Na constelação de belos carros antigos que circulam nas noites de terça-feira pela passarela do Sambódromo do Anhembi, na zona norte da capital, um modelo sempre cativou o olhar do representante comercial Julio Alberto Siqueira: o Maverick. Enquanto admirava as linhas do Ford, ele pensava que um dia um daqueles cupês estaria em sua garagem.
O acaso deu uma força para que Siqueira pudesse, enfim, comprar o seu exemplar. Certo dia, em um posto de combustíveis em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, ele se deparou com um cupê branco com um aviso de “vende-se” no vidro.
Ele conta que entrou em contato com o dono e, após examinar o Ford com a ajuda de um especialista, teve de usar seu tino comercial para negociar. “Ele pedia R$ 12 mil, mas havia muita coisa para fazer no carro, além de multas. Fiz uma contraproposta, ele reduziu o preço e acabei pagando R$ 6 mil.”
Ao trazer o cupê para a capital, uma surpresa: já na Marginal Tietê, o motor ferveu. Um mecânico afirmou que o problema é frequente no modelo e seria resolvido com a instalação de um radiador maior. Foi a deixa para o início de um grande trabalho de restauração que envolveu duas oficinas ao longo de três anos e meio.
Durante o processo de recuperação da carroceria, descobriu-se que a pintura original era verde e o tom foi usado em um novo banho de tinta. O motor recebeu retífica e foram substituídos itens como câmbio, freios, escapamentos, faróis, para-choques, cromados e bancos.
Algumas peças vieram na bagagem que Siqueira e três amigos trouxeram dos Estados Unidos. “Cada um levou na mala uma roda para o meu carro.”
Reestreia. Poucos meses depois que ficou pronto, o Maverick debutou em grande estilo e o lugar não poderia ter sido outro: o Sambódromo. “Foi muito bom, ele chamou a atenção de todo mundo”, lembra Siqueira.
Ele conta, aliás, que o carro costuma despertar reações acaloradas por onde passa, tanto de jovens quanto de pessoas um pouco mais velhas. “Todo mundo para e diz ‘que carrão, hein!’, mas ninguém sabe o sacrifício que é manter um modelo desses. Vira e mexe, é preciso fazer alguma coisa nele”, desabafa o dono.
Em 2014, o motor foi refeito novamente, e apenas esse reparo custou mais R$ 14 mil. Siqueira diz que o dinheiro foi bem gasto. “Encontrei um especialista em V8 com um preciosismo que não se vê por aí. Ele pôs o motor em funcionamento por duas semanas antes de instalá- lo no carro”, afirma.
Siqueira diz que já nem sabe quanto investiu no Ford. “Até chegar aos R$ 100 mil, eu anotava todos os gastos. A partir daí, parei de controlar para não ficar maluco”, brinca. “Por isso, quando alguém me oferece R$ 80 mil por ele, eu nem dou ouvidos. Já rejeitei proposta de um amigo que quis pagar R$ 160 mil.” É uma paixão que não tem preço.