Não é fácil construir a imagem de uma marca do zero, ainda mais em um país com dimensões continentais como o Brasil. Mas essa é a missão da chinesa Neta Auto, que começou a vender seus carros por aqui no fim do ano passado e começa agora seu trabalho de formiguinha para consolidar a empresa no País. E já com polêmicas no currículo, como o fato de seu compacto Aya ter zerado os testes de colisão do Asean NCAP, órgão que realiza testes de segurança em veículos disponíveis em países do sudeste asiático.
Deixando esses detalhes de lado, tivemos a oportunidade de rodar por uma curta viagem a bordo do Neta X, um SUV médio elétrico que já teve algumas poucas unidades vendidas em terras tupiniquins. É um dos modelos disponíveis no mercado brasileiro, assim como o Aya.
O próximo passo é iniciar as negociações para uma fábrica no Brasil, assim como as conterrâneas BYD e GWM, por exemplo. Ainda falta definir se será uma unidade construída do zero ou se a empresa firmará acordos com fabricantes locais. Mas esse passo indica que a marca aposta suas fichas no País. O que é uma boa notícia para quem quer se aventurar na compra de um carro ainda desconhecido.
A bordo do Neta X
Esse foi nosso segundo contato com o SUV elétrico – o primeiro aconteceu durante o Festival Interlagos no ano passado, quando a marca fez sua avant-premiére por aqui. Mas só foi possível dar uma volta rápida na pista, então não deu para ter uma ideia muito concreta sobre o seu desempenho. Já essa segunda experiência foi bem mais consistente, uma pequena viagem entre São Paulo e Bertioga, no litoral paulista, em um percurso de aproximadamente 230 km entre ida e volta.
Em termos de design, o X tem um estilo bem minimalista. Na dianteira, os faróis são divididos e o para-choque é liso, apenas com uma entrada de ar na parte inferior. Atrás, as lanternas de LEDs interligadas deixam o visual mais genérico. Chama a atenção na rua, talvez mais pelo ineditismo do que pela beleza. Não, não é um carro feio, nem de longe. Só não tem grandes arroubos de ousadia.
Por dentro
Já o interior segue o caminho contrário, ainda mais na unidade testada. Com acabamento meio caramelo, mas puxando para um tom alaranjado, não dá para negar que os materiais são de qualidade. Se as cores não agradarem, há opções mais discretas no catálogo, vale ressaltar. Couro macio com partes de suede se misturam a peças douradas com acabamento escovado e plásticos firmes e com bons encaixes.
Há uma pequena tela para o painel de instrumentos digital com as informações básicas para o motorista, já que os comandos principais se concentram na central multimídia, em uma grande tela de 15,6” com boa visualização e uso intuitivo. Aliás, boa parte dos controles do carro se concentram ali, como os ajustes dos espelhos retrovisores, como no Volvo EX30. Algo meio irritante para a minha geração, mas talvez seja uma questão de costume. Apesar de o modelo testado ter uma adaptação para aceitar Apple CarPlay e Android Auto, as unidades à venda já têm o espelhamento no sistema.
Dimensões, versões e equipamentos
Uma das características que mais impressionam no Neta X é seu generoso espaço interno. Suas medidas são um pouquinho maiores que as do BYD Yuan Plus. São 4,62 metros de comprimento, 1,86 m de largura, 1,63 m de altura e 2,77 m de entre-eixos – e aí que está seu grande trunfo. Isso se reflete em um conforto maior para quem viaja atrás, já que há espaço de sobra para as pernas. E com assoalho plano, como é característica dos elétricos. Como comparação com um carro a combustão, o Jeep Compass tem 2,63 m de distância entre os eixos, por exemplo. O porta-malas também tem bom volume de 508 litros.
Assim, o X é o SUV médio elétrico mais barato do mercado brasileiro atualmente. São três versões: 400, que custa R$ 194.900, 500, por R$ 204.900, e 500 Luxury (a que testamos), com preço de R$ 214.900. Desse modo, mesmo a versão de topo acaba sendo R$ 21 mil mais em conta que o Yuan Plus, que deve ser seu principal rival por conta das propostas similares. A diferença é que a BYD já tem uma projeção no País, enquanto a Neta ainda precisa comer muito arroz com feijão para se firmar por aqui.
A lista de equipamentos traz itens como faróis de LED com acionamento automático, seis airbags, carregador de celular por indução, controle de voz, câmera 360o e teto panorâmico. A configuração de topo é a única que recebe sistemas de assistência à condução. Há frenagem de emergência, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão frontal, assistente de permanência em faixa, monitor de ponto cego, reconhecimento de placas, entre outros.
Motor e desempenho
Sob o capô do SUV está um motor elétrico síncrono na dianteira – ou seja, a tração também é dianteira – que rende 163 cv e 21,4 mkgf. Sua bateria tem 64,1 kWh, assim como a 500. Isso garante uma autonomia de 317 km, de acordo com o Inmetro. Já a bateria da opção de entrada 400 tem 52,5 kWh e seu alcance chega a 258 km.
O desempenho não chega a impressionar. A aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 9,5 segundos e a velocidade máxima não passa de 150 km/h. Assim, apesar de mais barato, o X perde para o Yuan Plus em dados de performance. O BYD tem motor de 204 cv e 31,6 mkgf e chega aos 100 km/h em 7,3 segundos, além de atingir 160 km/h de máxima.
Impressões ao dirigir o Neta X
Começando da forma mais direta possível, o Neta X é um carro gostoso de dirigir, mas não tem nada que impressione. Ele é todo correto: suspensão bem ajustada, força e agilidade por conta do torque instantâneo e suavidade ao volante. Pegamos um trecho de bastante chuva na estrada durante o test-drive e deu para perceber que o carro é estável, mas não permite abusos. Em alguns trechos com aquaplanagem se manteve firme e com bom controle (o peso da bateria ajuda nesse equilíbrio), mas nas curvas com piso molhado é preciso aliviar o pé para evitar surpresas.
Quando o modo Sport é acionado, as coisas ficam mais interessantes. A aceleração é mais forte, como se o carro ganhasse um impulso extra. Mas a mudança mais significativa é no volante, que fica sensivelmente mais firme. Em trechos sinuosos chega a até endurecer demais, quase como se não tivesse assistência elétrica. É uma diferença considerável que deixa o desempenho com mais cara de esportivo.
Por fim, as assistências à condução, uma grande evolução em termos de segurança para os carros modernos, por vezes pode ser invasiva demais. Como o sensor de faixa, que “briga” com o motorista a qualquer leve escapada. Ou o sensor de atenção, que apita insistentemente se você sequer vira a cabeça levemente para conversar com seu acompanhante no banco do passageiro. Ainda bem que há a opção de desligá-los. Pode até ser contraditório, mas em uma viagem longa, com certeza o condutor ficará irritado com essas intervenções.
Prós
Ótimo espaço interno; boa lista de equipamentos; acabamento de qualidade; preço competitivo
Contras
Desempenho não chega a impressionar; marca desconhecida no Brasil pode deixar consumidores com o pé atrás
FICHA TÉCNICA
Neta X 500 Luxury
Motor: elétrico, dianteiro
Potência: 163 cv
Torque: 21,4 mkgf
Capacidade da bateria: 64,1 kWh
0 a 100 km/h: 9,5 segundos
Dimensões: 4,62 m (comprimento), 1,86 m (largura), 1,63 m (altura) e 2,77 m (entre-eixos)
Porta-malas: 508 litros
Autonomia (Inmetro): 317 km
Peso: 1.740 kg
Preço sugerido: R$ 214.900
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