Brasil e Estados Unidos estão costurando um acordo comercial que poderá aumentar a importação de etanol norte-americano para cá. Entre outros produtos, o combustível poderá ter a taxa de importação zerada e o Brasil passaria a ajudar o excedente da produção do biocombustível nos Estados Unidos.
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No entanto, o combustível produzido no país governado por Donald Trump tem origem diferente do que consumimos aqui desde os anos 1970. Feito a partir do milho, o combustível americano tem processo produtivo mais complexo e caro do que o brasileiro, feito da cana de açúcar.
Só que na prática, o produto final é exatamente o mesmo. “Depois da fermentação, a origem não faz diferença”, explica o responsável pela Comissão de Tendências Tecnológicas da AEA, Everton Silva. Segundo o engenheiro, as propriedades químicas dos dois produtos são as mesmas, e nenhuma diferença deve ser sentida pelos motoristas em carros com motor flexível.
“Além disso, a ANP tem especificações muito definidas para permitir a venda de etanol no País”, explica Silva. Qualquer combustível para ser vendido no Brasil precisa estar dentro das especificações.
Processo produtivo
As principais diferenças entre o etanol de milho e de cana estão na forma de produção. O etanol da cana é mais fácil de ser extraído, já que o etanol é um subproduto do açúcar. Em até 11 horas de fermentação, o melaço de açúcar fermenta e se transforma em etanol.
No entanto, a cana tem menos açúcar do que o milho, e uma tonelada da comodity brasileira produz apenas 89,5 litros de etanol. Já uma tonela de milho pode produzir até 407 litros de etanol. A diferença é que o amido de milho precisa ser transformado quimicamente em açúcar, o que dá mais trabalho. Por isso, o processo de fermentação pode levar até 70 horas.
A vantagem da cana é que a produtividade ainda é maior. Um hectare consegue render até 90 toneladas de cana, suficientes para produzir até 8 mil litros de etanol. Já o milho rende no máximo 20 toneladas por hectare, que podem se transformar em 3.500 litros de etanol.
Com todos esses fatores jogados numa balança, a produção do etanol de milho ainda é ligeiramente mais cara. No entanto, o engenheiro da AEA Everton Silva não acredita que possa haver variação no preço com um eventual aumento da participação do etanol americano. “Os volumes precisariam ser muito altos e a produção de etanol no Brasil vem atingindo níveis elevados de rentabilidade”, explica.
Índia
A Índia, que recentemente ultrapassou o Brasil e se tornou o maior produtor de açúcar do mundo, deverá permitir que as próprias usinas produzam etanol combustível. Com isso, a gasolina indiana deverá ter maior percentual de etanol na mistura, como ocorre aqui.
A solução servirá para dar vazão aos recordes de estoque de açúcar que a Índia vem acumulando. A produção será feita a partir do açúcar pronto, que será dissolvido e transformado em xarope. O processo é diferente da fermentação, que também é feita na Índia e o principal modelo no Brasil e Estados Unidos.
Os estoques elevados estão reduzindo o preço do açúcar, diminuindo a receita das usinas indianas. Segundo informações do portal local especializado Sugar News, apenas o estado de Maharashtra deverá ter 5 milhões de toneladas de açúcar excedente até o fim de setembro, o dobro do consumo, incluindo exportações.
O governo indiano vem tentando medidas para neutralizar o excesso de açúcar, com subsídios à exportação, mas não tem sido suficiente para controlar os preços do produto. A conversão para combustível será mais uma tentativa.