A vida não está fácil para os veículos comerciais. De um lado, metrópoles maiores e mais adensadas enfrentam problemas crescentes de trânsito e poluição. De outro, a explosão do comércio eletrônico traz consumidores cada vez mais exigentes, que querem receber suas compras depressa – se possível, no mesmo dia.
Para dar conta desse desafio logístico, a solução está na chamada internet das coisas: veículos, ferramentas e processos produtivos que trocam dados e “conversam” entre si, formando uma cadeia digital. O resultado é um ganho de tempo e eficiência que permite transportar mercadorias e pessoas mais rápido e com custos menores.
Uma das montadoras que têm trabalhado nessa direção é a Mercedes-Benz. Em 2016, ela apresentou o protótipo futurista Vision Van, uma van elétrica operada por joystick, que tinha um compartimento de carga automatizado e despachava drones para fazer entregas.
Na semana passada, em evento na cidade alemã de Stuttgart, ela revelou que vários dos conceitos introduzidos pela Vision Van estarão presentes na próxima geração da família Sprinter, que será lançada no mercado europeu já no ano que vem e chegará ao Brasil em 2019.
O modelo tem sua vocação de veículo de carga complementada por uma série de serviços digitais, fornecidos pela própria Mercedes para atender às necessidades de clientes tão variados quanto empresas de correio expresso, eletricistas e fornecedores de traslados turísticos.
Como van de entregas, o destaque é o compartimento de carga digitalizado, herança da Vision Van. Nele, os produtos são organizados de forma inteligente, conforme o horário de entrega e a temperatura de acondicionamento de cada um – há alimentos ou remédios que precisam de refrigeração, por exemplo.
A cada parada de sua rota – que é planejada por computador para evitar congestionamentos – o motorista-entregador acessa o baú por dentro do furgão, a cabine sinaliza os pacotes que ele tem de pegar e as portas do veículo se abrem para que ele saia e se travam automaticamente em seguida. Segundo a Mercedes, o compartimento pode ser rebaixado em até 80 mm, facilitando o processo de carga e descarga. Mas a marca não especificou se o compartimento será retrátil ou se a suspensão de modelo que irá abaixar os oito centímetros.
Aplicativos permitem que a empresa monitore em tempo real o deslocamento de todas as vans de sua frota, assim como a entrega das mercadorias, e altere a rota de um carro caso surja um serviço urgente. Câmeras e sensores facilitam a condução e reduzem o risco de colisões.
Furgões de reparos, que funcionam como estações móveis de trabalho e estocam ferramentas, têm o interior adaptável e podem carregar escadas em racks montados dentro do baú. Nichos na parte superior do painel acomodam objetos e uma estação de carregamento de celulares por indução.
As variantes da linha Sprinter são inúmeras, de comprimento e capacidade a tipo de tração e nível de equipamentos. O painel pode ser de uma simplicidade franciscana ou trazer central multimídia e volante revestido de couro com comandos de som, além de internet sem fio.
Transporte de passageiros
De acordo com a Mercedes, cerca de 20% da demanda mundial da linha Sprinter é representada pelo transporte de pessoas: serviços de shuttle para aeroportos, ônibus urbanos e turísticos, vans escolares e ambulâncias. Nas configurações que levam passageiros, além de programas que tracem percursos mais livres, a integração com o meio digital reserva outras possibilidades interessantes.
Vans escolares podem ter um sistema que envia mensagens aos celulares dos pais quando os alunos embarcam no veículo e chegam à escola. Se a criança ficou doente, o responsável acessa um aplicativo e cancela a carona daquele dia. Ônibus urbanos podem exibir aos passageiros a programação dos cinemas estão naquele itinerário.
Por meio de parceria com uma startup, a Sprinter será oferecida em plataformas de compartilhamento em algumas cidades, a começar por Londres. Em sistema parecido com o do Uber, vans poderão ser deslocadas para regiões com maior demanda de passageiros.
A Sprinter terá opções com motor a combustão, pensadas para uso fora dos grandes centros urbanos, e elétricas – com o mesmo conjunto motriz da atual e-Vito, que pode rodar entre 150 e 200 km com uma carga de bateria. Não haverá variante híbrida. A Mercedes diz que todo o seu portfólio será eletrificado “no médio prazo” e, até 2019, investirá de 150 milhões de euros nesse objetivo.
Além da Alemanha, a nova geração da van será feita em outros países, inclusive a Argentina, de onde virá ao Brasil. As configurações disponíveis no País ainda não foram definidas. “Veremos o que funciona melhor para a realidade de cada mercado”, diz o diretor de vans da Mercedes, Volker Morhinweg. “Precisamos ser versáteis, inclusive em preço.”
De montadora a provedora de soluções digitais
Se é verdade que as montadoras têm de se preparar para um futuro em que os carros deixarão de ser objeto de desejo, a Mercedes-Benz parece estar fazendo sua parte com a nova Sprinter. Além de fabricar e vender a van, a marca resolveu oferecer uma série de soluções digitais que complementam o uso do veículo e facilitam a vida da empresa.
Os serviços, criados pela nova divisão Mercedes Pro, incluem monitoramento dos veículos em tempo real, planejamento de rotas e softwares de gestão e manutenção de frotas, entre outros. Com isso, clientes menores usufruem dos ganhos de eficiência da digitalização, sem ter de contratar um especialista em TI.
Os pacotes serão desenvolvidos de forma customizada para cada empresa, por meio de uma consultoria que identifica suas necessidades. A Mercedes inclusive ajuda a avaliar se a opção mais vantajosa para o tipo de uso a ser feito é a van elétrica ou movida a motor a combustão.