Colleen Barry e Frank Jordans/Associated Press
GENEBRA – Os carros pequenos apresentados em primeira mão na Feira do Automóvel de Genebra esta semana não são os veículos econômicos de formato de caixote do ano passado. As montadoras europeias reduziram as dimensões dos utilitários-esportivos e colocaram todo o luxo imaginável em subcompactos que serão vendidos a preço elevado, na tentativa de fascinar os consumidores e devolver-lhes a confiança depois de anos de crise.
Peugeot 208: menor que o 207. Foto: Sandro Campardo/AP
O desemprego e as medidas de austeridade tornaram os consumidores europeus um tanto assustadiços, as fábricas estão ociosas e há pouca coisa que as montadoras possam fazer sem deixar os políticos mais nervosos. A resposta que encontraram veio com força com carros pequeno de grande valor, com menor ênfase em formas alternativas de motores, como os automóveis elétricos e híbridos que dominaram as recentes edições do evento suíço.
“Três anos atrás, todo mundo foi apanhado desprevenido e temem que isto volte a acontecer, caso o euro entre em colapso ou a China pare de comprar”, disse Frank Rinderknecht, CEO da Rinspeed, uma empresa suíça de design, especializada em desenvolver novos conceitos para a indústria automotiva.
Até as construtoras de carros mais caros puseram sua ênfase em automóveis menores. A Mercedes procura compradores jovens – ou seja, abaixo dos 50 – para o novo Classe-A. A Audi apresentou a terceira geração da série A3, que há 15 anos foi o primeiro compacto no mercado premium. E a Volvo lançou seu V40, um carro de cinco portas que une um design compacto à linha de sedãs, peruas e utilitários-esportivos.
Entre as fabricantes para o mercado de massa, a Ford lançou o B-Max, um subcompacto para a família, enquanto a Fiat apresentou o seu 500L, uma versão maior de seu pequeno carro de cidade, o 500, que está sendo fabricado na Sérvia. A Toyota pôs uma cara mais ameaçadora na versão híbrida do Yaris, seu carro mais vendido, para dotá-lo de um aspecto mais imponente. Ao mesmo tempo, a Peugeot virou de ponta cabeça a convenção automotiva fabricando o novo 208 menor do que o antecessor.
Estes lançamentos constituem algo totalmente diferente dos carros pequenos do passado, que eram veículos espartanos, feitos para economizar. Embora continuem econômicos em termos de consumo de combustível e com emissões controladas, estes modelos são fabricados com os mais recentes recursos em matéria de segurança, e bastante luxo buscando dotar de um visual aprimorado os segmentos compactos e subcompactos que representam cerca de 80% do mercado europeu.
“Lembra quando os carros menores eram baratos e de aspecto simpático? Agora os consumidores querem a melhor qualidade, a maior eficiência em termos de combustível, segurança e design”, disse o CEO da Ford, Alan Mulally.
O problema das montadoras do mercado de massa europeu é que a demanda dos consumidores encolheu em razão da pressão da crise da dívida soberana: este ano, as vendas deverão cair cerca de 5% para 12,9 milhões de unidades, segundo o Centro de Pesquisa Automotiva.
As montadoras do mercado de massa da Europa anunciam perdas consideráveis: Fiat, Peugeot-Citroen PSA, Adam Opel da General Motors e Renault. Enquanto isso, as empresas associadas e controladoras registram lucros apesar dos prejuízos europeus, graças às vendas nos mercados emergentes ou nos Estados Unidos.
Sergio Marchionne, CEO da Fiat e Chrysler, adverte que, a não ser que as montadoras possam fechar as fábricas improdutivas, uma ou mais montadoras falirão a médio ou longo prazo, Mas segundo ele, o problema não pode ser solucionado no plano nacional, e aconselhou as autoridades europeias a elaborar um “plano conjunto” para a indústria automobilística que permita fechar as fábricas ociosas. Se isto não acontecer, “alguns de nós talvez acabem desaparecendo”, afirmou. “Precisamos tomar muito cuidado. Estamos brincando com o fogo”.
Marchionne disse que a Fiat pode sobreviver graças à sua parceria com a Chrysler. Seu objetivo é produzir carros para recuperar o mercado americano nas fábricas italianas, que, segundo os analistas, estão funcionando com 60% de sua capacidade.