçamba, nova, de madeira, segue as mesmas tonalidades e tem grafismos pintados a mão. As rodas são pretas, originais, de 20 polegadas, calçadas com raros pneus originais na medida 8.25. Os cromados estão por toda parte: no cofre do motor, nos estribos, nos dois jogos de buzina, com cinco cornetas (duas sobre o teto, três junto ao motor), nos retrovisores externos de época, no suporte de placa, nos faróis de longa distância, no símbolo V8…
O V8, por sinal, não é apenas um adorno de época. Ele simboliza o motor 272 de oito cilindros em V, 4,5 litros e 171 vc, movido a gasolina, o mesmo que equipava o Galaxie 500 e que garante um rodar confortável nos passeios de Vieira. Confortável até certo ponto: o Ford F-600 não tem direção hidráulica e, como só roda com a traseira leve, o esforço é grande. “Quando está parado, parece um toco de tão dura a
direção”, diverte-se o taxista de 53 anos. “Depois que ele sai do lugar, fica uma beleza.”
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