O financiamento é uma solução muito usada pelos brasileiros para fazer o preço do carro desejado caber no bolso. Cerca de 30 mil transações desse tipo são celebradas todos os dias no País, de acordo com dados da Cetip, empresa que integra títulos no mercado financeiro.
Para o consumidor, trata-se de um grande compromisso financeiro, que deve ser assumido com cautela. Os financiamentos têm muitas pegadinhas. E uma decisão errada pode ter um impacto enorme no orçamento.
O planejador financeiro Daniel Gama, certificado pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), mostra quais são as armadilhas mais comuns nesse tipo de negócio. E ensina alguns cuidados que podem ajudar o financiamento a pesar bem menos no bolso.
Não olhe apenas para a taxa de juros
Ao compararem os financiamentos oferecidos por diferentes instituições, muitos consumidores olham apenas para o valor da taxa de juros do plano. Isso não é suficiente, já que existem diversas outras taxas e encargos que serão embutidos no custo total.
Assim, o que realmente deve ser considerado antes de contratar é o Custo Efetivo Total (CET), que é a soma de todas as despesas e encargos incidentes na operação. “Quanto menor for o CET, mais barato sairá o bem e melhor para o consumidor”, diz Gama.
Desde 2007, a lei passou a exigir que o CET seja informado ao cliente. O que não quer dizer que essa informação esteja em destaque. “Esqueça a taxa de juros, pegue uma lupa e corra para as letras pequenas do anúncio. É lá que provavelmente estará o CET, expresso em números percentuais que permitem a comparação direta entre planos diferentes”, ensina o especialista.
Não aceite pagar taxas ilegais
Fique esperto: para aumentar seus lucros, diversas financeiras tentam empurrar para o cliente taxas adicionais. Algumas delas são efetivamente ilegais. Outras até são permitidas, mas o consumidor pode negociá-las junto à instituição.
“Entre as taxas ilegais, as mais comuns são a Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), a Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e a Tarifa de Emissão de Boleto (TEB)”, avisa Gama. “Elas não devem ser aceitas pelo tomador do financiamento sob qualquer hipótese, pois não fazem parte do rol taxativo do Banco Central.”
Já a Tarifa de Cadastro até pode ser cobrada, caso o cliente não seja correntista daquela instituição. Mas muitas financeiras pedem valores absurdos. A dica é negociar. “O site do Banco Central tem uma página de consulta com valores que devem ser usados como parâmetro de negociação”, conta o planejador financeiro. “A Tarifa de Cadastro, por exemplo, tem valor médio de R$ 465,42 na página do órgão. Tente chegar a um valor próximo a esse”, sugere.
Não caia na lorota do “juro zero”
É muito comum ver a expressão “juro zero” ou “taxa zero” como um chamariz para atrair o consumidor para o financiamento. Nesses casos, as parcelas costumam ter um valor fixo sabido desde o início, e não um valor variável ao longo dos meses, o que ajuda a induzir o consumidor a acreditar na ideia de que não está pagando juros. Atenção: trata-se de uma armadilha.
“Essa talvez seja a maior pegadinha do mercado brasileiro de crédito”, afirma Gama. “Não existe operação financeira com juro zero. Na verdade, os juros estão sempre embutidos no valor total do financiamento, mesmo quando o valor das parcelas é fixo.”
Para que realmente se pudesse falar em juro zero, afirma o especialista, o preço final do carro deveria ser o mesmo praticado na venda à vista. “Em geral, não é o que ocorre. Até porque a negociação à vista costuma levar a um desconto no preço. Isso só ajuda a provar que o preço supostamente financiado a ‘juro zero’ já possui os verdadeiros juros embutidos de forma velada.”
Resista à tentação de “espichar” o financiamento
Muitos consumidores ficam tentados a alongar o prazo de parcelamento, para reduzir o valor das prestações mensais. Isso parece tornar a quitação do financiamento mais suave, mas é justamente o contrário.
“Cria-se um efeito psicológico de maior tranquilidade na quitação das parcelas. Mas esse artifício é ilusório e prejudica o comprador. Quanto maior o prazo, maior a incidência de juros e mais caro ficará o bem financiado,” avisa Gama. “O melhor é tentar sempre juntar mais dinheiro, para dar uma entrada maior e reduzir o montante parcelado.”
Não comprometa demais seu orçamento
Outro cuidado a ser tomado ao começar um financiamento é não comprometer em demasia o orçamento. A lei permite contrair empréstimo com desconto de até 35% do que for recebido em folha de pagamento. Mas o planejador financeiro recomenda não atingir esse teto.
“Na prática, isso acabaria pesando demais na situação financeira do consumidor, já que todas as outras necessidades familiares também recaem sobre essa mesma fonte de renda”, diz Gama. “Por isso, o mais prudente seria comprometer no máximo 20 ou 25% da renda com o financiamento do veículo.”
Lembre-se: o custo do carro vai muito além da prestação
Na hora de calcular se o carro sonhado cabe ou não no bolso, um erro frequente é considerar apenas o valor da prestação. E esquecer dos custos da manutenção do veículo, que pesam bastante no bolso. IPVA, licenciamento, seguro, combustível, lavagens e reparos mecânicos são alguns exemplos.
“Leve em conta que o IPVA corresponde a cerca de 4% do valor do veículo. O seguro corresponde a outros 5% desse valor. Já os gastos com combustível em um carro popular, ao longo de um ano, podem chegar a outros 10%. Calcule em média mais 4% com manutenção e 2% com lavagens e limpezas”, diz Gama. “Em uma análise bastante simplista, o tomador do financiamento deve estar preparado para uma despesa anual que pode chegar a até 25% do valor do veículo em si.”