No início, parecia que eles estavam muito distantes da nossa realidade. Aos poucos, foram chegando, de forma tímida e sem fazer barulho – literalmente. Agora, os carros eletrificados estão entre nós, em número cada vez maior. A terminologia serve para designar veículos puramente elétricos e os híbridos (que conjugam motores a combustão e elétricos).
O Brasil está atrasado nessa corrida. Ao contrário de outros países, aqui ainda não há incentivos fiscais para a venda desse tipo de automóvel. De acordo com o diretor de Relações Públicas e Governamentais da Toyota, Ricardo Bastos, enquanto o Corolla recolhe 11% de IPI, por ter motor flexível, no híbrido Prius a alíquota é de 13%. Isso ocorre porque não há legislação específica para tributação de modelos eletrificados. O Prius traz motor elétrico e outro a gasolina.
Ainda assim, aos poucos esses carros vão ocupando espaço. A Toyota emplacou 2.405 unidades do Prius em 2017, um recorde (embora boa parte dos veículos pertença à frota da própria empresa). Nesta edição especial, mostramos o que já há nas ruas do País, e o que vem por aí. Avaliamos oito modelos, do minúsculo Renault Twizy ao esportivo BMW i8, passando pelo inovador Tesla Model S.
Conheça as particularidades dos carros em que o importante não é como o conta-giros sobe, mas sim como o marcador de nível de combustível (quando existe) demora para descer. Veja como se comportam os automóveis que estão trocando os postos de combustíveis pela tomada e o que isso deve significar em termos de preço na hora de recarregar a bateria, em vez de encher o tanque.
BMW i8 só falta levantar voo
Ele é tão baixo (1,29 metro de altura) e tem visual tão esportivo que muita gente pode pensar que sob a carroceria de linhas agressivas do BMW i8 há, no mínimo, um Vê-oitão. Mas o híbrido alemão tem um motor elétrico de 145 cv instalado nas rodas dianteiras e um pequeno 1.5 de três cilindros turbo a gasolina de 234 cv no eixo traseiro.
Juntos, geram 379 cv, e aceleram o esportivo de 0 aos 100 km/h em 4,4 segundos. A velocidade máxima é de 250 km/h. E tudo isso com baixo consumo. Em condições controladas, o i8 é capaz de rodar até 52 km com um litro de gasolina, de acordo com a fabricante.
Não chegamos a esses números, mas rodamos muito sem abastecer o tanque de 42 litros. Apenas “completamos” a bateria, que dá autonomia de cerca de 24 km no modo elétrico (no novo i8, que deve chegar este ano, a autonomia será de 53 km). Para completar, o carro tem portas do tipo tesoura.
Panamera híbrido combina luxo e economia
O Porsche Panamera 4 E-Hybrid, lançado em dezembro por R$ 529 mil, é a versão mais barata do sedã de luxo alemão, e deverá responder por 50% de suas vendas. O modelo tem um motor a combustão 2.9 V6 biturbo de 330 cv, que funciona em conjunto com outro elétrico de 136 cv. A potência combinada é de 462 cv, e o torque, de 71,4 mkgf.
As respostas ao acelerador são boas e a dirigibilidade é exemplar. Com esse conjunto, o sedã vai de 0 a 100 km/h em 4,6 segundos e chega a 278 km/h de máxima, de acordo com os dados da Porsche. A transmissão é automatizada de dupla embreagem e oito marchas. Segundo a montadora alemã, o Panamera híbrido vai a 140 km/h somente no modo elétrico. Portanto, sem gastar combustível.
O tempo de recarga das baterias varia de quatro a oito horas. O sistema fica alojado na traseira do carro, para melhor distribuição de peso. A suspensão a ar é item de série. A Porsche informa que a durabilidade das baterias é de 15 anos. Além disso, a empresa garante que a pilha não precisa, necessariamente, ser substituída inteira. Como o conjunto é formado por oito módulos, o reparo pode ser feito individualmente.
Tesla surgiu no anonimato para virar referência
Basta dar uma volta com o Tesla Model S para entender por que uma empresa sem nenhuma tradição no ramo conseguiu se tornar referência em veículos elétricos. Mesmo sem fazer nenhum barulho, o carro chama atenção por onde passa.
Além do belo visual esportivo, ao pisar no acelerador o “S” acelera instantaneamente. Em vez de dados como potência e torque, a Tesla destaca informações como potência da bateria (70 kWh, no modelo 70D), aceleração (0 a 96 km/h em 5,2 segundos) e autonomia (cerca de 400 km a 100 km/h constantes). Entre as características, além do total silêncio a bordo, o esportivo perde velocidade rapidamente quando se tira o pé do acelerador. Isso economiza pastilhas de freio.
A experiência ao volante foi rápida – o carro avaliado foi emprestado pela importadora independente Elektra –, mas foi possível deixar o Tesla “dirigir” um pouco sozinho. Basta acionar o modo Autopilot, de direção autônoma.
A tração é integral, o porta-malas é espaçoso e praticamente todas as funções são controladas por meio da enorme tela central de 17 polegadas, o que inclui até abertura do teto solar. A unidade avaliada é da linha 2016 e custa R$ 650 mil.
Renault Twizy é um remédio contra a solidão
Ao volante do Renault Twizy, a impressão é de que você nunca está sozinho. Quando o semáforo fecha, é certo que alguém vai perguntar se é elétrico, quanto custa, qual a autonomia… Dai é só repetir as respostas de forma padrão: “Sim, é elétrico, autonomia de uns 60 km, máxima de 80 km/h, não está à venda no Brasil.”
Poucos carros chamam tanta atenção como esse quadriciclo com capota. Além de atrair a curiosidade pelo tamanho, o Twizy conquista pela simpatia. A bordo do Renault, não se sente aquela hostilidade cotidiana entre motoristas. Em vez disso, como não há janelas, todos concluem que o motorista está disponível para conversas.
Fora o fato de que você passa calor no verão, frio no inverno e se molha na chuva, o Twizy é ótimo. Além de ser ágil, o carrinho para em qualquer lugar. A direção do Renault também é muito sensível e ele chacoalha bastante sobre piso irregular.
As portas abrem-se para cima e há mais espaço para o motorista do que no Fiat Mobi ou no Renault Kwid, por exemplo. Se fosse vendido aqui, a estima-se de preço é de uns R$ 100 mil.
Beleza do Prius está na economia de combustível
Ao volante do Prius, quase não se ouve barulho do motor. Fora o ruído dos pneus sobre a pavimentação, o que se escuta é o barulho dos motores dos outros automóveis.
Como a maioria dos eletrificados, o Prius é tão silencioso que a gente até consegue perceber se o carro ao lado tem falha em algum cilindro ou precisa de regulagem de válvulas.
Além disso, o nível de combustível insiste em não baixar. Com apenas um tanque de gasolina (de apenas 43 litros), deu para rodar por uma semana, em um roteiro que mesclou tráfego intenso na cidade e uma esticada até a praia.
Ao final de 580 km, a média foi de 15,4 km/l na cidade e 20,8 km/l na estrada. Os números divulgados pelo Inmetro são de 18,9 km/l e 17 km/l, respectivamente. E o melhor: o desempenho é muito bom.
No trânsito, o Prius, que sai a R$ 126.600, pode se movimentar apenas com o motor elétrico (de 72 cv). O 1.8 a gasolina fornece outros 98 cv, e, além de mover o carro, recarrega a bateria. A potência total é de 123 cv. O senão é o visual polêmico. Mas isso é questão de gosto.