No romance “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, os gêmeos Yaqub e Omar, que pouco têm em comum, disputam a preferência na família. A mesma ideia pode ser usada nesse comparativo entre Porsche 718 Boxster e Audi TTS Roadster. Eles são da mesma família (as marcas pertencem ao Grupo Volkswagen) e atuam no segmento de conversíveis esportivos, mas têm armas bem distintas na briga pela vitória.
Os dois trazem teto de lona e motor quatro-cilindros 2.0 turbo. Porém, o do Audi TTS (que custa R$ 319.990) é dianteiro. Já o Porsche 718 Boxster, cuja tabela é de R$ 368.000, apela à tradição do propulsor central com cilindros opostos, um dos fatores determinantes para sua vitória nesse comparativo. Esse sistema é mais condizente com a proposta de um conversível esportivo, assim como a tração traseira, ante a integral disponível no TTS Roadster.
O fato é que o modelo da Porsche foi criado do zero para entregar esportividade pura, missão na qual é mais equilibrado – e prova isso em movimento. No caso do TTS Roadster, o modelo é feito sobre a plataforma modular MQB, do Grupo Volkswagen.
Essa base é usada em diversos modelos, mais generalistas, das marcas do grupo – como os hatches Golf e A3, por exemplo. Além disso, o 718 Boxster também investe um pouco mais em segurança. Traz, por exemplo, seis air bags, ante os quatro disponíveis no concorrente.
Rodando. Com 300 cv, ante os 286 cv do Audi, e o mesmo torque – 38,7 mkgf -, o Boxster acelera e retoma com mais eficiência – para isso, contribui o fato de ser 100 quilos mais leve. O câmbio de ambos é automatizado de duas embreagens, o do Porsche com sete marchas e do Audi, com seis. Ter relação mais curta nas primeiras também contribui para o 718 sair na frente na hora de acelerar.
A estabilidade e o conforto a bordo do Porsche são superiores graças ao equilíbrio proporcionado pela construção do carro. A boa distribuição de peso, de 50% em cada eixo, é resultado do uso da tração traseira e da posição central do motor, que, por sua vez reduz o centro de gravidade.
Já o TTS tem suspensão que bate demais, o que castiga os ocupantes. Ele também tem mais tendência a sair de dianteira em curvas, mesmo com tração integral, enquanto o 718 se mantém neutro. Por fim, o Audi é um pouco mais alto e sua carroceria rola mais.
A posição de guiar é boa em ambos, mas mais próxima do chão no Porsche. Os bancos esportivos têm ajuste elétrico nos dois carros e seguram bem os ocupantes. A direção de ambos é do tipo eletroidráulica variável, podendo adaptar o “peso” à velocidade do veículo. As duas têm respostas bem diretas. Os freios, a disco nas quatro rodas no dois, têm um curso de pedal menor e são mais sensíveis no 718.
Lista de equipamentos trazem semelhanças. De série, ambos têm controles de estabilidade e tração, bancos com ajustes elétricos, ar-condicionado digital, start-stop, freio de estacionamento elétrico e opção de trocas de marchas por aletas no volante. Os faróis do Audi são de LEDs e os do Porsche, bixenônio.
A mais, o 718 traz sistema de som de alta qualidade que, no TTS, sai por R$ 50 mil. Em contrapartida, só o Audi é equipado com câmera de ré, algo que facilita muito as manobras de estacionamento.
O TTS oferece três modos de condução (econômico, normal e dinâmico), enquanto o Boxster traz só um esportivo, que deixa o carro ainda mais arisco nas respostas. Os dois alteram o som que sai do escapamento de maneira artificial, deixando o ronco mais grave dentro e fora da cabine.
Charme. No 718, a Porsche mantém a tradição da partida com chave no miolo de ignição, do lado esquerdo. No Audi, o motor é ligado por botão. Por dentro, o Porsche tem mais botões e o painel é analógico, um conceito conservador quando comparado ao do rival.
Isso porque o TTS Roadster traz painel virtual que projeta quase todas as informações e funções do carro – como instrumentos, navegador GPS e central multimídia. Os comandos para esse sistema são feitos por meio de um seletor posicionado no console central.
No visual, o Porsche leva vantagem pelo aspecto mais esportivo, com formas angulosas e limpas. O TTS mantém a linguagem estética vista em outros Audi e é menos esguio. O teto do Porsche abre ou fecha em nove segundos; o do Audi cumpre a mesma tarefa em dez – ambos em velocidade até 50 km/h.
A 120 km/h, com a capota recolhida, o TTS é um pouco mais silencioso que o 718, pois seu defletor, que evita turbulência atrás, é maior. Já com o teto fechado, o comportamento se inverte: é no conversível da Audi que se escuta mais o contato do evento com a capota do carro.
Opinião: Engenharia refinada foi decisiva para o Porsche. Mais potência nem sempre explica a vitória, mas, além de ter essa vantagem, o 718 Boxster também é um carro com bom refinamento mecânico. Com isso, ele consegue caprichar na esportividade sem abrir mão de características confortáveis que proporcionam um passeio mais tranquilo.
Extra é o fator segurança na lista de equipamentos, já que o Porsche tem seis air bags e o Audi, quatro. Se na direção o fato de o TT usar a genérica base MQB pesa, o compartilhamento de peças pode ser levado em conta nos valores menores dos componentes. O melhor dos mundos seria a mecânica do 718 e o interior tecnológico do TT.