Grosseria de Mr Trump destrava língua de Herr Diess

Inconfidência do presidente mundial da VW revela que acordo com a Ford vai muito além da anunciada parceria de projetos para veículos comerciais

trump-edit-1107x827 Crédito:

A guerra tarifária entre EUA e China atingiu a indústria automobilística no fígado. Não só pelo aumento nos impostos de importação dos automóveis, como também do alumínio e do aço, dois itens de peso relevante no custo final de sua produção.

Além do aumento nos custos da produção, as fábricas de automóveis nos EUA contabilizam uma redução nas exportações devido às novas tarifas impostas pela China. Para tentar amenizar o problema, antes da trégua estabelecida entre os dois países há duas semanas, presidentes das principais fábricas de automóveis nos EUA se reuniram no gabinete do ministro de Trump encarregado dos negócios externo. Presentes na reunião os principais executivos da Ford, GM, FCA, Volkswagen, Mercedes e BMW.

Em certo momento, sem que nenhum assessor do ministério tivesse anunciado a chegada de alguém, abre-se a porta e entra o presidente Trump. Que cumprimenta com certo mau humor (até aí nenhuma novidade…) o grupo, é apresentado a cada um e, quando chega em Herbert Diess, presidente mundial da Volkswagen, ao invés do  tradicional “Nice to meet you” (“prazer em conhecê-lo”) ele sapecou, sem rodeios:  “O senhor por aqui? Achei que já estivesse preso!”

Continua depois do anúncio

Desnecessário mencionar o mal estar geral no grupo, que poderia ter imaginado qualquer comentário, exceto este provocado pelo escândalo do “dieselgate”, apelido da manobra (que veio à tona em 2015) feita pela Volkswagen nos EUA para ludibriar o regulamento de emissões dos motores diesel.

Trump fez a brincadeira (de mau gosto) certa com a pessoa errada. O presidente da VW  conivente com a maracutaia das emissões foi Martin Winterkorn, forçado a renunciar quando estourou o escândalo. Foi substituído por Matthias Müller, que ficou na presidência apenas por três anos: em abril de 2018 foi demitido e substituído por Herr Diess no comando da empresa.

Além disso, Diess não não teve nada a ver com o “dieselgate”, pois entrou para a VW (vindo da BMW) apenas em 2015. Trump provavelmente o confundiu com o engenheiro Oliver Schmidt, outro alto executivo da VW que trabalhava nos EUA e preso no início deste ano na Florida. Winterkorn também foi condenado pela justiça norte-americana e, se pisar de volta nos EUA, vai direto para atrás das grades…


Diess, totalmente desconcertado e, na tentativa de amenizar a situação, comentou que sua empresa e a Ford tinham estabelecido uma parceria para entre, outras, a Volkswagen utilizar capacidade ociosa das fábricas da Ford na produção conjunta de alguns modelos. Imaginou que estaria conquistando a simpatia de Trump, aborrecido naquele momento pelo anúncio da GM de estar fechando fábricas nos EUA e Canadá e demitindo cerca de 15 mil funcionários.

Mas o tiro meio que saiu pela culatra pois o que as duas empresas tinham anunciado era uma parceria exclusivamente para o desenvolvimento conjunto de novos projetos de veículos comerciais. Mas desenvolviam outros acordos mantidos estrategicamente sob sigilo para não prejudicar as negociações em andamento. Pelo menos um deles (produção conjunta) veio à tona com a língua de Herr Diess destravada pela grosseria de Mr Trump. O que, obviamente, incomodou profundamente os diretores da Ford

Previsões pouco animadoras para o futuro e dificuldades que se avizinham para o setor estão provocando o estabelecimento de alianças, parcerias e fusões de fábricas de automóveis em todo o mundo. Todas conscientes da necessidade de se adequar para não sucumbir diante de novos modelos de negócios e mobilidade cada vez mais próximos.


Não é por acaso o registro de movimentos similares aos anunciados pela Ford e Volkswagen entre diversos outros grupos da industria automobilística correndo atrás de eficiência e competitividade. E, por mais que possam despertar a ira de Mr. Trump, empresas irão fechar fábricas e demitir funcionários, por uma simples questão de sobrevivência.

Mais Artigos

Preço do carro não para de subir. Parte da culpa é de quem reclama

Exigências governamentais de segurança e baixas emissões encarecem o carro. Mas a preferência dos consumidores também estimula as fábricas

Quem matou o motociclista de Uberaba?

Desrespeito à legislação provoca acidentes, alguns somente com prejuízos financeiros… Mas outros são fatais 

Milhões de km de testes… E os carros não param de dar defeito

Um pUm presidente de montadora tão honesto que confessou o inconfessável: a má-qualidade dos carros que fabrica e venderesidente de montadora tão honesto que confessou o inconfessável: a má-qualidade dos carros que fabrica e vende

E se o petróleo acabasse amanhã?

São dezenas de projetos para a energia “limpa”, desde uma cópia da locomotiva até o elétrico a partir do etanol

Deputado insano quer permitir importação de carros usados

Projeto de lei surrealista que está circulando na Câmara dos Deputados transformaria o Brasil num sucatão internacional de automóveis

Caminhoneiros convencem Bolsonaro (quem diria…) a reduzir teor de biodiesel

Mistura de diesel e biocombustível acima de 10% pode emperrar o motor, mas governo baixou mistura para baixar o preço

Continua depois do anúncio