O decreto do carro popular foi publicado há apenas uma semana, no dia 6 de junho. Mas várias montadoras anunciaram imediatamente novas tabelas de preços para modelos de até R$ 120 mil. E o mercado respondeu rápido aos incentivos fiscais do Governo Federal. Segundo a Fenabrave, federação que reúne as associações de concessionárias no País, a procura por veículos 0-km triplicou nos últimos sete dias, mesmo com o feriado de Corpus Christi.
Segundo o presidente, José Maurício Andreta Júnior, houve um aumento de 30% até 260% nas mais de 7.000 concessionárias de veículos da federação. “Os números comprovam o acerto das medidas tomadas pelo Governo Federal para o carro popular. Estamos conseguindo atender o consumidor que perdeu o poder aquisitivo e, com os descontos, voltou a comprar um automóvel 0-km”, declarou Andreta Júnior em entrevista ao canal Globo News.
Ainda de acordo com o presidente da Fenabrave, um detalhe chamou a atenção: grande parte das pessoas foram atrás das versões mais baratas, os chamados carros de entrada. Entre eles, por exemplo, Fiat Mobi e Renault Kwid, modelos mais baratos à venda no Brasil. Ambos tiveram os preços reduzidos em R$ 10.000, com bônus extra das marcas, e, assim, baixaram a tabela para R$ 58.990. No decreto, os descontos vão de R$ 2.000 até R$ 8.000.
Carro popular pode durar dois meses (ou menos)
Passe de mágica? De um dia para o outro, vários carros baixaram de preço. Até os SUVs ganharam descontos generosos. Mas não foi ao acaso. Estes modelos respondem atualmente por quase a metade das vendas de veículos novos. Por isso, algumas marcas aproveitaram o momento para reaquecer produtos em baixa. É o caso do Jeep Renegade, que teve um corte de R$ 19.000 na versão Sport 1.3 turbo flex, que caiu de R$ 134.990 para R$ 115.990.
“Com o limite de R$ 120 mil, o desconto pelo governo é menor, mas as fabricantes estão trabalhando para encaixar os produtos nesse filão. Todo mundo que tem carro de volume está se posicionando abaixo de R$ 120 mil. E, assim, algumas marcas tentam aproveitar esse movimento de melhoria do mercado. Não tem como desconsiderar uma medida positiva do governo”, explica Milad Kalume Neto, diretor de negócios da JATO Dynamics do Brasil.
Entretanto, a má notícia é que a medida provisória pode não durar muito. Segundo Kalume Neto, a expectativa é que os descontos durem no máximo dois meses, dado o baixo valor empenhado pelo governo para os automóveis. “Se fizer uma conta simples, e dividir R$ 500 milhões (que é o teto para automóveis) por R$ 8.000 (desconto máximo sugerido pelo governo), teremos 62.500 carros beneficiados. Então, projetamos entre 50 mil a 70 mil veículos a mais com os descontos do carro popular. Vai esgotar em dois meses. O que é pouco, realmente”, pontua o especialista.
Bancos ainda não liberaram crédito
Mas, na visão da Jato Dynamics do Brasil, ainda há um desafio que envolve o crédito no mercado. “O governo estava esperando que, em quatro meses, os juros, no médio prazo, baixariam. E que o mercado, por si só, conseguiria andar por meios próprios. Mas há as instituições financeiras, que ainda não liberaram o crédito. Como os veículos encareceram muito, o valor das parcelas continua alto, assim como os juros. Ou seja, há limitações de crédito”, completa Milad Neto.
Sobre a ampliação do prazo de duração da medida, o diretor da Jato Dynamics se mostra cético. “Com relação à medida provisória, que tem duração prevista de quatro meses, é possível estender por mais outro período. Contudo, o Fernando Haddad (ministro da Fazenda) está batendo muito na tecla de que existe essa limitação de recursos”, pontua Milad Neto.
Como funciona o pacote do carro popular?
O Governo Federal publicou no início do mês a Medida Provisória 1.175, que estabeleceu o decreto do carro popular. Assim, foram concedidos descontos entre R$ 2.000 e R$ 8.000 para os veículos com preço de até R$ 120 mil. Da mesma forma, caminhões, ônibus e comerciais foram incluídos no pacote. Porém, existe um teto de R$ 1,5 bilhão para os descontos. Ou seja, assim que atingir o limite, o plano se encerra e os preços voltarão aos patamares anteriores.
Entre os pré-requisitos para a aplicação dos descontos estão, por exemplo, eficiência energética, densidade industrial e preço dentro do limite definido no decreto. Para fazer o plano funcionar, o governo precisou dar uma alternativa para cobrir os recursos. Dessa forma, a decisão foi antecipar a reoneração do ICMS no diesel, que terá um reajuste de R$ 0,11 por litro nos próximos meses – dentro do prazo de 90 dias do anúncio até a cobrança.
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