Um dos talentos que o comerciante Ricardo Recacho desenvolveu na adolescência foi o de pilotar carros velozes. Ele diz que aos 12 anos já acelerava forte em pistas de corrida, usando o joystick de seu videogame. E o modelo escolhido era sempre o mesmo: o Chevelle SS.
Mas a paixão platônica pelo muscle car norte-americano era tanta que não bastava ver o carro na tela. Ele só se sentiu realizado quando comprou um exemplar de 1970 de verdade.
“Para mim, não serviria de outro ano. Essa safra foi o auge do carro, a única com motor 454”, ele explica. “Em 1971, a crise do petróleo levou a GM a adotar um V8 menor, o 396.”
Enquanto não conseguia realizar o sonho, Recacho se contentou com um Opala SS. Como importar um Chevelle dos EUA estava fora de cogitação, o jeito era vasculhar na internet, na esperança de achar um exemplar à venda no Brasil.
Em agosto deste ano, o comerciante finalmente se deparou com o anúncio de um SS de 1970. Ele não perdeu tempo: ligou para o vendedor e, dias depois, embarcou para Brusque, em Santa Catarina, para buscar o carro. “Eu não podia perder aquela oportunidade. Até hoje, não vi nenhum outro no País.”
Com ar-condicionado, direção hidráulica, mecânica íntegra e originalidade a toda prova, o Chevrolet era o passaporte para a felicidade. Mas há sempre algo que pode ser melhorado.
De início, Recacho fez reparos na pintura e trocou rodas e amortecedores, para melhorar o desempenho em curvas. Peças de acabamento do painel e emblemas e laterais de porta foram garimpados em uma viagem aos EUA, onde ele descobriu uma empresa especializada em itens para o Chevelle.
Outras melhorias estão sendo planejadas para os próximos dois anos. “Quero repintar a carroceria, refazer o banco traseiro e instalar freio a disco nas rodas traseiras e injeção eletrônica. Penso também em cromar algumas partes do motor.”
Nas ruas
É nos fins de semana que Recacho aproveita para curtir o Chevrolet. “Faço supermercado com ele ou vou tomar café da manhã no interior. Só não o uso no dia a dia porque ele gasta muito combustível”, diz. “É uma delícia de carro. Graças ao motor forte, basta acelerar que ele sai cantando pneu.”
Em um dos passeios, ele escolheu um trecho mais tranquilo para testar as respostas do motor. “Cheguei muito rápido à velocidade que eu queria e já tirei o pé. Quando o carro estiver ‘redondinho’, quem sabe eu não o leve para uma pista”, cogita.
Rodando devagar, o esportivo atrai olhares de pessoas de idades e perfis variados. Mas poucos sabem de que carro se trata – o que Recacho não acha ruim. “A sensação de exclusividade é maravilhosa. Ele chama mais atenção que um Camaro ou Mustang. As perguntas são tão frequentes que até meu filho de oito anos, que me acompanha nos passeios, já sabe a ficha técnica completa do carro.”
O filho, aliás, é apaixonado pelo Chevelle e proibiu o pai de vendê-lo. Mas Recacho nem cogita essa ideia. “Recebi uma ótima proposta, mas não o comprei para fazer dinheiro, e sim para realizar um sonho. Não canso de olhar para ele.”
Há uma outra razão que prende o comerciante ao esportivo: a melhora na qualidade de vida. “Meu trabalho é estressante e meu médico disse que eu poderia sofrer um enfarte se não reduzisse o ritmo. O Chevelle me distrai dos problemas. Todo dia faço alguma atividade ligada a ele”, explica. “De quebra, acabei ficando mais próximo de meu irmão, que também curte carros antigos.”