Os jovens de hoje cultivam gostos herdados de várias épocas, que misturam sem preconceito em seu caldeirão de referências. Alguns criam uma adoração por décadas passadas e desenvolvem uma espécie de nostalgia de um tempo que não viveram.
O estudante Brunno Migliorança, de 18 anos, é um representante dessa geração retrô. Mas, em vez das festas regadas a música pop dos anos 80, comuns atualmente, os alvos da nostalgia do estudante são outros: a década de 90 e os carros daquele tempo, mais precisamente o Fiat Tipo, hatch vendido no Brasil entre 1993 e 1997.
“Para mim, os anos 1990 foram a época de ouro, e não só para carros: prefiro mil vezes o videocassete ao DVD”, conta o estudante, que se encantou pela marca italiana aos cinco anos de idade. “Meu pai tinha um Prêmio CSL, que me marcou. Chorei muito quando ele vendeu o carro. Até hoje, Prêmio, Tempra e Tipo são minhas paixões.”
Com a ajuda do pai, ele conseguiu formar uma pequena coleção de exemplares do Tipo – até a semana passada, eram três, mas ele acabou tendo de vender um por falta de espaço na garagem. O primeiro a fazer parte do acervo foi o desta reportagem, um SLX 1995.
O Fiat chegou à família Migliorança pelas mãos do irmão de Brunno, dono de uma revenda de automóveis, em 2013. “Quando o Tipo deu entrada na loja, ele avisou meu pai, que se interessou. Com 120 mil km, o carro estava inteiro, mas com a pintura queimada por causa do sol forte de São José do Rio Preto, no interior paulista, onde rodava com o dono anterior.”
Brunno não se empolgou de imediato com a aquisição. Mas bastou arregaçar as mangas e começar a mexer no carro para o jogo virar e ele se apaixonar.
Em seis meses, o motor passou por retífica, a lataria foi recuperada e rodas, faróis e suspensão foram substituídos. Os bancos mantêm o tecido original, mas ganharam reforço de espuma. “Meu irmão até se surpreendeu quando viu o carro pronto”, gaba-se o estudante.
Prazer de adulto. Com o fim da restauração, Migliorança e o Fiat se tornaram inseparáveis. Ele gosta de testar as respostas do motor na rodovia dos Bandeirantes – e fala sobre o carro com ares de motorista veterano.
“Ele é confortável e macio e, ao mesmo tempo, sensacional nas curvas. E as relações de marcha curtas garantem agilidade nas retomadas. Só o acho um pouco alto demais e pretendo dar uma suave rebaixada na suspensão”, comenta.
No tempo livre, o estudante está sempre mexendo e cuidando do hatch. “Uso só peças originais, para não ter dor de cabeça depois. Algumas vieram da Itália, como a bandeja da suspensão e a válvula termostática.”
É o mesmo capricho e dedicação de quem já percorreu diversos sebos, atrás de revistas automotivas com avaliações de seu modelo preferido – e até enquadrou um cartaz promocional da época do lançamento do carro, para pendurar na parede.
História. O Tipo surgiu na Europa em 1988 e, em 1990, deu origem ao Tempra, em versões sedã e perua. No Brasil, porém, o hatch só chegou em 1993, dois anos depois do três-volumes.Inicialmente, havia apenas uma versão, com motor 1.6 de 82 cv. Depois, vieram as opções SLX, de luxo, com o 2.0 8V de 109 cv, e Sedicivalvole, esportiva, cujo 2.0 16V rendia 137 cv. Com sucessivos casos de incêndio, causados por vazamento do fluido da direção hidráulica no sistema de escape, a reputação do modelo foi abalada, e a produção terminou em 1997.