Thiago Lasco
Sortudos são os filhos que conseguem trazer consigo lembranças eternas da família. O corretor de imóveis Luciano Jafet herdou do pai não só o gosto por carrões norte-americanos, mas também o último exemplar de sua coleção: um Lincoln Continental Mark IV 1974.
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Jafet cresceu cercado de belos veículos, que o pai importava dos Estados Unidos. Com sete anos de idade, o garoto apaixonou-se por um deles, um Mercury Cougar XR-7 1967, que ficou quatro anos na garagem da família. “Quando meu pai vendeu aquele carro, fiquei 15 dias sem falar com ele”, lembra.
Depois vieram um Ford Thunderbird 1971, o primeiro veículo que Jafet dirigiu, e um Oldsmobile Toronado 1973.
Em 1975, o pai do corretor de imóveis decidiu comprar um Lincoln Continental. Como o governo brasileiro havia proibido a importação de carros, ele vasculhou o País atrás de um exemplar de segunda mão, até encontrar o desta reportagem, que tinha um ano de uso e custou o equivalente a três Ford Landau zero-km. “Meu pai rodou mais cinco anos com ele e já estava querendo vendê-lo quando morreu, em 1980.”
Jafet não pensou duas vezes antes de ficar com o carro, que tinha 40 mil milhas (cerca de 64 mil km) e estava em ótimo estado. “Ele nunca deu defeito. Só trocamos um pneu e retocamos um ponto de ferrugem”.
O corretor é fã declarado do Lincoln Continental. “Esse modelo foi usado pela presidência dos EUA. As linhas são lindas. É o melhor carro do planeta. Tem um rodar macio e silencioso, é um prazer incomparável”, derrete-se. A paixão é tão grande que, em 2006, ele acabou comprando um segundo exemplar, um Mark VII ano 1989.
Zelo. De 1980 até hoje, Jafet rodou mais 11.200 km com o veículo. O motor tem 7.500 cm3 e rende 227 cv, mas o dono pega leve. “Mesmo pesando 2.400 kg, ele alcança 201 km/h, mas só vou até 96 km/h”, garante. Um de seus pontos fracos é ó alto consumo urbano, de apenas 2,5 km/l de gasolina.
Para fazer a manutenção preventiva, Jafet conta com a ajuda de um amigo, que lhe envia peças de Miami, e uma oficina de confiança. Carburador e bomba de gasolina foram trocados, o radiador passou por retífica e o estofamento de couro foi hidratado com um creme específico.
Os deslocamentos do dia a dia, Jafet faz com um VW Passat Pointer 1988. O Lincoln só sai da garagem nas tardes de domingo. O passeio, do Morumbi aos Jardins, termina sempre antes de escurecer. “Eu me sinto muito exposto com esse carro. Acho legal que o admirem. O problema é que não param de olhar, e eu me sinto até ridículo. Quando passo ao lado de um ônibus, então, chega a ser absurdo”, justifica o proprietário.
Requinte. Criado pela Lincoln, divisão de luxo da Ford norte-americana, o Continental nasceu em 1939, como uma derivação do Lincoln-Zephyr, e teve nove gerações até 2002.
Os primeiros exemplares eram equipados com motor V12 de 5 litros. Depois, vieram propulsores V8 de 6 litros e 7 litros. A partir da sexta geração, de 1980, o modelo ficou mais compacto e ganhou motores menores e mais econômicos.
O carro se consagrou como um símbolo de luxo e seu principal concorrente foi o Cadillac Eldorado. O acabamento sofisticado, com bancos de couro, relógio Cartier e a assinatura de grifes como Givenchy, ajudou a provar que a Ford também podia disputar mercado no segmento de luxo. O modelo já oferecia freios ABS em 1972.
Usado pela presidência dos EUA, o Lincoln Continental também protagonizou um episódio marcante da história daquele país: foi a bordo de um modelo 1961 conversível que o presidente John F. Kennedy foi assassinado, em 22 de novembro de 1963.