Lucas, mais uma no ‘Clube dos 40 mil’

Fabricas amedrontam motoristas e apelam para segurança ao recomendar troca desnecessária de seus componentes

cabo_de_ignicao_lucas Crédito:

Diz a crença popular que “7” é conta de mentiroso. Nos automóveis, o número “40” vem conquistando essa posição…

O “Clube dos 40 mil km” não para de crescer e empresas sugerem aos donos de veículos a troca de seus produtos nesta quilometragem. É o time da “empurroterapia” que se utiliza das mais variadas pi-ca-re-ta-gens para faturar às custas do motorista.

O chute inicial foi da Cofap, nos anos 90, com um simpático cachorrinho bassê em seus comerciais de tevê que vinha escorregando nas esquinas dos corredores para lembrar a importância dos amortecedores. E recomendava que, por questão de segurança, fossem substituídos aos 40 mil km. Não se sabe se o propósito de aumentar as vendas do produto foi alcançado, mas nunca se vendeu tanto cachorrinho bassê.

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Não existe prazo definido para troca de amortecedores, pois sua durabilidade depende das condições de uso do automóvel. Podem pifar aos 10 mil km como rodar mais de 100 mil km em condições satisfatórias.

Outras marcas de amortecedores resolveram surfar na mesma onda. A Monroe foi tão cara-de-pau que, em seu site brasileiro, recomendava substitui-los aos 40 mil km. Já no site norte-americano, apesar de ter mesmo design, ilustrações, fotos e informações, só diferia por estar escrito em inglês e, no capítulo do amortecedor, sugerir que fosse verificado a cada 80 mil km (50 mil milhas). Sem recomendar sua troca em momento algum.

Os mágicos 40 mil km estão sendo também utilizados por algumas oficinas para condenar o catalisador. Equipamento caro pois produzido com materiais nobres, sua vida útil num carro novo deve ser de, no mínimo, 80 mil km. Mas pode ir muito além, desde que opere em boas condições.


Surgiu então a ideia de se produzi-lo especificamente para o mercado de reposição, reduzindo custos e durabilidade pela metade, com quilometragem mínima de apenas 40 mil km. A partir daí, alguns mecânicos preocupados em inchar seu faturamento, passaram a condenar indistintamente qualquer catalisador acima dos 40 mil km.

A mais nova integrante

Esta quilometragem “mágica” está sendo usada por outra empresa que acaba de se agregar ao “clube: é a marca inglesa Lucas, especialista em equipamentos elétricos, que recomenda a troca dos cabos de ignição (levam corrente de alta tensão da bobina para a vela) também aos 40 mil km.

Ela declara em seu comunicado à imprensa (“release”) que problemas de funcionamento do motor podem ser provocados por cabos que já atingiram esta quilometragem. Questionada, ela diz ter havido um “engano de informação”, sempre a mesma desculpa.


Não se discute que amortecedores, catalisadores e cabos  podem exigir substituição, pois não conservam suas características eternamente. Assim como embreagem, pastilha de freio ou pneu.

O novo sócio do Clube dos 40 mil parece ignorar que estes cabos podem durar centenas de milhares de quilômetros. Mas, se pifam antes, não é complicado verificar: visualmente ou aparelhos simples e baratos testam sua eficiência e determinam a necessidade ou não de trocá-los.

Lucas, Príncipe da Escuridão

Aliás, a empresa criada por Joseph Lucas no século 19, antes mesmo de existir o automóvel, é vítima de inúmeras chacotas que circulam pela internet e colocam em dúvida sua qualidade. Apesar de presente em marcas famosas como Rolls-Royce, Bentley, Jaguar, MG e outras, as brincadeiras estão estampadas em etiquetas nos vidros de carros (principalmente ingleses): “Lucas, Prince of Darkness” (em inglês: Lucas, Príncipe da Escuridão) e “Why do the English drink warm beer? Because they have Lucas refrigerators” (Porque os ingleses bebem cerveja quente? É porque usam geladeiras Lucas) ou “If Lucas made guns, wars would not start” (Se a Lucas fabricasse revolveres, as guerras não teriam começado).


No caso dos seus cabos: por que só a Lucas sugere sua troca com tão baixa quilometragem? Marketing para aumentar faturamento ou reconhecimento de baixa qualidade?

Manutenção do carro é coisa séria e pode afetar a segurança veicular. Mas é prática inescrupulosa e beira a chantagem emocional aproveitar-se da ignorância técnica do motorista para “azeitar a facada”.

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