
Com as mudanças no regulamento para a temporada de 2014, um dos grandes desafios das equipes de Fórmula 1 será economizar combustível sem perder desempenho. Além da troca do motor V8 aspirado pelo V6 turbo de 1,6 litro, com comportamento totalmente diferente – especialmente pela curva de torque -, cada carro poderá gastar no máximo 100 litros de gasolina por corrida.
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Na temporada atual, que se encerra neste domingo no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, o consumo fica entre 120 e 150 litros por corrida. É o que explica Gilberto Pose, coordenador de combustível da Shell Raízen, fornecedora da Ferrari.
Para aprimorar a eficiência do combustível oferecido, a fornecedora está trabalhando na mistura das cerca de 300 substâncias químicas que compõem a gasolina oferecida na Fórmula 1. “O principal foco é na octanagem”, explica Pose.
O coordenador diz que, quanto melhor a octanagem do combustível, mais se obtém ganho de potência com redução de consumo. “Com mais potência, o piloto precisa acelerar menos o carro para obter a mesma velocidade.”
Há um entrave, no entanto, que requer adaptação dos pilotos. Eles têm tendência a tirar o máximo do carro, para tirar tudo o que podem em uma volta. “Óbvio que essa lógica não valerá em uma disputa de posição, mas a expectativa é que os pilotos não usem a aceleração máxima o tempo todo, como quando estão apenas tentando manter a distância do adversário que vem logo atrás”, diz Pose. “Nesta tarefa, o papel dos engenheiros (que passam instruções aos pilotos durante as provas) será muito importante.”
Há outros problemas, no entanto, além de conter a ânsia por acelerar sempre no limite dos carros. Os testes para o desenvolvimento do novo combustível estão sendo feitos a partir de experiências em dinamômetro, já que a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) proíbe testes com os F-1 na pista.
“Só teremos um panorama mais real do comportamento do combustível a partir dos testes de verdade, na pista, na pré-temporada”, diz Pose. Essas sessões devem ocorrer a partir do fim de janeiro.
Por outro lado, o novo regulamento permite soluções que ajudarão a poupar combustível, como o uso de dois sistemas de recuperação de energia (Kers) e o aproveitamento de energia do virabrequim.
LABORATÓRIO
A cada etapa do campeonato, a Shell instala nos boxes da Ferrari um laboratório para análises de combustível e óleo lubrificante do motor. Esse centro de avaliação conta sempre com três profissionais. No caso da corrida de Interlagos, eles são o gerente de tecnologia Guy Lovett e os analistas de fluidos Lucy Taylor e Dan Jamieson.
O combustível usado nos carros de Felipe Massa e Fernando Alonso é analisado antes e depois de cada sessão de treino. “O objetivo é que mantenha a conformidade com as regras estipuladas pela FIA”, explica Lovett. “Fatores simples, como a manipulação da gasolina por um técnico, podem contaminar a gasolina”, diz.
O combustível é analisado por meio de medidores e a combinação de suas substâncias químicas é projetada por computador. A partir da quantidade de cada uma delas presente na gasolina, os técnicos chegam à conclusão sobre a possibilidade de contaminação.
Quanto ao lubrificante, a única regra imposta pela FIA é que o usado na última parte do treino classificatório (Q3) seja o mesmo utilizado na corrida – já que não é permitido mexer nos carros após esta sessão.
O objetivo da análise neste fluido é fornecer informações à Ferrari sobre as condições de motor. “Uma grande quantidade de metal no lubrificante, por exemplo, pode significar que é hora da troca (do propulsor), para que não exista risco de quebra durante uma corrida”, diz Lovett.