Até o fim de 2017, a S10 e a Ranger eram as picapes médias com motor turbodiesel mais potentes à venda. Tanto o 2.8 de quatro cilindros da Chevrolet quanto o 3.2 de cinco cilindros da Ford rendem 200 cv. Como comparação, a líder de vendas da categoria, Toyota Hilux, tem um 2.8 de 177 cv. Agora, a Amarok chegou elevando ainda mais o patamar. Com seu novo 3.0 V6, que acaba de estrear nas lojas, o modelo da VW conta com 225 cv sob o capô.
Mas números são frios e não contam a história completa. Por isso, convocamos as três não apenas para um tira-teima de potência e torque (no qual a nova Volkswagen também é superior), mas também para um embate que inclui conforto, equipamentos e espaço, entre outros quesitos.
O novo V6 está disponível apenas na versão de topo da Amarok, Highline, que parte de R$ 184.990. A S10 comparece na configuração High Country (R$ 185.990) e a Ranger, na Limited, a R$ 190.990 (a picape das fotos é XLT). Todas têm tração 4×4, bom nível de equipamentos e capacidade de carga acima de 1 tonelada.
A briga foi acirrada, principalmente entre Amarok e Ranger. O modelo da Ford leva vantagem na garantia (cinco anos) e na segurança (tem sete air bags e sistema de permanência em faixa, por exemplo), mas é a mais cara do trio. No final, prevaleceu a força da Amarok.
3º Chevrolet S10
O motor 2.8 turbodiesel da picape da Chevrolet é o menor do trio que disputa este comparativo, mas a S10 não desaponta. Mesmo com um cilindro a menos que a Ranger, o quatro-cilindros garante bom desempenho à S10 – a mais leve das três, com 2.101 kg, e a única do trio produzida no Brasil.
São 200 cv, a mesma potência da Ranger. Em torque (51 mkgf), a S10 até supera a oponente da Ford (47,9 mkgf), apesar da grande inferioridade na cilindrada. Segundo dados da Chevrolet, a S10 com tração 4×4 vai de 0 a 100 km/h em 10,3 segundos, e pode chegar a 180 km/h de máxima. A capacidade de carga é de 1.049 kg.
Em baixa rotação, ela é a mais ruidosa das três. A suspensão bem ajustada garante conforto aos ocupantes, mesmo com a caçamba vazia. A versão High Country traz alerta de risco de colisão e de saída de faixa de rodagem, mas, ao contrário da Ranger, não faz correções no volante, nem aplica freios.
O acabamento é bom e o painel tem revestimento macio, agradável ao toque. Na tela do sistema multimídia de 8″, os “botões” das emissoras de rádio ficam na base do monitor, em posição desconfortável de mexer. E a imagem da câmera na traseira é ruim no escuro. No quesito segurança, há apenas o par de air bags frontais, obrigatório por lei.
2º Ford Ranger
A Ranger não tem meias palavras. Quando o motorista pressiona o acelerador, o motor ruge alto, num tom grave, e a picape de 2.261 kg parte com disposição. Embora tenha um cilindro a menos que a Amarok (são cinco, em linha), o motor dessa Ford é o maior do trio (3.2). A disposição é tanta que é até difícil dosar a aceleração. São 200 cv e 47,9 mkgf.
Entre os pontos altos da picape produzida na Argentina estão a tecnologia e o conforto. A Ford é a única da categoria a oferecer controle de cruzeiro adaptativo (mantém a distância do carro da frente), alerta sobre o risco de colisão frontal e mantém o carro na faixa, corrigindo o volante.
Além de toda essa tecnologia invisível, voltada à segurança (e disponível somente na versão Limited), a Ranger é a única a vir com quadro de instrumentos digital configurável: o motorista pode decidir se quer ou não visualizar o conta-giros, por exemplo. O sistema multimídia Sync 3 é também o mais intuitivo das três.
A Ford leva a melhor ainda na quantidade de air bags (sete, de série) e no quesito conforto. Além de vibrar pouco, a Ranger é a que trata melhor quem viaja no banco de trás. Por fim, é a que tem a maior garantia de fábrica: cinco anos.
1º Volkswagen Amarok
Basta pressionar o acelerador para a Amarok mostrar suas aptidões. O motor V6 garante agilidade impressionante à picape de 2.185 quilos. De acordo com dados da Volkswagen, a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em meros 8 segundos e a máxima é de 190 km/h. Não é à toa: o 3.0 é praticamente o mesmo utilizado no utilitário-esportivo Q7, da Audi (marca do Grupo VW).
Além dos 225 cv de potência, o torque de 56,1 mkgf também é o maior da categoria no País, o que favorece a agilidade. Adicionalmente, há a função overboost, ativada quando o acelerador é mais exigido (em ultrapassagens, por exemplo). Nesse caso, momentaneamente a potência chega a 245 cv (mais 20 cv) e o torque sobe para 59 mkgf (mais 3 mkgf).
E a vantagem que chama a atenção no motor continua no câmbio. A Amarok é a única da categoria no País com câmbio automático de oito marchas, duas a mais que as concorrentes. Mais que isso: nela o 4×4 é permanente, o que dispensa o seletor manual de tração.
Além disso tudo, A Volkswagen é ao mesmo tempo rápida e silenciosa. Às vezes, o V6 passa a impressão de ser movido a gasolina, de tão “quieto”. Para segurar tanto ímpeto, o modelo feito na Argentina vem com discos de freio também na traseira, exclusividade no segmento.
O único ponto negativo é a vibração, superior à observada nas duas concorrentes, e que afeta principalmente quem vai no banco traseiro. Pode ser que as rodas de 19 polegadas (único opcional dessa versão), presentes na unidade avaliada, potencializem esse sintoma. De série, o modelo vem com rodas de 18”, assim como nas oponentes.
Além de impor respeito em movimento, a nova versão da picape da Volkswagen se destaca pelo porte. Com linhas retas e retrovisores enormes (e destacados da carroceria), a representante da marca alemã é a mais imponente do trio. Tem 2,23 metros de largura (de espelho a espelho). Para comparação, são sete cm a mais que na Ranger.
Mesmo parada em uma subida íngreme a Amarok revela qualidades: é a única das três que consegue manter as portas abertas. Além disso, só a Volkswagen tem ajustes elétricos também no banco do passageiro da frente. E seus assentos, com bons apoios laterais, são mais confortáveis que os das rivais.
OPINIÃO: Amarok V6 quase faz a gente se esquecer do ‘Dieselgate’
Quando as palavras “diesel” e “Volkswagen” aparecem na mesma frase, é natural que a gente se lembre do Dieselgate. Ele foi um dos episódios mais escuros na história recente da Volkswagen. Só para relembrar, a empresa alemã utilizava um dispositivo ilegal em seus motores a diesel, que mascarava o nível de emissão de poluentes quando o veículo estava sendo submetido a testes.
O resultado foi catastrófico tanto para a imagem como para as finanças da companhia. Ela teve de pagar multas milionárias, especialmente nos EUA.
A Amarok V6 é a prova de que o tempo cicatriza feridas. O novo propulsor funciona tão silenciosamente que faz a gente achar que sob o capô há um motor a gasolina. Essa picape da Volkswagen tem desempenho tão bom que às vezes nem parece que é movida a diesel. Como esse segmento é muito importante no Brasil, as outras marcas terão de correr atrás da VW. E muito.