Antes dos anos 1.900, os automóveis eram completamente abertos. Então, os primeiros motoristas logo começaram a reclamar da poeira e do vento excessivos. E foi assim que nasceu o conceito de cabine, com para-brisa e janelas laterais; a traseira e o teto já eram cobertos em alguns poucos modelos. Problema resolvido, problema criado: especialmente em dias quentes, era praticamente impossível passar algumas horas dentro de um carro.
Simultaneamente, as grandes indústrias gráficas dos Estados Unidos começavam a adquirir os primeiros aparelhos de ar-condicionado do norte-americano Willis Carrier. Mas, neste caso, não havia qualquer relação com o conforto dos empregados. Acontece que o papel tem a higroscopicidade (capacidade de absorver água) como uma de suas características. Isso comprometia o resultado final de materiais cujas diferentes cores eram impressas em dias distintos, portanto, com umidade relativa do ar também distintas.
Carro e ar-condicionado: o começo
Apesar de terem sido criados na mesma época e de transformarem a vida de muita gente, o ar-condicionado e o automóvel só foram se casar muito tempo depois, no final de 1939. Dessa união veio o Packard 180 (One-Eighty), vendido como sendo o primeiro da história com ar-condicionado de fábrica. A frase “Refrescado por refrigeração mecânica no verão”, obviamente, tinha destaque na propaganda.
Era um conjunto gigantesco, com um enorme compressor e uma colmeia condensadora na dianteira, no cofre do motor. No porta-malas, uma central térmica, com um aquecedor, um ventilador e um conjunto de bobinas resfriadoras. Tubulações no assoalho faziam a comunicação entre dianteira e traseira e entre a traseira e o painel do carro.
Muito rudimentar, o sistema do One-Eighty funcionava melhor na teoria do que na prática. A impossibilidade de controlar o fluxo de ar era o seu maior problema. Isso levava alguns proprietários a desligarem o motor, descer e soltar a correia do compressor manualmente nos dias em que o calor pedia uma refrigeração apenas moderada. Assim, as vendas logo caíram e já em 1942, o equipamento deixou de ser oferecido.
Onze anos mais tarde, também nos Estados Unidos, a Chrysler apresentava o Airtemp. Era um kit de ar-condicionado muito parecido, com o do One-Eighty, mas que apostava suas fichas nas fraquezas do rival. O Imperial, modelo da Chrysler equipado com o Airtemp, tinha um botão no painel que controlava a velocidade do ventilador em três níveis: baixo, médio e alto. Amenizava o problema, mas não o eliminava, já que não atuava no compressor.
Evolução do sistema nos carros
Coube ao Nash Ambassador 1954 a honra de ser o primeiro modelo a contar com um conjunto de ar-condicionado inteligente – e conceitualmente muito próximo dos modelos utilizados ainda hoje. Compacto, o sistema era todo montado na dianteira e contava com um compressor dotado de embreagem elétrica e comandos no painel que ajustavam não apenas a intensidade do ar insuflado na cabine pelo ventilador como o liga e desliga do compressor.
Este sistema foi criado para se enquadrar ao slogan do fundador da empresa, Charles Nash, que dizia: “Entregue ao cliente mais do que ele pagou”. E, de fato, o sistema All-Weather Eye (algo como De Olho em Todos os Climas) proporcionava uma experiência de uso muito mais agradável do que aqueles oferecidos pela concorrência, de baixa eficiência, pesados, grandes e caros. Tanto que foi o All-Weather Eye que definiu o novo padrão do equipamento desde então, tornando-se o verdadeiro responsável pela popularização do ar-condicionado automotivo.
Ar-condicionado: o presente e o futuro do sistema
No Brasil, o primeiro carro com ar-condicionado foi um Aero-Willys Itamarty Executivo. O modelo, destinado a transportar autoridades políticas, celebridades e membros da alta classe foi também a primeira limusine nacional.
Dentre as funcionalidades que foram sendo incorporadas ao longo do tempo, destaca-se o ajuste automático de temperatura, que pode ser feito (escalonado a cada 0,5 ºC ou 1 ºC) por meio de um ou mais sensores (de massa corpórea, temperatura e de ângulo de incidência da luz solar) e de maneira conjunta ou em múltiplas zonas.
A evolução mais recente ocorreu em função da pandemia da Covid-19. Em março, a marca chinesa Geely apresentou o seu SUV médio Icon, com o apelo de ser, segundo a fábrica, o primeiro modelo capaz de barrar a entrada do novo coronavírus. A proteção ocorre por conta da adoção de um filtro de cabine que atende ao protocolo N95, o mesmo aplicado nas máscaras utilizadas por profissionais da saúde.