DIEGO ORTIZ
FOTOS: SERGIO CASTRO/ESTADAO
Os três novatos deste comparativo foram destaques de vendas em novembro: dois pelo sucesso e um pelo desempenho abaixo da expectativa. O Hyundai HB20, tabelado a R$ 31.995 na versão Comfort 1.0, foi o oitavo automóvel mais comercializado do País, com 8.077 unidades, seguido de perto pelo Chevrolet Onix, o décimo, com 7.409 emplacamentos – custa R$ 29.990 na configuração LS 1.0. Já o Toyota Etios amargou a 35ª posição, com apenas 1.322 vendas. Ele tem preço de R$ 29.990 na opção de entrada, com o motor 1.3 – todos os propulsores contam com tecnologia flexível.
E logo de cara já dá para entender o motivo. O modelo da Hyundai foi o primeiro colocado, com ampla vantagem, por ter melhor dirigibilidade e acabamento mais bem feito desse trio. A briga entre Onix e Etios foi mais acirrada e o Chevrolet acabou vencendo por apenas um ponto (confira tabela na página ao lado).
O conjunto do Onix é superior ao do Toyota, o mais básico dos três. O novo carro da japonesa, aliás, parece ter saído dos anos 90. A começar pela chave, que lembra as dos Corolla daquela década. Enquanto isso, os dois rivais trazem de série modelos do tipo “canivete”.
Esse descuido com pequenos detalhes impedem o Etios de ser um produto mais desejável, o que é uma pena, pois nos aspectos técnicos nem HB20 nem Onix chegam aos pés do Toyota. O carro feito em Sorocaba tem o melhor desempenho, com seu motor 1.3 de até 90 cv e suspensão tão bem ajustada quanto a do Corolla. Além disso, é espaçoso.
Já nos quesitos mais subjetivos e de conforto, HB20 e Onix ) levam ampla vantagem. E como também são produtos convincentes, com boa dirigibilidade e desempenho – o do Hyundai é um pouco superior, embora os números das fabricantes apontem o contrário -, deixaram o Toyota para trás.
O HB20 traz de série air bag duplo, direção hidráulica, ar-condicionado, ajuste de altura do banco do motorista. O Onix tem a mais os freios com ABS, mas o ar é opcional. No Etios, o item de fábrica mais relevante é o air bag duplo.
A versão do HB20 fotografada foi a 1.6.
HB20: VALE A PENA INVESTIR EM DESIGN E CONFORTO
O sucesso que o HB20 fez no mês passado é a prova de que o mercado brasileiro de automóveis está amadurecendo. O modelo, que é alvo de um grande investimento local da marca em design interno e externo, chama a atenção e virou um objeto de desejo entre os carros compactos, mas não é só mais um rostinho bonito.
O HB20 tem também qualidades técnicas. O motor 1.0 flexível de três cilindros, que gera 80 cv e 10,2 mkgf, é muito eficiente para quem roda mais na cidade. É um tanto ruidoso, mas cumpre o seu papel com desenvoltura. Porém, na estrada carece de fôlego e tem de girar ainda mais rápido para conseguir manter um desempenho aceitável.
Em termos de solidez da carroceria, o modelo lembra o rival Volkswagen Gol, uma das boas referências do segmento. Não há torção em curvas rápidas e a suspensão é muito bem ajustada para os buracos típicos das ruas de São Paulo, mas sem ser muito mole.
A posição de dirigir é excelente, assim como a ergonomia, mas o volante é fino demais. O espaço interno é bom e o acabamento é o melhor entre os compactos vendido no País.
O maior problema do HB20 promete ser seu pós-venda. Nas concessionárias procuradas pela reportagem na capital, houve respostas confusas dos atendentes e nenhuma autorizada conseguiu informar os preços de peças do carro.
PRÓS: CONJUNTO. É bom de dirigir, espaçoso, tem acabamento cuidadoso e preço similar aos dos rivais.
CONTRAS: MANUTENÇÃO. Em todas as concessionárias ouvidas, nenhuma sabia os preços das peças do carro.
