Nos fins de semana ensolarados, o técnico de manutenção do metrô Carlos Alberto Rodrigues circula com orgulho com seu Volkswagen SP2 de 1974. Não é para menos: ele passou os últimos dez anos empenhado na restauração do esportivo feito no Brasil, que ficou pronta no ano passado.
Rodrigues diz que cobiçava o VW desde que tinha seis anos de idade e cutucava o pai ao ver “o carro baixinho” passar. Alguns anos depois, seu pai acabou comprando um SP2 prata com interior caramelo, que depois foi repintado de Azul Caiçara. “Eu viajava na parte traseira da cabine, onde só cabia uma criança mesmo”, lembra. “Fiquei muito triste quando meu pai vendeu o carro. Queria ficar com ele a vida toda.”
Já adulto, Rodrigues abriu uma oficina mecânica e, em 2006, saiu atrás de um SP2. Com a experiência adquirida na recuperação de carros comprados em leilão, ele estava determinado a restaurar um desses esportivos do zero. Por isso, o preço baixo era mais importante que o estado de conservação.
“Vi um exemplar por R$ 8 mil que parecia bonito, mas daria trabalho do mesmo jeito, pois eu teria de raspar toda a lataria, eliminar os pontos apodrecidos. Este aqui me custou apenas R$ 2.800.”
Como era de se esperar, o aspecto do VW não era nada bom. A carroceria estava amassada e tinha marcas de incêndio. Uma prosaica fita crepe ajudava a fixar o volante e o banco do motorista, o único remanescente, havia sido carcomido por roedores. “O assoalho parecia o do carro do Fred Flintstone”, brinca o metroviário.
No primeiro fim de semana após a compra, Rodrigues arregaçou as mangas, abriu o motor do SP2 e começou a trabalhar no projeto que passaria a ocupar todas as suas horas de folga. A parte dianteira da carroceria, totalmente apodrecida, teve de ser serrada e refeita em outra oficina, tarefa que levou três anos e meio para ficar pronta.
O pai de Rodrigues acompanhava de longe a restauração, mas sem dar a mesma importância que o filho. “Ele achava que eu caprichava demais, lixando a mesma peça por cinco dias. Ele usava o SP2 dele para levar ração para o sítio. Para ele, aquele era um carro de serviço.”
No último dia de 2015, o metroviário resolveu dar uma primeira volta com o carro ainda inacabado. Perdeu a chance de mostrá-lo ao pai, que faleceria nove dias depois.
Milagre. Quando o esportivo finalmente ganhou as ruas, um ano mais tarde, os vizinhos de Rodrigues ficaram em polvorosa. “Eles me viram mexendo nele na garagem por tanto tempo, que nem acreditaram quando o carro apareceu rodando. Pensavam que ele não iria andar nunca”, diverte-se Rodrigues. “Até os meus amigos se referem a ele como ‘o sonho’. Achavam que ficaria só no sonho mesmo.”
No feriado do aniversário da capital paulista, o VW mostrou a que veio em um passeio até a cidade de Guararema, no interior do Estado. “Peguei a faixa da esquerda e ele acompanhou os demais veículos sem passar vergonha, graças à quarta marcha bem longa”, conta o dono, que diz que se sente realizado ao volante do esportivo. “O SP2 é o melhor carro que já dirigi. A posição baixa de guiar é típica dos esportivos, você fica com as pernas esticadas e as costas inclinadas para trás”, descreve.
O SP2 de Rodrigues causa alvoroço por onde passa. Ele diz que algumas pessoas até correm atrás para fotografá-lo. “Quando vou abastecer, quase não consigo sair do posto”, diz Rodrigues, sem dar sinais de cansaço com o assédio.
“Tenho prazer em mostrar algo que era uma sucata e ficou bonito. Vou participar do concurso de antigos de Águas de Lindoia (SP) em abril e espero que ele seja premiado como o melhor esportivo”, conta.