Quando o advogado Edson Vitorello chegou à casa do cliente que acompanharia em uma audiência trabalhista, foi recebido com grande surpresa. Afinal, ele não avisou que estaria acompanhado por ninguém menos que O Poderoso Chefão. Tamanho espanto se justifica. “O Poderoso Chefão” é um reluzente Ford Mustang 1966 que ocupa lugar de destaque na coleção de antigos do advogado. E também em seu ambiente de trabalho: o esportivo aparece em fotos exibidas na sala de Vitorello, no hall e na sala de reuniões de seu escritório.
“Muitos dos meus clientes perguntam se eu peguei essas fotos na internet, ou se o Mustang é meu sonho de consumo. Respondo: ‘não, é o meu carro mesmo’”, conta o advogado. “Alguns ficam intimidados, temendo que eu cobre caro pelo meu trabalho. Mas as fotos são também uma ótima maneira de quebrar o gelo e iniciar uma conversa. Por elas, descobri que tenho clientes que também curtem antigos, e alguns até viraram meus amigos.”
Foi pelas mãos de um grande amigo, aliás, que O Poderoso Chefão entrou na vida de Vitorello. “Quando ele me mostrou o carro, em 2012, foi paixão à primeira vista. Mas não aceitei dirigi-lo, com medo de que acontecesse alguma coisa”, o advogado recorda.
O esportivo já estava íntegro quando foi adquirido do proprietário anterior. Mas o amigo de Vitorello não se deu por satisfeito: desmontou o carro e o restaurou minuciosamente.
Durante o processo, que se estendeu por um ano e meio, a carroceria recebeu tinta na cor Marrom Emberglow, que fez bom par com um novo teto de vinil, em tom creme.
No final de 2013, o amigo revelou que planejava vender o Mustang. O advogado tomou coragem e fez uma oferta. “Elaborei uma proposta com pagamento parcelado, dentro do que poderia honrar. Na pior das hipóteses, ouviria um ‘não’.”
A resposta positiva chegou como um presente de aniversário, em 24 de janeiro de 2014. “Meu amigo deu um beijo no capô do Mustang, como quem beija o focinho de um cavalo. Disse que havia sido muito feliz com o carro e esperava que ele me trouxesse a mesma alegria”, lembra o advogado.
Vitorello só guiou o muscle car pela primeira vez depois de ter fechado negócio. Afinal, diante de um trabalho de restauração feito com tanta qualidade, ele sabia que não tinha razões para se preocupar.
“O Ford parecia recém-saído da concessionária. Tudo novinho em folha, da tapeçaria aos detalhes, todos os parafusos no lugar. Ele recebeu a placa preta com 98% de originalidade certificada”, orgulha-se.
Desde então, O Poderoso Chefão tem sido revisado a cada seis meses em uma oficina especializada e só passou por reparos pontuais, conforme a necessidade. Foram trocados motor de arranque, velas e freios.
Agressivo por natureza
Na primeira viagem, ao ver do que o esportivo era capaz, Vitorello soltou uma exclamação: “Que carro!”. Ele garante que dirige de forma responsável, mas já chegou a 180 km/h para testar as respostas do motor.
“É um carro agressivo por natureza. Se você se distrair, num instante já está a 150 km/h”, ele define. “Em todas as ultrapassagens mais fortes que fiz, ele nunca me deixou na mão.”
Um dos rituais prazerosos que ele cumpre com o Mustang é levar a família para um almoço fora da capital paulista no Dia dos Pais. Nessas ocasiões, quem vai na frente ao seu lado é o filho Vitor, de 24 anos. A esposa e a filha de Vitorello viajam no banco traseiro.
É aí que o Ford revela uma de suas limitações: o espaço interno. “O carro é espetacular para duas pessoas, mas um pouco apertado para quatro”, reconhece o proprietário.
O filho Vitor, por sinal, também aprecia antigos e guia todas as unidades do acervo do pai – com exceção d’O Poderoso Chefão. “Ele não quer dirigi-lo nem mesmo ao meu lado. Diz que eu vou ficar chateado se baterem no carro”, diverte-se.
“Mas meu sonho é dar o carro para ele em vida. Vou passá-lo para o nome de meu filho quando ele fizer 50 anos. E, se eu morrer antes, todos sabem que o carro é do Vitor.”
Se o Mustang já está predestinado, não faltam propostas indecorosas de interessados em comprá-lo e tentar mudar o rumo dessa história. Mas os laços de afeto de Vitorello com o amigo e o filho são mais fortes. “Já recebi ofertas bem ousadas”, conta o advogado. “Mas, com tanto sentimento envolvido, eu seria incapaz de revendê-lo.”