O norte-americano Bryan Benedict é a prova viva de que os sonhos das crianças devem ser levados muito a sério. Seu pai e seus irmãos gostavam de carros, mas ele foi muito mais longe.
Aos cinco anos de idade, Benedict já sabia que desenhar carros era o que ele gostaria de fazer para o resto da vida. A mãe não deu muita bola, mas ele foi em frente. Tornou-se desenhista, passou por várias em montadoras e, numa dessas surpresas do destino, foi convidado para trabalhar na Hot Wheels, a fábrica dos carrinhos com que ele tanto brincou na infância.
Responsável pelo desenho dos carrinhos das séries Marvel e Star Wars – incluindo o carro de Darth Vader, que ganhou réplica em tamanho natural – Benedict esteve no Brasil como convidado da feira Anime Friends e deu uma entrevista ao Jornal do Carro. E revelou que um dos carros que aprendeu a curtir quando era moleque foi o nosso Chevrolet Opala SS.
Confira:
Você é designer da Hot Wheels e desenhou as miniaturas dos carrinhos das séries Marvel e Star Wars. Essas eram paixões suas desde a infância?
Como cresci nos anos 1970 e 1980, vi em primeira mão o nascimento do fenômeno Star Wars. Mas acabei acompanhando isso à distância, pelos meus colegas de escola, pois minha família não tinha dinheiro para me levar ao cinema ou comprar brinquedos do Star Wars. Quando tive meus filhos, vi com eles todos os filmes da série várias vezes e comprei a eles um bom estoque de brinquedos Star Wars. A paixão pela Marvel surgiu um pouco mais tarde, porque não li muitos quadrinhos quando era criança.
Você brincou muito com carrinhos quando era moleque? Ainda guarda alguns desses carrinhos?
Sem dúvida, sempre fui um típico fã de carrinhos Hot Wheels. Eles foram praticamente meus únicos brinquedos, pois eram os poucos que meus pais tinham condições de comprar. Sempre gostei muito deles e guardei quase todos. Como brinquei muito com eles, eles estão bem detonados…
Quando começou a se interessar por carros?
Desde que eu me entendo por gente. Acho que ter um pai e cinco irmãos que curtiam carros ajudou muito.Em relação a desenhar carros, sempre gostei disso e, aos 5 anos de idade, disse para minha mãe que era isso que eu queria fazer na vida. Ela não deu bola e disse que ninguém conseguia viver disso. Mas eu não desisti da ideia.
Sua trajetória na indústria automotiva passou por várias montadoras. Como e por que você resolveu fazer a transição para as miniaturas?
A oportunidade de trabalhar na Hot Wheels surgiu de repente. Como eu sempre considerei esse um dos trampos mais legais no mundo do design de carros, agarrei a oportunidade. Confesso que no início achei que sentiria falta de trabalhar em carros de verdade, mas não foi isso que aconteceu. A gente sempre olha para um Hot Wheels da mesma maneira que para um carro de verdade, e nunca se sabe quando uma criação poderá ganhar uma versão em tamanho real, como aconteceu com o carro do Darth Vader, que foi uma experiência muito gratificante!
O que você levou consigo da experiência com carros grandes que te ajudou nessa nova fase?
Levei comigo uma compreensão mais profunda do desenho de um carro, em termos de equilíbrio e proporções, e como fazer um carro realmente autêntico. Isso é muito importante quando tenho que criar um carro de personagem, que precisa transmitir uma leitura imediata daquele personagem, e ao mesmo tempo parecer um carro de verdade.
Quais são suas referências e fontes de inspiração?
Tudo ao meu redor serve como fonte de inspiração: natureza, animais, arte, arquitetura, tendências e cultura pop. No caso dos carros de personagens, eu me esforço para entrar na vida do personagem, assim consigo criar um carro que ajude a contar a estória dele.
Você gosta mais de fazer carros mais fantasiosos, como carros de personagens, ou réplicas de modelos reais? Quais são as dificuldades de cada um deles?
Gosto muito de fazer os dois, mas especialmente dos carros de personagens. Réplicas são desafiadoras porque, embora você já tenha todas as informações daquele modelo, é preciso saber reinterpretá-las para que funcionem em escala reduzida. O público tem expectativas muito específicas sobre como uma réplica deve ser, ao passo que nos carros de personagem o desenhista acaba tendo mais liberdade para criar o que lhe der na telha.
O que você já sabia sobre o Brasil?
Sabia que o Brasil era um dos maiores mercados da Hot Wheels fora dos Estados Unidos, e também que a cultura automotiva daqui é muito rica. Quando eu era garoto, adorava o Chevrolet Opala SS brasileiro. A maior parte dos garotos norte-americanos provavelmente nunca ouviu falar desse carro, mas eu consultava uma enciclopédia de carros de todo o mundo na biblioteca da minha escola, e foi assim que conheci o Opala.
Você já sabia que temos uma grande cena de colecionadores de miniaturas?
Sabia que a cena era forte e ativa, mas descobri que ela é mais passional do que eu imaginava.
Pelas suas experiências em outros países, você acha que os gostos dos fãs de carrinhos são homogêneos em qualquer parte, são de certa forma massificados, ou existem particularidades em cada região?
Encontrar fãs é sempre maravilhoso, cada grupo é especial de um jeito diferente, e há sim particularidades em cada região. Os brasileiros e mexicanos são particularmente apaixonados por Hot Wheels e pelo hábito de colecionar, e fazem designers como eu se sentirem especiais e queridos.
Como você vê o futuro das miniaturas? Acha que o interesse por carrinhos Hot Wheels vai sempre sobreviver, mesmo com jogos e internet disputando a atenção da molecada?
Acho que o futuro será ótimo para os carrinhos. A Hot Wheels teve seu melhor ano em vendas em 2014 e, em termos de volume, os carrinhos são hoje o brinquedo mais vendido do mundo – e isso apesar do uso de games e internet ser tão alto. Acho que existe espaço para o mundo real e o digital. Aliás, nesse mundo cada vez mais virtual, é ainda mais importante que a gente ofereça formas físicas de diversão para as pessoas.