Guilherme Waltenberg
Quando Maria Célia Mallioco nasceu, há 45 anos, sua primeira casinha de bonecas foi a boleia do caminhão que seu pai dirigia. Filha, mãe e ex-esposa de caminhoneiro, Célia dirige um ônibus da Viação Urubupungá em Osasco, na Grande São Paulo.
Criada ora acompanhando o pai em viagens, ora brincando no caminhão, desde cedo ela nutria o sonho de ser caminhoneira. Mas o casamento precoce, aos 19 anos, a fez adiar os planos. Após o fim da união, Célia concorreu a uma vaga de motorista de ônibus, mas, embora soubesse guiar, não tinha carteira de habilitação, pré-requisito básico para o emprego.
Admitida para a área de manutenção de uma empresa de entregas de pequenas cargas, ela voltou a se dedicar ao velho sonho e tratou de tirar a CNH. O primeiro veículo que guiou profissionalmente foi uma picape S10, depois uma F-1000. Mais tarde fez treinamento em uma empresa de ônibus e cinco meses depois, ingressou na carreira que dura seis anos. “Foi meu grito de independência”, diz.
Apesar dos horários complicados – ela trabalha das 5h15 às 9h10 e das 15h50 às 20h30, Célia não reclama. “Minha vida é isso aqui”, afirma, apontando para o ônibus. Justamente pela falta de tempo livre, ela chegou a comemorar um aniversário com os passageiros. “Alguns acabaram virando amigos. Levei uns 200 pedaços de bolo e dei de presente para todos que entravam”, conta.
Mas a rotina dura não fez Célia descuidar da aparência. Toda sexta-feira ela vai ao salão de beleza. “É meu dia de princesa”, brinca.
Essa preocupação fez surgir um apelido entre os colegas de profissão: bandida. Ela vai logo se explicando. “Um senhor começou a me mandar flores e todos ficaram sabendo. Como não me interessei, brincam que roubei o coração dele”, conta.