
Muitas marcas se vangloriam de
fazer história nas pistas e criar versões de rua de seus esportivos vencedores.
Esse “hábito” foi fortalecido nos anos 1970 com a necessidade de se
produzir pequenas séries de homologação para carros de rali. Mas o que poucos
sabem é que a primeira marca a levar, de fato, seu carro das pistas para as
ruas foi a espanhola Hispano-Suiza, com o modelo Afonso XIII, uma homenagem ao
rei espanhol do início do século XX.
A marca, que nos idos de 1905
produzia um pequeno dois lugares de 14 cv, ganhou atenção do Rei durante uma
viagem, onde um representante comercial da Hispano-Suiza arquitetou para cruzar
com a comitiva do Rei Alfonso XIII justamente em um complicado aclive, onde a
maior parte dos carros da época sofria para subi-lo e o modelo espanhol
conseguia vencê-lo sem dificuldades.
Maravilhado pelo êxito do carro
produzido na própria Espanha, o Rei se tornou um “embaixador” da
marca, comprando um Hispano-Suiza 20HP que foi entregue em 1906. Alfonso XIII
passou a gostar tanto de carros e automobilismo que criou, como uma forma de
enfrentar a França e mostrar poder, a Copa Catalunha. O evento, cuja primeira
edição foi em 1909, também serviria para fomentar o automobilismo no país e a
criação de mais fabricantes locais.
Para a primeira corrida, a
Hispano-Suiza desenhou um carro especial, com 35 cv extraídos de um quatro
cilindros posicionado bem atrás do eixo dianteiro, para menor massa suspensa e
um melhor comportamento dinâmico.
O problema foi que justo na
primeira disputa, os três Hispano-Suiza participantes abandonaram a prova com
problemas mecânicos, mesmo após um dos pilotos ter dominado a corrida e ter
tido chances de ganhá-la. A Copa Catalunha acabou nas mãos da Peugeot.
Só que a partir daí, a
Hispano-Suiza resolveu aproveitar os conhecimentos adquiridos nas competições e
fazer um novo carro para as ruas. Daí nasceu o T45, criado a partir do modelo
de pista. O motor teve o tamanho aumentado e a potência chegava a 45 cv. O
câmbio tinha três marchas, embreagem monodisco e transmissão por cardã, mais
moderna e segura que as correntes ainda usadas na época.
Essa mesma configuração voltou
às pistas da Copa Catalunha em 1910, novamente fracassado, mas obteve êxito na
subida de montanha de Mont Ventoux, na França, já com um motor de maior
capacidade e 64 cv.
Depois das vitórias na França, e
sobre a Peugeot, veio a produção em série do T45, que recebeu a bênção do Rei
para se chamar Hispano-Suiza Alfonso XIII. O modelo ainda teve opções com
entre-eixos alongado, mas foi a versão curta que conseguiu maior sucesso
comercial, com demanda acima da capacidade de produção da fábrica de Barcelona.
O carro era muito bem visto pelos pilotos ingleses, que queriam um esportivo
ágil e melhor de dirigir que os carros da época. Ter sido o primeiro carro
propriamente esportivo nas ruas, podendo ser dirigido tanto de forma mais arrojada,
quanto num calmo passeio, foi um dos maiores legados do Hispano-Suiza.