Design de automóveis: os feios que me perdoem!

Pessoal da BMW odiava tanto o designer Chris Bangle que ”mudou” o significado da marca para “Bangle Muss Weg”

Hyundai HB20 foi inteiramente modificado na linha 2020 Crédito: Hyundai/Divulgação

Quando a Fiat lançou o Uno no Brasil, seu formato meio exótico gerou um apelido: “bota ortopédica”. Mas logo vieram as explicações dos marqueteiros de Betim: se o carro agrada à primeira vista, seu visual se esgota rapidamente. Se provoca controvérsias, é sinal de que vai emplacar, principalmente se o design foi de Giorgio Giugiaro. Design de automóveis sempre foi sujeito a chuvas e trovoadas.

Nem Ferrari escapa: quando foi apresentada a FF (quatro lugares, tração nas quatro) em 2011, muitos fãs da marca não entenderam a traseira tão desconjuntada. Mas muitos pensaram o contrário. Beira a iconoclastia discordar de um designer italiano chamado Pininfarina.

Um norte-americano que conseguiu dividir opiniões na Alemanha foi Chris Bangle, designer na Opel e Fiat antes de assumir o centro de estilo da BMW em 1992.

Continua depois do anúncio

Foi responsável por inúmeros lançamentos da marca, a maioria despertando controvérsias. Mas o sedã série 7 de 2002 foi o campeão de críticas e incluído em matéria da revista Time entre os 50 mais feios automóveis do mundo, principalmente pelo estranho perfil da traseira.

Ele deixou a BMW e o setor automobilístico em 2009 para montar seu próprio estúdio de design.

A turma mais conservadora da marca comemorou sua saída, desejada há anos e que ganhou até slogan: Bangle Muss Weg, (em alemão, Bangle tem que ir embora), numa brincadeira com as iniciais da própria marca.


Chris Bangle ainda deixou “sequelas” em lançamentos posteriores, um deles o SUV X6, lançado no ano em que deixou a empresa. O X6 tem um estilo típico de Bangle, que perfil traseiro fortes, agressivo e nada harmonioso.

Quem apoia Bangle tem um argumento em seu favor: o série 7 de 2002 (carroceria E65) foi campeão de vendas e o SUV X6, além de ir muito bem no mercado, ainda ganhou “meia cópia” da Mercedes, o GLC lançado em 2015.

Design de automóveis: controvérsia exige talento

Muito se discute sobre o design de automóveis. O conceito básico de que a forma deve contemplar função muitas vezes é negligenciado pelo projetista. A unanimidade se dá nas duas direções: automóveis de linhas extravagantes podem encantar ou desapontar. A dificuldade é fugir do lugar comum, criar algo diferente ou exótico que provoque controvérsia, mas ser bem sucedido, o que exige muito talento.


A imprensa não perde a oportunidade de relembrar Vinicius: “as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. E adora destacar carros exóticos em suas listas dos mais feios. Entre os mais famosos nos EUA, o Pontiac Aztek e o Ford Edsel. Na Europa, o Aston Martin Lagonda e o Fiat Multipla. Na Coreia do Sul, o SsangYong Action.

No Brasil, alguns projetos locais também causaram estranheza. Na Renault, o Clio sedã e o Logan. O Doblò da Fiat e a picape Hoggar da Peugeot. Na GM, o designer Carlo Barba “caprichou” em três modelos: Agile, Montana e Spin (também conhecida como “capivara”). O primeiro foi desativado, os dois outros rapidamente reestilizados.

As controvérsias do design de automóveis voltam no Brasil com o recente lançamento do Hyundai HB20. As novas linhas agradam, principalmente a traseira do sedã. Mas “Calcanhar de Aquiles” é a nova grade, de grandes proporções e que divide opiniões.


Exatamente como na Audi há 20 anos, ao adotar uma grade enorme, meio trapezoidal e chamada de single frame (moldura única). Alterada dez anos mais tarde para um formato hexagonal, dura até hoje. Quem estava na área de estilo da marca alemã, naquela época, era Peter Schreyer. Que foi depois (até recentemente) chefiar o setor de design da Kia-Hyundai. Se teve dedo de Schreyer em ambas, ninguém sabe. Seria coincidência?

O mercado acabou absorvendo o “estilão” frontal dos Audis. A “bota ortopédica da Fiat foi sucesso de mercado durante 30 anos.  Mas o Ford Edsel foi um tremendo fracasso de vendas…

Interrogação no ar sobre a reação do mercado ao novo design frontal do HB20: pega ou não pega?


Mais Artigos

Preço do carro não para de subir. Parte da culpa é de quem reclama

Exigências governamentais de segurança e baixas emissões encarecem o carro. Mas a preferência dos consumidores também estimula as fábricas

Quem matou o motociclista de Uberaba?

Desrespeito à legislação provoca acidentes, alguns somente com prejuízos financeiros… Mas outros são fatais 

Milhões de km de testes… E os carros não param de dar defeito

Um pUm presidente de montadora tão honesto que confessou o inconfessável: a má-qualidade dos carros que fabrica e venderesidente de montadora tão honesto que confessou o inconfessável: a má-qualidade dos carros que fabrica e vende

E se o petróleo acabasse amanhã?

São dezenas de projetos para a energia “limpa”, desde uma cópia da locomotiva até o elétrico a partir do etanol

Deputado insano quer permitir importação de carros usados

Projeto de lei surrealista que está circulando na Câmara dos Deputados transformaria o Brasil num sucatão internacional de automóveis

Caminhoneiros convencem Bolsonaro (quem diria…) a reduzir teor de biodiesel

Mistura de diesel e biocombustível acima de 10% pode emperrar o motor, mas governo baixou mistura para baixar o preço

Continua depois do anúncio