O programa favorito do engenheiro químico Robert Jurkevics durante a adolescência era frequentar o Autódromo de Interlagos, na zona sul da capital paulista. Ali, ele assistia às grandes corridas da época, como a Mil Milhas e a 24 Horas de Interlagos, e vibrava com as vitórias da equipe Vemag, que se consagrou com os pequenos e ágeis Malzoni GT e Puma DKW. Com a independência financeira trazida pela maturidade, ele pôde finalmente colocar na garagem o modelo que seus ídolos pilotaram, em uma versão “de rua”.
Primeiro o engenheiro quis comprar um Malzoni, mas logo viu que a tarefa era ingrata – pouco mais de 30 exemplares haviam sobrevivido e quem possuía um não estava disposto a vender. O Puma DKW era só um pouco menos raro: foram feitas apenas 135 unidades, até que a Volkswagen adquirisse a Vemag e encerrasse a produção.
Mas a sorte sorriu para Jurkevics e ele recebeu a indicação de um exemplar de Puma DKW com apenas 36 mil km rodados, que pertencia a um mecânico da própria DKW e estava desmontado em uma oficina. Sem vidros e com um buraco no assoalho, a carroceria passou por uma reconstrução completa.
“A restauração da cabine é artesanal, porque não há um catálogo da época que sirva como referência. Felizmente, o Domingos Avallone, que foi responsável pelo serviço, havia trabalhado na Puma e garantiu que o resultado ficou bem parecido”, diz o engenheiro. “Até poderia receber a placa preta, mas não tenho essa preocupação.”
Simples e robusto, o motor 1.0 tricilíndrico de dois tempos estava intacto. Os bancos foram adaptados para receber cintos de quatro pontos e a pintura perdeu o tom vermelho original para ganhar a cor branca – não por acaso, a mesma da equipe Vemag. “Eu quis me sentir naquela época novamente”, justifica Jurkevics.
E o engenheiro conseguiu: basta rodar com o esportivo para sua mente viajar de volta ao tempo das competições. “O carro arranca rápido, freia bem e a estabilidade, que sempre foi o diferencial do modelo, é excelente”, derrete-se. “Quando entro um pouco mais forte nas alças de acesso às Marginais, ele faz a curva direitinho. É um prazer que nem dá para descrever.”
Mesmo com tanta paixão pelo Puma, Jurkevics está propenso a vendê-lo. “Chega uma hora em que sua vida entra em uma fase diferente”, filosofa. “Até que surja uma proposta séria e viável, serei paciente. Mas às vezes torço secretamente para ninguém querer este carro.”
História. O Puma DKW foi produzido pela Vemag em 1967 tendo como base a versão de passeio do Malzoni GT, do qual herdou a base mecânica.
Com a aquisição da Vemag pela Volkswagen e o fim da produção de motores e chassis da DKW, o modelo recebeu mecânica da marca alemã e passou a ser conhecido como Puma GT. Foram vendidas mais 423 unidades até 1970.