Um dos movimentos mais inesperados da indústria automobilística no Brasil em 2017 foi a compra, em novembro, de metade da operação da chinesa Chery no País pelo Grupo Caoa, que hoje opera no País a Subaru e a Hyundai (com exceção das famílias HB20 e Creta). A transação teve valor de US$ 60 milhões e incluiu a planta da Chery em Jacareí (SP) – a única fábrica de uma montadora chinesa no Brasil.
Com esse passo, a operação da Chery no País passou a se chamar Caoa Chery e ser conduzida em conjunto por executivos da China e do Brasil, cada qual com sua metade. O grupo já divulgou que fará um investimento de US$ 2 bilhões nos próximos cinco anos. O empurrãozinho pode ser a chance que faltava para a chinesa ter alguma expressividade.
A Chery ergueu a fábrica de Jacareí em 2014, em um terreno de 1 milhão de metros quadrados. Com o investimento, de US$ 500 milhões, ela esperava abocanhar uma fatia de 3% do mercado nacional, meta que nunca esteve perto de ser concretizada – sua atual participação gira em torno de 0,2% do mercado.
Por enquanto, a Chery vende aqui o subcompacto QQ e o compacto Celer, este em configurações hatch e sedã. O Celer, aliás, prepara uma saída de cena à francesa, liberando espaço na linha de montagem ao Tiggo 2, SUV compacto revelado no Salão do Automóvel de São Paulo de 2016 e que já está em testes de rodagem.
Possíveis novidades na gama da Chery
Com a nova operação a quatro mãos, a gama de produtos da Chery deve ganhar novidades. Em declarações anteriores à imprensa, porta-vozes da marca acenavam com a possível vinda dos SUVs irmãos Tiggo 5, Tiggo 7 e Tiggo 9, além dos sedãs Arrizo 5 e Arrizo 7, mas esses modelos já estão no mercado chinês há um certo tempo e chegariam defasados ao Brasil, o que pode não ser conveniente para uma fabricante que quer se renovar.
Uma possibilidade interessante no horizonte é o Exeed TX, protótipo exibido no último Salão de Frankfurt, na Alemanha. Há algumas semanas, a Chery Caoa publicou em revistas um “teaser” com uma imagem desse conceito, insinuando que ele poderia vir ao Brasil.
Feito para o mercado europeu – com o qual a chinesa tem flertado mais a sério, inclusive por meio da contratação de engenheiros e designers de montadoras alemãs de luxo como Mercedes-Benz e BMW – esse modelo seria capaz de dar um bom sopro de renovação à imagem da marca, ainda bastante associada a carros baratos e precários. A promessa de uma garantia de 7 anos deve ajudar a turbinar o pós-venda, também objeto de desconfiança entre os consumidores.
Caoa fica com duas fábricas ativas
Para a Caoa, a transação significa ter uma segunda fábrica no País – a primeira é a de Anápolis (GO), onde ela produz os modelos ix35, Tucson, New Tucson e HR, todos com bandeira Hyundai. As instalações de Jacareí podem produzir até 150 mil veículos por ano.
Os modelos de origem chinesa serão produzidos tanto em Jacareí como em Anápolis. A produção dos carros da Hyundai pela Caoa é objeto de contratos de licença, renováveis periodicamente – o próximo vencimento é neste ano.
Há rumores no mercado de que a sul-coreana pretende encerrar o relacionamento com o grupo Caoa e deslocar a operação de todos os seus modelos para a Hyundai Motor Brasil, que fabrica HB20 e Creta no País. Se isso acontecer, é bom que o interesse do brasileiro pelos novos carros com a marca Chery Caoa seja grande o suficiente para manter as duas fábricas ocupadas.