A primeira conclusão deste comparativo entre os compactos de linhagem francesa é que ambos honram a definição de “pocket rocket”, por entregarem ótima agilidade, mas deixam a desejar quando se considera um conceito mais amplo de esportividade. A segunda é que a versão recém-lançada do 208 vale os quase R$ 20 mil que custa a mais que o Sandero RS. O fato de o apelo do duelo ser emocional reforçou a vitória do GT ante o RS.
Já nas versões “normais”, o 208 é de segmento superior ao do Sandero. Assim, de cara, o Peugeot sobressai em construção, que influencia diretamente no prazer de guiar, acabamento e diversidade tecnológica. E, em relação ao que interessa, o GT anda mais que o RS.
O novato tem motor 1.6 turbo flexível de até 173 cv, ante os 150 cv do 2.0 aspirado do RS (dados com etanol). E seu torque, além de ser bem superior, chega mais cedo: a partir das 1.400 rpm, ante 4.000 rpm do concorrente.
Esse 1.6 responde brutalmente ao pedal do acelerador e ganha velocidade com mais vontade que o rival. Com ele, é até difícil manter os 50 km/h permitidos na maioria das vias da cidade – é recomendável usar o limitador de velocidade, item que o Sandero não tem.
Nas acelerações, o ronco do motor do Peugeot não chega a empolgar, mas instiga. No Renault, o ruído incomoda. É um estalo esquisito, que se faz ouvir até quando o volume do rádio está alto, e passa a impressão de que pode haver algo errado. O hatch merecia ter melhor proteção acústica.
O 208 tem câmbio bem escalonado e de trocas fáceis. O do Sandero não é ruim, mas os engates são difíceis, desses que chegam a “raspar” em alguns momentos, além de a última marcha ser complicada de passar. Nos dois há caixa manual de seis velocidades e um sistema que mostra no painel o momento certo das mudanças.
O Peugeot sobressai ainda no quadro de instrumentos, e não apenas em visualização. Seu painel é mais bonito, moderno e tem a praticidade de dois velocímetros: um analógico e outro digital.
O GT é bom de guiar, mas fica devendo em esportividade. A suspensão passa a impressão de ser apenas um pouco mais firme que a da versão normal. Isso acaba gerando mais baques secos sem que o acerto seja bom o suficiente para aguentar a “patada” da aceleração nas arrancadas.
Ao pressionar com força o pedal do acelerador, a dianteira do GT escapa com vontade e, pelo bem do motorista, há controle eletrônico de estabilidade. A direção, elétrica, é precisa, mas melhoraria se tivesse mais peso em alta velocidade.
O RS, preparado pela divisão esportiva Renault Sport, se diferencia mais das versões comuns e está longe de ser aquele bom e velho Sandero “bobão”. A suspensão é dura, até ríspida, assim como a direção. O hatch é equilibrado e divertido de dirigir, especialmente em estradas sinuosas. Mas o desconforto, tanto para o motorista quanto os passageiros, é grande.
Detalhes que fazem a diferença. A chave do Sandero já deixa o motorista desanimado: não é do tipo canivete e tem estilo da de carros da década passada. Para piorar, é preciso inseri-la no miolo da fechadura para abrir o porta-malas. Na hora de encontrar a melhor posição de guiar, outro ponto negativo: o volante só tem ajuste de altura. No Peugeot, a coluna também traz regulagem longitudinal.
O acabamento do RS não é muito superior ao das versões normais. Há muito plástico duro e a impressão geral é de qualidade baixa – o volante de couro com costura vermelha melhora um pouco essa sensação.
Esse detalhe também está presente no GT, que tem ainda tecido com aparência de fibra de carbono nos painéis. Há ainda banco revestidos de couro, ante os de tecido do RS.
Os dois oferecem central multimídia (ambas são fáceis de usar), algo essencial em carros de apelo jovem. No GT, a tela projeta imagem da câmera traseira, que o RS não tem. No Peugeot, atrás há apenas sensor de obstáculos – o rival traz o item também na frente.
Outra exclusividade do 208 é o ar-condicionado digital com duas zonas de temperatura. O do Renault é automático.
Opinião. Quem quer um “pocket rocket” que ofereça algo além de velocidade não encontrará nada “made in Brazil”. Quando o assunto é dirigibilidade esportiva, os carros que mais se aproximam do conceito são o Mini Cooper – e todas as suas versões -, feito na Inglaterra, e o A1, Audi produzido na Bélgica. O preço do britânico parte de R$ 111.950 e o do belga, de R$ 106.990 – além disso, o Mini, por exemplo, pode se mostrar desconfortável se for utilizado no dia a dia.
Então, para quem não quer – ou não pode – gastar tanto, 208 GT e Sandero RS garantem sorrisos. O Peugeot é mais indicado para os que querem um carro para uso diário que ofereça agilidade no trânsito e boa dose de potência. O Sandero é para quem deseja uma pitada de esportividade, mas precisa de espaço para pessoas e bagagens.