Renault Duster e Peugeot 2008 têm mais pontos em comum que a origem francesa de suas fabricantes. Os dois utilitários-esportivos ocupam a mesma faixa de preço – são R$ 81.490 pelo Duster Dynamique e R$ 78.590 pelo 2008 Allure – e receberam novos câmbios automáticos. Por isso, voltam a se enfrentar em um comparativo.
O Duster ganha em espaço interno, leva 120 litros a mais no porta-malas que o rival, tem seguro bem mais barato e traz controles de tração e estabilidade. Por outro lado, o 2008, além de custar menos, é superior em acabamento, conforto e ergonomia e tem números ligeiramente melhores em desempenho e consumo de combustível. Por isso, saiu vitorioso neste duelo.
No caso do Renault, o novo câmbio CVT preenche uma importante lacuna na gama do modelo. Até então, o consumidor que não quisesse um Duster com pedal de embreagem tinha de optar pela versão com motor 2.0, cara e beberrona. Ao combinar o 1.6 com a transmissão de relações infinitas, o Duster ganhou uma configuração bem mais interessante.
O novo conjunto parece ter sido feito sob medida para quem roda muito na cidade. O motor prima pelo baixo nível de ruído, sobretudo em uma tocada mais tranquila. A menos que se acelere de forma vigorosa, o ponteiro do conta-giros dificilmente ultrapassa as 2 mil rpm, graças ao acerto da transmissão, voltado ao baixo consumo.
Em arrancadas e retomadas de velocidade agressivas, há um certo torpor, típico das caixas CVT: o giro sobe rápido até 4 ou 5 mil rpm, mas o carro demora para deslanchar. De qualquer forma, basta estabilizar em ritmo de cruzeiro, em qualquer velocidade, que os giros recuam para baixo das 2 mil rpm.
O Peugeot já tinha opção automática, mas com apenas quatro velocidades. Essa limitação cobrava seu preço em rodovias: o propulsor trabalhava em faixa de giro bastante elevada e em ultrapassagens forçavam a redução para a terceira marcha. A nova transmissão de seis velocidades aproveita melhor o potencial do motor e não deixa mais o 2008 “amarrado”.
A vantagem da caixa automática convencional é o comportamento mais previsível. O motorista consegue se sentir no controle mesmo sem usar o recurso das trocas manuais por meio da alavanca. Modulando o pedal do acelerador, dá para fazer a transmissão subir e descer marchas quando necessário.
No trânsito urbano, o conjunto atua com suavidade e permite ao Peugeot ganhar velocidade com desembaraço. A transmissão privilegia as marchas mais altas, favorecendo a economia de combustível. Porém, em situações como aclives severos, o câmbio hesita em fazer as trocas, prolongando as marchas sem necessidade.
Na estrada, a caixa trabalha em giro mais alto que a do Renault (2.800 rpm a 120 km/h), embora o bom isolamento acústico não comprometa a tranquilidade da viagem.
Se o tipo de câmbio acaba ditando o comportamento de cada modelo, no fim das contas o desempenho de ambos é similar, pois as potências e faixas de torque são muito próximas. Se os números de aceleração do 2008 são um pouco melhores, a olho nu os dois entregam agilidade suficiente para o uso cotidiano, sem sobras. Quem busca desempenho ficará mais satisfeito com as versões de topo, em especial a do 2008, com seu 1.6 turbo de 173 cv.
O 2008 cedido para as fotos desta página é da versão Griffe.
Cabine do 2008 é caprichada; a do Duster é mais espaçosa
O grande trunfo do Duster é o generoso espaço interno, sobretudo no banco traseiro, em que os passageiros têm maior área livre para cabeça e pernas que no 2008, mesmo com os assentos dianteiros recuados.
Mas o que a cabine do Renault tem de ampla, tem de rústica. Enquanto o Peugeot mescla diferentes materiais e texturas no acabamento, o Duster abusa de plásticos duros – algo aceitável em um Logan 1.0, mas que incomoda em um carro de mais de R$ 80 mil.
O desenho moderno do painel do 2008, com linhas rebuscadas e instrumentos em posição elevada, deixa ainda mais evidente o quanto o Duster é simples. Comparado com o Peugeot, o interior do Renault parece estar duas décadas atrás. O visual, nascido com o Logan europeu em 2004, está cansado e pede renovação urgente – o que já ocorreu com o Duster vendido na Europa.
Ergonomia é outro ponto fraco do Renault. Os bancos amparam mal as costas e têm apoios de cabeça duros e recuados demais. Os bancos do 2008 são mais anatômicos, têm mais apoio lateral e sustentam melhor o motorista.
Em termos de conteúdo, o Duster Dynamique sai na frente por oferecer controles de estabilidade e tração, itens ausentes no 2008 Allure – que também não tem câmera atrás e rodas de liga leve. Por outro lado, só a central multimídia do 2008 é compatível com os recentes sistemas Apple Car Play e Android Auto.
Opinião: Entre a ‘peruona’ e o ‘jipão’, escolha do estilo é bem pessoal
Os novos câmbios fizeram maravilhas no Duster e no 2008. Confesso que minha surpresa foi maior com o Renault. O novo conjunto vai muito bem no trânsito urbano, situação em que silêncio e economia são preciosos. Nessa configuração, o Duster ficou mais gostoso de dirigir. Quanto ao 2008, aposentar o antigo câmbio de quatro marchas era só uma questão de tempo e eliminou a maior deficiência do modelo. Os dois modelos têm desempenho parecido e a escolha se pautará pelo gosto de cada um. Como não sou um grande fã de SUVs, eu ficaria com o Peugeot. Mais baixo, o 2008 tem dirigibilidade mais próxima à de uma perua, além de um painel sedutor. Já quem prefere um jipão com visual mais parrudo e robusto, que aparenta não ter medo de eventualmente encarar estradas de terra, certamente se dará melhor com o Duster.
PRÓS E CONTRAS
PEUGEOT 2008 ALLURE
Prós: Posição de dirigir. Além de o banco do motorista ser mais anatômico e confortável,
instrumentos em posição elevada têm boa visualização.
Contras: Espaço traseiro. Cabine do Peugeot é menor do que pode parecer. Atrás, pessoas altas vão raspar a cabeça no teto.
RENAULT DUSTER DYNAMIQUE
Prós: Espaço. Com boas dimensões o habitáculo recebe cinco pessoas melhor que o rival. Além disso, porta-malas tem 120 litros a mais.
Contras: Acabamento. Excesso de plásticos duros e simplicidade deixam a desejar para um carro que custa mais de R$ 80 mil.