O Fleetmaster 1948 desta página presenciou muitos momentos de ansiedade, lágrimas de emoção e beijos cinematográficos. Esse tipo de cena virou rotina para o Chevrolet, que cumpre agenda requisitada, levando noivas à igreja para a cerimônia de casamento.
Mas nada disso foi planejado por seu proprietário, o comerciante Plínio de Aguiar. Ele conta que comprou o carro motivado por lembranças da infância, em um tempo em que o sedã norte-americano fazia parte da paisagem da capital paulista.
“Quando eu tinha seis anos de idade, pegava táxis desse modelo com meu pai, viajava em pé na cabine e ficava admirando o aviãozinho no capô. Isso me marcou muito”, diz Aguiar.
Membro há 19 anos de um clube dedicado aos Chevrolet antigos, ele encontrou o Fleetmaster à venda em uma feira em Santos, no litoral paulista, no fim de 2011. Só depois de fechar negócio que ele percebeu que o carro, aparentemente íntegro, teria de ser refeito. “O assoalho parecia uma peneira.”
A carroceria foi desmontada, teve retirados os pontos de ferrugem e amassados e ganhou tinta nova. Suspensão, motor, câmbio, diferencial e freios foram trocados. A restauração levou um ano e meio para ser feita, em duas oficinas diferentes, e deixou Aguiar realizado.
“O restaurador do painel fez um ótimo trabalho. Até conhecedores têm dificuldade de perceber as marcas do serviço.” Aguiar diz que até o rádio funciona bem. “Basta ligar e esperar a válvula esquentar”, conta.
O comerciante diz que o Chevrolet, que tem motor de seis cilindros e câmbio de três marchas com haste na coluna do volante, tem fôlego para ir até Salvador. Aguiar já viajou com o carro até Guarapari, no litoral capixaba, passando pela capital fluminense.
Casamenteiro. Após participar do primeiro casamento, outras cerimônias e bodas começaram a surgir no caminho do sedã, na base da propaganda boca a boca. “Você começa fazendo para um amigo, aí um desconhecido pede um cartão e você faz outro…”, diz o comerciante.
A agenda do Chevrolet é limitada a dois eventos por mês. “Se eu não desse uma brecada, todo fim de semana teria trabalho e eu não conseguiria curtir a família. Ficaria com o carro e perderia a esposa”, brinca Aguiar.
Ele conta que faz amizade com os noivos e seus pais, que revivem o passado. “Alguns foram de Fleetmaster em seus casamentos, e é fantástico ajudá-los a recriar o momento. Dificilmente vou embora sem ficar um pouco na festa.”
Entre as várias histórias, há também perrengues. “Certa vez os convidados queriam amarrar latas no para-choque traseiro e escrever na carroceria com batom e giz. Minha sorte é que um rapaz correu para avisar, pois, como a tinta preta fica muito marcada, seria preciso refazer toda a pintura do carro. O prejuízo seria enorme.”
Os eventos fazem com que o sedã continue em movimento e, de quebra, custeiam sua manutenção e reforçam o orçamento da família Aguiar. Mas o comerciante evita excessos.
Ele diz que foi procurado por uma equipe da TV Globo interessada em usar o Chevrolet na novela de época “Além do Tempo”. Mas ele não permitiu que sua preciosidade alçasse voos mais altos rumo ao estrelato.
“Não deixo ninguém colocar as mãos nele. Só eu sei a maneira correta de abrir as portas e os vidros. O máximo que fiz foi cedê-lo para comerciais de pneu e uísque, sob minha supervisão”, diz o comerciante, que, ao guardar o carro, o cobre com um lençol de seda e duas capas.