ONIX: BOM PACOTE PARA UM VEÍCULO POUCO ESTÁVEL
Já fazia tempo que a GM não apresentava um produto tão interessante desenvolvido no Brasil. O Onix desperta a atenção por ter desenho moderno e chega até a parecer de um segmento superior – por causa do porte da dianteira.
O hatch também agrada por dentro. Tem bom acabamento, a posição de dirigir é excelente, o painel é moderno e prático e os bancos seguram muito bem o corpo do motorista.
Mas o espaço para as pernas e cabeça não é muito bom. Porém, acomoda três pessoas no banco de trás, algo que o HB20, por exemplo, não consegue com tanta facilidade.
O desempenho do motor 1.0 de 80 cv e 9,8 mkgf é eficiente na cidade e em ruas planas. Mas basta uma subida mais pesada ou a necessidade de mais fôlego na estrada para o carro “abrir o bico”. Como o torque entra tarde, a 5.200 giros, é preciso reduzir muito as marchas para conseguir fazer ultrapassagens com segurança. Sorte que o câmbio tem engates suaves e o pedal da embreagem não é duro.
Já a suspensão, trabalhada pela Chevrolet para dar conforto, é mais mole do que deveria. O resultado é que a estabilidade do Onix não é muito boa. Ele sai de frente em curvas mais fechadas e mesmo em algumas nem tão radicais já “canta” pneu, sinal de perda de aderência. A carroceria também rola mais de que seria agradável e tem retorno lento.
PRÓS: CONJUNTO. Acabamento é agradável, o carro é bom de guiar e tem espaço lateral satisfatório.
CONTRAS: SUSPENSÃO. Ajuste poderia ser um pouco mais firme, já que a moleza compromete a estabilidade.
ETIOS: SOBRA DESEMPENHO E FALTA CUIDADO
O Etios é um carro muito bom de dirigir. Nesse quesito, é o modelo de segmentos de entrada mais eficiente à venda no País. A suspensão com eixo de torção e barra estabilizadora na traseira tem trabalho primoroso na cidade – absorve bem os impactos e gera excelente estabilidade – e a direção eletroassistida conta com uma ótima progressão.
O motor 1.3 flexível de até 90 cv e 12,8 mkgf (com etanol) também impressiona. Tem um funcionamento tão redondo, sempre cheio e disposto, que lembra muito os melhores 1.6 do mercado. O espaço interno também é muito bom na traseira. Dá até para colocar um jogador de basquete sem que ele bata as pernas no banco da frente. O porta-malas foi sacrificado para isso (é o menor dos três, com 270 litros), mas como trata-se de um carro com perfil urbano, essa característica não chega a comprometer.
Com evidentes qualidades, surge a inevitável pergunta: por que então o Etios está indo mal nas vendas? Um dos motivos está relacionando à segunda razão de compra no Brasil, o design. Nisso o Etios desaponta muito, principalmente no interior. Desenvolvido na Índia, tem um acabamento pobre, defasado e mal executado.
O painel central (feito assim por economia, já que na Índia a direção é na direita) parece de brinquedo e o computador de bordo lembra a tela de relógios Casio das antigas.
PRÓS: DIRIGIBILIDADE. O Toyota é um carro ótimo de dirigir e tem um trabalho de suspensão primoroso.
CONTRAS: ESTILO. O modelo não é capaz de agradar aos olhos nem por dentro nem por fora.
OPINIÃO: OS CONCORRENTES DEVEM FICAR DE OLHO
O segmento em que atuam HB20, Onix e Etios é dominado por um peso pesado da indústria, o Volkswagen Gol, e será muito difícil tirar dele a liderança que já dura 25 anos. Mas se não fosse por essa tradição, sei não. O HB20 poderia surpreender. É tão sólido quanto o Gol e tem melhor acabamento e desempenho. É um senhor carro de entrada. O Onix também é um belo produto, o melhor “popular” da GM nos últimos anos considerando a relação custo/benefício. É moderno, bem acabado e chama a atenção. Já o Etios… é uma pena que seja tão sem graça. Se tivesse a “casca” mais interessante e um acabamento mais bem cuidado, poderia fazer um estrago com seu desempenho e dirigibilidade excelentes. Resta apenas à Toyota fazer uma reestilização urgente para não estragar o belo projeto mecânico que criou.
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