A primeira experiência do arquiteto urbanista Rogério Markiewicz com carro elétrico aconteceu por causa de um certo sentimento de culpa. Em 2015, ele estava em constante contato com prédios sustentáveis e os clientes também já exigiam nos projetos soluções mais amigáveis ao meio ambiente.
“Acompanhava tudo isso à minha volta e comecei a me questionar o que eu estava fazendo em prol da sustentabilidade”, lembra Markiewicz. Como sempre gostou de dirigir, ele resolveu, então, comprar o BMW i3 ano 2016, o primeiro veículo elétrico do tipo plug-in vendido no Brasil.
“Quase minha mulher pediu o divórcio”, diverte-se. Afinal, ninguém conhecia bem os automóveis movidos a baterias, uma novidade no País. Infraestrutura de recarga, então, era praticamente inexistente.
O curioso é que Markiewicz mantinha na garagem um modelo com motor V8, que gastava muito combustível e provocava mais emissões de poluentes. Ele diz, porém, que a compra foi responsável por um casamento ideal. “O automóvel elétrico mudou totalmente meu pensamento sobre a mobilidade urbana e a sustentabilidade”, conta.
Sua primeira preocupação logo apareceu: onde recarregar a bateria do carro. “Moro em Brasília e, na época, só havia um ponto de carregamento dentro de um supermercado”, afirma. Markiewicz passou um mês tomando café da manhã no estabelecimento até entender que não precisava fazer a recarga todos os dias.
“Além disso, convenci o síndico do prédio onde moro a instalar uma tomada na minha vaga de garagem”, diz. O BMW i3 entregava autonomia de 160 quilômetros e tinha uma espécie de gerador a gasolina, que aumentava o alcance em mais 100 quilômetros. “Passei a fazer a recarga três vezes por semana”, revela.
Nunca mais Markiewicz quis saber de carro poluente, com motor a combustão. Seu segundo modelo foi o Chevrolet Bolt, com autonomia de cerca de 400 quilômetros, que permitia percursos mais longos. No entanto, a infraestrutura continuava precária no Brasil.
“Em várias ocasiões, durante as viagens, eu jogava a extensão pela janela do quarto da pousada para carregar o carro na tomada da geladeira. Em caso de urgência, todo borracheiro tem uma tomada de 32 ampères, suficiente para a recarga”, destaca.
O bolso agradece
Ele recorda que há quase uma década as concessionárias não estavam preparadas para comercializar os automóveis elétricos. “Os vendedores não tinham as informações necessárias e, se eles pudessem mostrar ao cliente um carro, sempre preferiam o modelo a combustão”, salienta.
Como se a conscientização ambiental não bastasse, Markiewicz aprova a dirigibilidade do automóvel elétrico. Antes, precisou se acostumar com as diferenças: “Não há barulho e nem aquela tremedeira comum no volante, características que aumentam o conforto a bordo. Outra funcionalidade importante é a regeneração da bateria quando se tira o pé do acelerador de alguns modelos”.
Depois do Bolt, Markiewicz entrou para a linha da Volvo, com XC40, C40 e, atualmente, EX30. Sua filha também aderiu à tecnologia de propulsão 100% elétrica e tem um BYD Dolphin Mini. “De vez em quando ‘roubo’ o carro dela e custo a devolver. É muito bom de dirigir”, afirma. A esposa, que tinha resistência no início, possui o Volvo XC60 híbrido, embora só ande no modo elétrico.
Outra vantagem sentida pelo arquiteto está no bolso. A manutenção é bem mais barata devido ao número muito menor de peças e componentes. “Desde 2015, dirijo aproximadamente 40 mil quilômetros com cada carro elétrico que compro. Até hoje, a única despesa que tive foi com a compra de um filtro do ar-condicionado”, atesta.
Markiewicz já fez as contas. Na ponta do lápis, o quilômetro rodado de um carro com gasolina no tanque sai por 55 centavos, ao passo que o valor no elétrico cai para 12 centavos.
O arquiteto sabe, porém, que veículo elétrico ainda não é a escolha ideal para todo mundo. Com a vivência de quase 10 anos, ele faz algumas recomendações: “Em primeiro lugar, tenha sempre um ponto certo onde fazer a recarga, em casa ou no trabalho. Se não tiver, não compre. Se você viaja muito, pense bem. Talvez não seja o momento da compra. O carro é essencialmente urbano. E jamais se deixe levar pela empolgação na hora da escolha. Avalie bem os carros disponíveis no mercado e a confiabilidade da marca”.