Quem tem filhos sabe bem: para despertar a cobiça de uma criança, nada como um vizinho endinheirado que enche a própria prole de presentes caros. No caso dos irmãos Marcos e Maurício Welsh, a tentação proibitiva surgiu dentro da própria família. Depois que uma prima voltou de uma temporada no exterior e ganhou dos pais um Puma zero-quilômetro, a infância dos dois garotos nunca mais foi a mesma.
“A nossa paixão pelo Puma nasceu naquele momento. Mas era um modelo inacessível para nós”, diz o mais velho, Marcos, engenheiro. “Crescemos com a vontade de ter aquele carro.”
O sonho ficou adormecido até o início de 2016. Durante um passeio de carros antigos, que percorreu a Estrada Velha de Santos até o litoral paulista, os dois irmãos sentiram um calafrio típico de quem reencontra um amor do passado.
“Vimos uns oito exemplares de Puma, bonitos e em diversas cores. Conversamos com os donos e isso aguçou nossa vontade de comprar o carro”, lembra o caçula Maurício, administrador de empresas.
Ele foi o primeiro a se engajar na busca por um exemplar em bom estado. Em outubro do ano passado, por indicação de um amigo, conheceu um proprietário de três unidades e comprou dele o GTI branco 1982 desta página.
“O carro estava inteiro, com bancos restaurados, e o motor havia rodado só 28 mil km após a retífica. Botei placas pretas nele logo em seguida”, conta o administrador.
Emoção. Ver o Puma na garagem do irmão foi o empurrãozinho que faltava para Marcos começar a se mexer. Ele vasculhou a internet, mas o cenário não foi muito animador: entre dezenas de anúncios que encontrou, os poucos esportivos em bom estado eram caros demais.
Quando viu o anúncio do modelo GTE 1978 azul-turquesa desta página, porém, o engenheiro abriu um sorriso. Era um dos raros exemplares equipados com ar-condicionado de fábrica, já tinha placas pretas e havia sido premiado em um evento de antigos em Vila Velha, no Espírito Santo, onde seu dono residia.
“O vendedor me enviou fotos da nota fiscal de compra, do manual do proprietário, do motor aberto e do certificado de placa preta. Ele era o terceiro dono do carro e quase não o usou, pois tinha 1,90 metro de altura e mal cabia dentro dele”, diz Marcos.
Para a sorte de Marcos, a empresa de logística do irmão tem filial na capital capixaba. Para poupar o engenheiro de viajar ao Espírito Santo só para ver o Puma, Maurício pediu que uma funcionária fosse ao encontro do vendedor e checasse o estado de conservação do veículo.
“Foi a primeira vez que comprei um carro sem ver”, diz Marcos. “Quando recebi o Puma e sentei ao volante, não consegui me segurar e chorei. Eu havia almejado o carro por 40 anos.”
Com 86 mil km rodados, a aquisição deu pouco trabalho ao engenheiro. O ar-condicionado ganhou uma carga de gás e novas mangueiras, o painel de instrumento teve as luzes e vidros trocados e as rodas foram polidas e pintadas em tom cinza grafite. Para dar um charme a mais, uma réplica do estojo de ferramentas original foi encomendada a um marceneiro.
A dupla de Pumas ganha as ruas nos finais de semana, quando dá as caras em Campinas, em Sorocaba ou no Guarujá. “O motor de 70 cv e carburador duplo dá conta do recado, porque o esportivo é muito leve”, conta Maurício. “O duro é entrar e sair do carro, que é apertado. É bem aconchegante”, ele brinca.
O único senão é a obrigação de buscar sempre um lugar fechado e seguro para estacionar. “Não dá para deixá-los na rua. Com a simplicidade da mecânica VW, é fácil fazer uma ligação direta e furtar um carro desses para desmontar e revender as peças”, explica o irmão caçula.