Eles são pequenos, práticos, têm apelo jovem e motores de três cilindros que esbanjam desenvoltura no trânsito urbano. Aqui, Volkswagen Up! e Kia Picanto se encaram em uma disputa bastante acirrada.
Na linha 2016, os dois seguiram caminhos inversos. O primeiro, que parte de R$ 42.190 na versão Move Up!, incorporou mais itens de série em todos os catálogos, enquanto o segundo ganhou uma versão de entrada mais acessível, com câmbio manual, por R$ 39.900.
O Volkswagen tem a tabela mais cara, mas compensa com custos menores de peças e seguro. Isso foi determinante para lhe assegurar a vitória sobre o Kia, por apenas um ponto.
Na cidade, os dois carrinhos proporcionam condução prazerosa, com direção leve e câmbio de engates curtos e precisos. O Kia usa o mesmo propulsor Kappa de 80 cv do Hyundai HB20, mas o peso menor do Picanto se traduz em maior agilidade, especialmente em arrancadas, superiores às do rival.
Em rodovias, porém, o Volkswagen vira o jogo. O motor MPI de 82 cv vibra um pouquinho, o que é comum em tricilíndricos, mas é gostoso de acelerar e se sai bem melhor nas retomadas, sem mostrar cansaço. No oponente de origem sul-coreana, é preciso subir mais o giro do motor para extrair torque e recuperar a velocidade.
Também conta pontos para o Up! a construção sólida. Com bom acerto de firmeza, a suspensão passa maior robustez. O conjunto do Picanto transmite qualquer irregularidade do piso aos ocupantes e dá uma certa sensação de fragilidade, como se o carrinho não tivesse sido feito para encarar a buraqueira de nossas ruas malconservadas.
O acabamento dos rivais condiz com o de modelos de entrada, mas o Picanto passa uma impressão melhor, com plásticos de boa qualidade e apliques cromados que percorrem volante e painel. No Up!, o excesso de lataria aparente e a própria disposição enxuta dos comandos denotam maior simplicidade.
A mesma diferença se sente nos bancos, mais largos e confortáveis no Picanto. Os do Up!, finos e duros, cansam em viagens longas. Atrás, o espaço do VW é bom para dois: o duto central elevado complica a vida do eventual terceiro carona. Mais amplo, o Picanto saiu-se melhor nesse quesito.
O motorista do Kia tem tudo à mão – incluindo comandos de som no volante, ausentes no rival. O painel de instrumentos também é mais completo, com termômetro da água do motor e um conta-giros de melhor leitura que a diminuta peça do VW. Nos dois, assento do condutor e volante têm regulagem de altura.
Outro aspecto que favorece o Picanto é o ar-condicionado que resfria a cabine com mais vigor – no painel do Up!, as duas saídas de ar laterais e o pequeno difusor central, voltado para o teto, podem não dar conta do recado nos dias de alto verão.
Conteúdos. Tanto o Picanto quanto o Up! oferecem ar-condicionado, direção e travas elétricas, portas com abertura por controle remoto e sistema Isofix. Mas em ambos se nota a economia de custos em alguns detalhes.
O Kia tem itens típicos de modelos mais caros. O temporizador do limpador de para-brisa é regulável, o banco traseiro é bipartido e os dianteiros trazem porta-revistas nos encostos. Por outro lado, as calotas têm aspecto pobre, não há espelhos nos para-sóis e a baixa qualidade do sistema de áudio incomoda: os alto-falantes, pequenos, não reproduzem sons graves a contento.
Já o Up! vai bem ao trazer ajuste elétrico dos retrovisores externos (no Picanto, o item aparece apenas na versão com transmissão automática, que custa R$ 46.900), alarme e sistema S.A.V.E – espécie de prateleira removível que permite armazenar objetos no fundo do porta-malas. Sensor de estacionamento traseiro, rodas de liga leve e faróis de neblina são oferecidos em um pacote que acrescenta R$ 1.067 à tabela.
Mas na espartana cabine não há controles de som no volante, luz de cortesia no porta-malas ou iluminação dos comandos dos vidros elétricos – à noite, os ocupantes precisam tatear até acharem os botões.
No fim das contas, quem faz questão de carros mais “recheados” deve considerar modelos maiores com motorização semelhante, como Hyundai HB20, Ford Ka e VW Fox.