Quem vê o Maverick GT V8 1976 desta reportagem não imagina que o Ford já esteve “desenganado”, pronto para virar sucata. A atual aparência reluzente é resultado de um trabalho minucioso de recuperação, executado com empenho pelo juiz do trabalho Flavio Bretas Soares.
“Meu avô e meu pai sempre apreciaram carros fortes, como o Opala. Com 16 anos de idade, andei no Maverick do pai de um amigo, gostei e disse a mim mesmo que teria um”, ele lembra. Seis anos depois, Soares punha as mãos em seu primeiro exemplar. Mas não por muito tempo.
“O carro precisava de uma grande restauração e eu não podia arcar com os custos. Acabei vendendo-o após um ano. Mas fiquei com o modelo na cabeça”. Aprovado em um concurso público para o cargo de analista judiciário, ele começou a juntar dinheiro, preparando o caminho para ter outro Maverick.
Dez anos depois, a nova condição financeira finalmente lhe permitiu colocar na garagem o exemplar desta reportagem. O negócio, intermediado pelo presidente de um clube dedicado ao modelo, foi fechado à época por R$ 4 mil. Mas o cupê estava em péssimo estado.
“O carro estava no limite de ir para o ferro-velho. Não tinha nem painel. Durante a reforma, a carroceria foi lixada e o capô, uma porta e um para-lama foram direto para o lixo. O assoalho também estava muito ruim e, do motor e câmbio, não havia nada aproveitável”, conta Soares. “Mas preferi não comprar um veículo pronto, pois queria fazer eu mesmo a restauração. Levei dois anos para deixá-lo em condições de andar.”
Modernizado. Se, por fora, o Ford aparenta ser um exemplar original que teve a sorte de envelhecer bem, sob o capô está escondido um conjunto mecânico moderníssimo, feito para aguentar as condições do trânsito contemporâneo.
“Coloquei sistema de ignição importado, carburador do tipo quadrijet e radiador de alumínio. O motor foi trocado, mas é original da linha Maverick. São avanços que melhoram muito a dirigibilidade. Sem esses itens, o propulsor esquentaria nos dias de hoje”, afirma o leitor. “Já gastei cerca de R$ 90 mil nele e ainda faço algumas melhorias aqui e ali.”
Renascido das cinzas, o Ford não poderia ter deixado Soares mais feliz. “É um carro grandalhão, sem recursos tecnológicos, mas tenho o maior prazer do mundo nele. Meu veículo de uso diário, um Mitsubishi Lancer, tem câmbio automático, mas no ‘Mavecão’ gosto mesmo é de trocar as marchas”, conta o juiz. “Os diferenciais dele são o estilo e também o ronco do motor V8 de 250 cv, que poucos conseguem acompanhar.”
De acordo com Soares, as aparições do Maverick provocam reações por onde passa. “Já fui aplaudido várias vezes, muitos tiram fotos. Uma senhora do meu prédio confessou que sempre quis ter um exemplar. Acho bacana esse assédio. Só a minha mulher não gosta que fiquem olhando muito”, brinca.
Com o nascimento do filho de Soares, agora com dois anos, o ritmo dos passeios diminuiu, pois é difícil afixar a cadeirinha infantil no banco. “Mas ele adora o Ford, já mexe no volante e diz ‘carro velho papai’. Provavelmente o Maverick vai ficar para ele”, revela o pai coruja.