O engenheiro químico aposentado Jorge La Porta é um homem de relacionamentos longos. Ele mantém na garagem um sedã Mercury, uma van Veraneio e uma perua Caravan há 27 anos, e um hatch Passat há 37 anos. A história com o Plymouth Special Deluxe 1949 desta reportagem é mais recente: começou há oito anos. Mas não deve terminar tão cedo. “Sou um cara que tem dificuldade em vender os carros”, reconhece.
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A relíquia foi encontrada pelo veterinário que vacina os cães de La Porta em Miguel Pereira, na serra fluminense, em 2010. Ele comprou o veículo, que estava muito deteriorado após décadas de abandono. Um ano depois, os dois se reencontraram e, como o veterinário não havia dado início ao plano de reformar o Plymouth, o aposentado acabou ficando com o carro.
A partir daí, foram sete anos de restauração, dividida em três etapas. Primeiro, a parte mecânica foi refeita em Miguel Pereira. Em 2014, o carro foi levado para a capital paulista, para os serviços de funilaria e pintura.
No ano seguinte, o aposentado passou a cuidar ele próprio da montagem. Isso incluiu recuperar a máxima quantidade possível de peças de acabamento, como as lanternas de plástico. “Você olha e acha que são peças novas. Procurei aproveitar tudo. Só desprezei um para-sol que estava condenado – e com muita tristeza”.
Ele poderia ter recorrido a oficinas especializadas e, com isso, concluído a restauração em menos tempo – o carro só ficou pronto no final de 2017. Mas, além de fugir dos custos elevados, ele diz que preferiu manter o total controle do processo, mesmo com as eventuais dificuldades do caminho, que não o fizeram desanimar.
“Com paciência, consegui resolver todos os problemas pendentes, e usando só as peças do próprio carro. Não pode ter pressa. A única coisa que não tem jeito é a morte. Aprendi isso com o Plymouth”, ele filosofa.
Setentão, Plymouth exige certos rituais
Antes de cada passeio com o carro, é preciso cumprir alguns rituais. La Porta confere a calibragem dos pneus e checa se há vazamento de óleo além do trivial. Depois, completa o reservatório do radiador com um litro de água – medida fundamental para evitar que o motor superaqueça em engarrafamentos. Por fim, dá a partida no motor, sempre atento a barulhos fora do normal.
São cuidados necessários para garantir que esse setentão continue cumprindo sua função sem sustos. O dono garante que o Plymouth ainda tem muita lenha para queimar.
“Ele é confortável, tem mecânica simples e confiável e uma suspensão boa para a época dele. Tem tudo o que um modelo moderno tem, só que com tecnologia de 1949”, relativiza. “O motor de seis cilindros e 3,6 litros cravou 6,5 km/l de gasolina na Rodovia Castello Branco. É uma média de consumo que muitos motorzões mais novos não conseguem.”
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Ao contrário do que se pode imaginar, a manutenção do Plymouth é relativamente fácil e barata. La Porta diz que obtém peças mecânicas nos Estados Unidos e adapta itens de acabamento. “Instalei um limpador de para-brisa elétrico nele e gastei apenas R$ 300. Já um retrovisor sai de US$ 100 para baixo. É muito menos que o preço da peça para o Ford Fusion, meu carro de uso diário”, ele pondera.
Modelo não é dos mais assediados
Na rua, o Plymouth invariavelmente chama a atenção. Mas são poucos os que sabem de que modelo se trata. “Muitos disparam: ‘que Chevrolet bonito!’. Outros dizem ‘meu avô teve um carro desses’. E eu respondo: ‘pô, você está me chamando de velho?!’, em tom de brincadeira”, conta o engenheiro.
Já as abordagens com propostas de compra, que donos de certos modelos antigos ouvem com frequência, não acontecem no caso do Plymouth. La Porta arrisca uma explicação.
“O que leva uma pessoa a querer comprar um antigo é a memória. Hoje a procura é por Opala, Passat, modelos que marcaram a infância da molecada. Os caras da minha idade, na faixa dos 60 anos, já têm seus carros. Um dia eles vão partir, e esses carros vão terminar em leilões ou museus, porque são modelos que não têm liquidez no mercado”, acredita.