A gasolina brasileira segue novas especificações de produção desde o início da semana. A principal vantagem é o ganho de eficiência. Com ela, é possível rodar mais quilômetros com um litro. Havia um receio por parte dos consumidores de que com essa melhora o preço também ficasse maior na hora de abastecer. A boa notícia é que isso não deverá ser visto na prática.
A novidade aproxima a gasolina brasileira do padrão vendido em mercados como Europa e Estados Unidos. As especificações foram definidas em janeiro pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). As mudanças da Resolução nº 807/2020 valem para os tipos comum e Premium.
A ANP não regula, comenta ou faz projeções sobre preços – eles são livres desde 2002. O valor do combustível é definido pela cotação no mercado internacional e outras variáveis, como valor do barril do petróleo, frete e câmbio. Ainda assim, fica a cargo dos distribuidoras e revendedores bater o martelo sobre o preço final praticado.
Com base nisso, o Jornal do Carro consultou oito postos na capital paulista, nas Zonas Leste, Sul e Oeste, e nenhum deles estava praticando aumento de preços até o momento. A média de preços entre os estabelecimentos é de R$ 3,72 o litro de gasolina, a mesma da semana passada.
De acordo com José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do estado de São Paulo (Sincopetro), não houve alta. “O petróleo é o mesmo. O procedimento de fabricação da gasolina é o mesmo. Então, não há motivo para aumentar o preço dos combustíveis. Ainda assim, caso esse reajuste aconteça e fique abaixo dos 5%, ainda será vantajoso”, aponta.
Wagner de Souza, presidente do Sindicato dos Postos de Combustíveis do ABC (Regran), esclarece que os estabelecimentos da região estão recebendo a nova gasolina, desde segunda-feira, sem qualquer aumento de preço. “Trata-se apenas de uma modificação no processo produtivo (da gasolina). É justo que o consumidor continue pagando o mesmo preço por um produto de melhor qualidade.”
Na última sexta-feira (31), inclusive, houve um movimento reverso, e a Petrobras reduziu em 4% o valor do litro. Caso essa alta aconteça no futuro, mas fique abaixo dos 6%, especialistas são enfáticos ao dizer que o consumidor continua tendo vantagem. Para Alan Ávila, diretor de produto da ValeCard, “dentro dessa margem, o ganho com os benefícios da nova gasolina superariam o gasto extra.”
Entenda a porcentagem
“Ao volante, além de rendimento extra do carro, há possibilidade de redução no consumo de gasolina por quilômetro rodado em até 6%”, explica o engenheiro e especialista em desenvolvimento de novos produtos da Petrobras, Rogério Gonçalves. No mais, potência extra, autonomia ampliada, retomada de velocidade melhorada e até a preservação do motor são os principais pontos que o consumidor poderá notar quando abastecer com a nova gasolina.
De acordo com o especialista, essa melhora varia de veículo para veículo. “Quanto mais novo (o carro), mais se identifica esse ganho. Soluções como injeção direta, turboalimentação, entre outras inovações dos modelos atuais aproveitam melhor esse tipo de gasolina”, esclarece Gonçalves.
Os veículos mais antigos, que usam carburador, também serão beneficiados com a maior densidade da nova gasolina brasileira. Porém, pouco com a octanagem ampliada, pois têm baixa taxa de compressão. Octanagem é o número de octanas que a gasolina pode ter. Quanto mais octanas, mais poderosa ela é em resistência de detonação dentro de motor e gera mais desempenho.
Especificações
Primeiramente, o que muda na nova gasolina é a densidade, cujo valor mínimo exigido passa para 715 kg/m³. Quanto maior, mais alto é o conteúdo energético. Em resumo, o carro consome menos para rodar um quilômetro, resultando em mais economia. Até então, não havia controle do governo sobre esse índice.
Houve também mudança na octanagem. Aliás, o Brasil passa a adotar o padrão de medição RON (Research Octane Number), como na Europa. Agora, a gasolina local passa a ser classificada com no mínimo 92 RON – são 97 RON na Premium. E, a partir de 1º de janeiro de 2022, o tipo comum passa ao mínimo de 93 RON. Isso deixa a gasolina mais resistente e eficiente.
Para completar, mudanças foram realizadas também na temperatura de destilação da gasolina em 50% (T50), que não deve ser inferior a 77 graus. Na prática, os parâmetros de destilação afetam questões como desempenho e aquecimento do motor, e dirigibilidade.
Adulteração
Um dos principais medos do consumidor brasileiro, devido ao alto índice de casos praticados no País, é a adulteração. Porém, de acordo com Gonçalves, não será tão fácil. “Existem vários tipos de adulteração (como adição de solventes e álcool), mas com a possibilidade de monitoramento e controle da densidade da gasolina, a ANP terá mais facilidade de fiscalização”, diz. É nesse ponto que a fraude poderá ser descoberta.
Caso o cliente desconfie da densidade da gasolina, a orientação é pedir o teste com o densímetro ao respectivo posto – que é obrigado a fazê-lo. Caso a dúvida persista, é possível solicitar, também, a demonstração da proporção de etanol na gasolina. A quantidade não pode superar os 27%. São 25% na Premium.
Portanto, se o estabelecimento tiver aumentado o volume de etanol para chegar na densidade mínima, a farsa será revelada.
Segundo a Resolução nº 807/2020, da ANP, a gasolina velha (com as especificações antigas) tem o prazo máximo de 90 dias para sumir do mapa. Ou seja, até o dia 3 de novembro, todos os postos de combustíveis do Brasil devem acabar com os estoques. Para as distribuidoras, o prazo cai para 60 dias.