No meio do caminho entre os sedãs de entrada e os médios há os chamados compactos “premium”. Nas versões sem pedal de embreagem, comparamos a opção LX do City, a R$ 62.900, o Fiesta Titanium, a R$ 64.590, e o Linea Absolute, a R$ 66.450, que brigam para conquistar espaço em um dos segmentos mais disputados do mercado. Líder de vendas, o Honda acaba de mudar de geração, ficou maior, mais bonito e, embora cobre caro por isso, traz mudanças que lhe fizeram tão bem a ponto de garantir a vitória nesse confronto.
A aparente disparidade entre os três concorrentes é alinhada pelo preço. O City avaliado é o mais barato do trio, mas fica devendo equipamentos importantes, presentes nos rivais. O Fiesta, por sua vez, é muito bem equipado, mas perde pontos no espaço interno e no custo de manutenção. Já o Fiat tem, na versão de topo, o maior valor de tabela, além do câmbio automatizado Dualogic, um dos maiores entraves diante da caixa CVT do Honda e da moderna transmissão robotizada de duas embreagens do Ford. Além disso, vai encarecendo de forma astronômica conforme o cliente vai adicionando os opcionais.
O City padece do mesmo mal nas versões EX e EXL, mais recheadas, que encostam nos R$ 70 mil. É certo que nenhum deles é barato, mas o Honda ainda é o melhor negócio. Mesmo assim, venceu a batalha por poucos pontos.
City tem ótimo conjunto – 68 pontos. A mudança de geração deu um ar mais maduro ao sedã da Honda, que na fase anterior tinha jeitão muito simplório. Com traços bem mais modernos, o modelo agora tem mais “presença”.
O motor 1.5 flexível de até 116 cv foi mantido, mas o câmbio automático de cinco marchas deu lugar a um CVT de relações infinitas. Isso mudou um pouco o caráter do carro, que tem reações rápidas na cidade e permite que o quatro-cilindros trabalhe em baixas rotações em velocidade de cruzeiro na estrada. Por outro lado,anestesiou o comportamento, deixando-o chato de guiar.
A favor, o City é espaçoso, silencioso e econômico. A cabine denota simplicidade sem ser pobre. O acabamento, assim como sua montagem, agrada. A impressão é que dificilmente algo irá despencar antes de vários anos de uso.
O Honda consegue ser “bom de buraco” não raspa a frente em valetas comuns na cidade. Além disso, a suspensão dá confiança para alguma animação nas curvas. Mas não espere respostas esportivas ou grandes emoções em altas velocidades. Outro senão é a falta de itens que deveriam estar em um sedã de mais de R$ 60 mil. É o caso de sensor de estacionamento e comandos para o som no volante, entre outros.
Fiesta é bom de curva – 67 pontos. Uma das armas do Fiesta, além do irretocável comportamento dinâmico, é a extensa lista de itens de série. Por R$ 1.690 a mais que o City intermediário, o Ford de topo traz sete air bags, sendo cinco além dos frontais, controle de estabilidade e assistente de partida em rampas. Como comparação, dessa lista a versão mais cara do City, EXL, tabelada a R$ 69 mil, traz apenas as bolsas laterais.
Uma exclusividade do sedã é seu câmbio automatizado de dupla embreagem. Se por um lado a caixa oferece trocas rápidas, por outro é ruidosa e por vezes indecisa na hora de escolher a marcha ideal.
O motor 1.6 é muito bem acertado, com torque em rotações baixas e funcionamento suave. O propulsor casa bem com a transmissão e o conjunto passa bastante confiança em velocidades altas. A suspensão é firme, mas lida bem com buracos e ondulações da pista. O sistema se destaca quando o motorista demanda uma tocada mais esportiva do sedãzinho.
O maior calcanhar de aquiles do Fiesta é o espaço interno. O modelo é apertado e perde feio em um dos quesitos mais importantes do segmento: o tamanho do porta-malas. São 465 litros, ante os 500 litros do Linea e os 536 litros do City.
Câmbio é o senão do Linea – 63 pontos.Durante muito tempo a Fiat tentou, sem sucesso, convencer a todos que o Linea era um sedã médio. Após ser reposicionado e reestilizado, o modelo chega à sua melhor forma em anos.
Ainda que seja o mais antigo do trio, tem bom conjunto, mas é traído pelo controverso câmbio Dualogic. Com embreagem simples, a caixa automatizada tem escalonamento correto, mas peca por ser lenta nas mudanças e na capacidade de interagir com o motorista.
As trocas de marcha nem sempre acompanham as demandas do pé direito. Isso acaba tornando difíceis manobras como ultrapassagens. O Linea é confortável, bem equipado e tem uma das melhores posições de guiar do segmento. A cabine traz mimos como filetes de luz no painel e nas maçanetas internas. Por preços próximos aos do City, é possível levar a versão Essence com air bags laterais e de cortina e couro nos bancos, algo não disponível no City LX.
A suspensão é bem acertada e o motor 1.8 de até 132 cv gosta de girar alto, situação na qual entrega boas respostas. Há até um “ronquinho”, que não nega a genética italiana.O Linea ainda tem visual interessante, mas não consegue esconder a idade diante de concorrentes bem mais modernos.
Opinião. Cada sedã do comparativo tem pontos altos distintos, mas o carro que mais conquista quem gosta de dirigir é o Fiesta. A leveza do conjunto, aliada ao motor e câmbio espertos, consegue colocar mais sorrisos no rosto de quem guia o Ford do que qualquer um dos concorrentes. Mas isso, de forma alguma, tira os méritos de City e Linea. No papel, o Honda oferece o melhor conjunto, mas cobra caro pela confiabilidade técnica atribuída à marca e é consideravelmente sem sal. É bom para o dia a dia, econômico e eficiente, mas carece de personalidade. Caráter, aliás, não falta ao Linea, ainda que o Fiat consiga tirar o motorista do sério por causa de seu câmbio automatizado, que nem sempre se comporta como deveria. Mas o sedã é gostoso de dirigir, espaçoso e bem acabado. Portanto, merece menção honrosa no comparativo.