Um é utilitário-esportivo com aptidão urbana. O outro é perua, mas ganhou roupagem para ficar com apelo visual off-road. Modelos familiares, ambos têm preço e lista de equipamentos semelhante e são novidade nas lojas. O Honda HR-V, a R$ 75.400 na versão LX CVT, é o novo queridinho entre os jipinhos. Lançado em março, o veículo liderou o segmento em abril. Já a Volkswagen SpaceCross I-Motion, cuja tabela parte de R$ 73.190, recebeu reestilização no mês passado.
No comparativo entre os dois modelos, o HR-V ganhou com ampla vantagem. Feito sobre a mesma base do City e do Fit, o novo jipinho é mais bem construído e espaçoso. Além disso, entrega desempenho melhor, graças a seu motor 1.8 flexível de até 140 cv, ante os 120 cv (com etanol) entregues pelo da SpaceCross.
Esse bom propulsor, outra novidade da perua, só não consegue rendimento melhor por causa do péssimo câmbio I-Motion. Ele sofre o mesmo problema dos demais automatizados de uma embreagem apenas: é lento, confuso e as trocas de marcha (são cinco) resulta em trancos desconfortáveis.
Não que o CVT, de relações infinitas (mas que no HR-V simula seis velocidades) seja o suprassumo dos câmbios. Mas, pelo menos, ele não limita a capacidade do propulsor e promove mudanças de marcha eficientes e suaves. Isso quando se roda na cidade, onde a transmissão cumpre bem o papel de fazer retomadas.
Já na estrada, esse sistema pode deixar o motorista um pouco irritado, pois, ao se pisar no acelerador até o fundo, ela eleva demais a rotação do motor sem entregar o desempenho esperado – mas, em contrapartida, aumentando o nível de ruído na cabine. Nessas situações, o recomendável é tirar o pé levemente do pedal e depois pressioná-lo de novo. Só assim, o câmbio vai entender que o motorista quer ganhar velocidade rápido – para uma ultrapassagem, por exemplo.
HR-V é melhor para fazer curvas
O HR-V sai de fábrica com controle de estabilidade e assistente de partida em rampas, ambos opcionais na SpaceCross – que traz controle de tração de série. Mas mesmo quando equipada com esses extras, a perua não vai muito bem em estabilidade. A suspensão, elevada em relação à do SpaceFox, na qual se baseia, acaba contribuindo para que a carroceria role muito em curvas. Em contrapartida, filtra muito bem os impactos com o solo.
O Honda também vai bem nesse quesito, e com a vantagem de, mesmo alto, ser mais estável que o modelo da VW.
A versão LX CVT é a de entrada, com câmbio automático, do HR-V. Não é tão bem equipada quanto a maioria dos utilitários compactos na mesma faixa de preço, mas, na comparação com o SpaceCross, traz lista de série semelhante. Há direção elétrica, rodas de liga leve, ar-condicionado e sistema de som, entre outros. O jipinho a leva vantagem por ter o freio a disco nas quatro rodas; os traseiros da perua são a tambor.
A nota inferior do HR-V em equipamentos é por ele não contar com opcionais. Para ter bancos de couro, central multimídia ou volante multifuncional, é preciso comprar as versões mais caras (EX, a R$ 80.400, ou EXL, por R$ 88.700).
Espaço não é o forte da perua SpaceCross
Feito sobre a mesma base e agora com as mesmas linhas do bom e velho Fox, o SpaceCross já está com visual cansado, mesmo após a reestilização. Neste quesito, o belo Honda faz muito mais bonito, além de chamar a atenção por ser novidade nas ruas.
Por dentro, a vantagem do HR-V é ainda maior. Equipada com a central multimídia, opcional de R$ 5.078 vendido em pacote, e com os bancos de couro, a R$ 705, a cabine do SpaceCross fica até bonita. Mas não é preciso um olhar de perito para constatar a qualidade superior dos materiais e do acabamento do jipinho Honda.
Mesmo na versão LX, sem a central multimídia e os bancos de couro que fazem toda a diferença no visual do interior, o Honda agrada aos olhos. O painel de instrumentos, que oferece ótima leitura, também agrada bastante aos olhos do motorista.
O SpaceCross também perde quando o assunto é espaço. As pernas dos ocupantes do banco traseiro ficam bem apertadas. O HR-V, cujo entre-eixos é 14 centímetros maior, se sai melhor. Em contrapartida, embora com a mesma capacidade, o porta-malas da perua VW acomoda melhor as bagagens.
OPINIÃO: Um preço que não dá para entender
Quando surgiu a ideia deste comparativo, imaginei que o SpaceCross saísse de fábrica muito mais bem equipado que o HR-V LX, por causa da proximidade de preço. Mas, ao receber os carros, vi que esta não era a realidade, já que a lista de itens de série é muito bem equiparada. Então, qual é a justificativa para a perua pseudo-aventureira da Volkswagen ser tão cara? Porque ela perde para o Honda, que também não é nada barato, em quase todos os quesitos: espaço, desempenho, acabamento… E, ainda por cima, tem o câmbio automatizado de uma embreagem, coisa de carro de baixo custo.
Já é hora de as montadoras aposentarem esse tipo de transmissão que, por mais aprimoramentos que receba, não cumpre o papel de aumentar o conforto. Ainda mais em um carro que custa mais de R$ 70 mil.