Quando a Renault lançou a Oroch no Brasil, sua meta era dominar o mercado graças à boa ideia de unir a caçamba de uma picape à versatilidade do utilitário-esportivo Duster. Mas a Fiat foi melhor ao fazer o dever de casa e a Toro é que nada de braçada entre as intermediárias – ela até assumiu a liderança das vendas do segmento de entrada, superando sua “irmã” Strada.
A supremacia da Toro se repetiu no confronto entre os dois modelos, nas únicas configurações em que elas se enfrentam diretamente: com motor flexível e câmbio automático. A Toro Freedom 1.8, de entrada, encarou a Duster Oroch Dynamique 2.0, de topo. Com preço sugerido de R$ 84.590, a Fiat compensa os R$ 4.800 de diferença para os R$ 79.790 da tabela da Renault com um produto melhor em praticamente todos os quesitos avaliados.
A cabine é uma das principais diferenças entre as duas. Enquanto a Toro oferece interior elaborado, com materiais de boa qualidade e posição de dirigir bastante confortável, a Oroch tem painel praticamente idêntico ao do hatch Sandero e seu acabamento abusa de plásticos simples.
Atrás, os passageiros da Fiat vão ligeiramente mais bem acomodados, uma vez que o encosto do banco traseiro da Renault é muito vertical. Mas nenhuma delas é exemplo de conforto para cinco ocupantes.
Mesmo na versão mais simples, a Toro sai bem equipada de fábrica. Há controles de velocidade de cruzeiro e de estabilidade (ESP), item não disponível na Oroch. Por outro lado, a Renault de topo traz central multimídia, sistema que é opcional na concorrente.
Aliás, a lista de extras da Fiat é ampla e repleta de mimos como acionamento automático de faróis e limpadores de para-brisa, câmera traseira e ar-condicionado automático, itens não disponíveis na Oroch. Na Renault, o único opcional é um pacote de R$ 3.490 que deixa seu visual mais “bruto”, como o do carro avaliado.
Oroch anda bem, mas seu câmbio atrapalha
Os 148 cv do motor 2.0 quase sobram na Oroch, que é leve: pesa pouco mais de 1.300 kg. Mas o antigo câmbio de apenas quatro marchas da picape paranaense sofre um bocado para lidar com essa vitalidade.
Na cidade, o conjunto vai bem – as trocas são suaves e há boa dose de torque em baixa rotação. Mas basta pisar fundo para o câmbio mostrar suas limitações. Com os intervalos entre as passagens são longos, a Oroch acaba perdendo fôlego.
A favor, o modelo da Renault esbanja robustez e encara sem medo estradas ruins de terra e vias urbanas malcuidadas. A Toro também é disposta, mas sua suspensão mole faz com que a cabine sacoleje muito ao passar sobre ondulações.
Apesar de ser menos potente (139 cv), a Toro até que se vira bem com a cavalaria gerada pelo motor 1.8. O que ajuda a dar alguma vitalidade ao conjunto é o câmbio de seis velocidades, que não hesita em reduzir marchas para fazer a picape ganhar velocidade.
Depois de embalada ela até vai bem. Mas não espere acelerações vigorosas ou muita emoção a bordo da Toro 1.8.
Na estrada, a picape da Fiat mantém velocidade de cruzeiro na casa dos 110 km/h sem muito esforço. O problema é que, em subidas, o 1.8 vai pedir giros bem altos e o motorista precisará ter paciência.
Em comum essa dupla tem o alto consumo. Nenhuma roda mais do que 6,5 km na cidade com um litro de etanol (aferidos no computador de bordo).