Malandragem criminosa

Para driblar o elevado custo de reparo do ABS e airbag, o dono do carro (ou a loja) pode recorrer a uma perigosa maracutaia

Cuidado! Crédito: Picaretas usam artimanha para não consertar airbag e ABS

Quanto maior o avanço da tecnologia, mais os malandros se regalam. Num passado não muito distante, hodômetros marcavam quilômetros com anéis numerados que giravam em paralelo movidos mecanicamente por um cabo que vinha, em geral, da caixa de marchas. Tinha o especialista na operação de voltá-lo dezenas de milhares de quilômetros, o “Zé Marcha-ré”. A eletrônica trouxe o hodômetro eletrônico. Fim das rodinhas analógicas e do cabo mecânico. Mas, o “Zé Marcha-ré” permaneceu impávido colosso e até apreciou a nova tecnologia: ele o adultera ainda mais rapidamente. O dono da loja só corre um risco: as pegadas da malandragem costumam ficar registradas na central eletrônica.

Muito pior que adulterar hodômetro é a prática criminosa de oficinas e lojistas na eventualidade da luz de alerta no painel indicando problema no funcionamento dos freios ABS e air bags.

O ABS interfere no circuito hidráulico do freio quando o motorista pisa com vontade no pedal, evitando as rodas de se travarem. As bolsas infláveis (air bags) se inflam para proteger motorista e passageiros na eventualidade de um impacto.

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Ambos os sistemas contam com luzes de alerta no painel, que se acendem quando o motorista liga o carro e se apagam segundos depois. Ao se acenderem, demonstram não estarem queimadas nem com mau contato. Ao se apagarem, indicam não haver problema nos air bags nem nos freios ABS. Cabe ao motorista verificar, ao ligar o carro, o acender e apagar destas luzes.

Quando ocorre um defeito no freio ABS, sua lâmpada de alerta se acende no painel e o computador da oficina acusa  a origem do problema.

Pode ser simples, de origem elétrica, ou de algum sensor que passa as informações para o sistema eletrônico. Ou ainda da bomba hidráulica que aumenta a pressão do circuito. Ou defeito nenhum: basta desligar e ligar a chave para o sistema se “resetar” e a lâmpada não se acende mais.


No caso de alerta do air bag que não foi acionado num impacto, o problema pode ser semelhante ao do ABS: mau contato ou falha no dispositivo de acionamento. Mas, se a bolsa foi inflada num acidente, ela deve ser substituída pois não existe possibilidade de reutilização.

O custo para o reparo dos dois dispositivos pode, portanto, ser muito elevado. No caso do air bag inflado num carro não coberto pelo seguro, a conta chega pesada no bolso do dono. Que, com frequência, não autoriza a substituição, pois “vou é vender o carro”. A oficina, tão malandra quanto ele, simplesmente fecha a tampa para não se perceber a ausência da bolsa. E desliga a luz de alerta. No caso do ABS, a mesma malandragem: deixa o sistema inoperante e desliga a lâmpada do painel. Vale lembrar que os freios do carro continuam funcionando normalmente, pois o ABS só atua em situação de emergência.

Existe uma receita simplória para se enganar o freguês. Para que a luz de alerta se acenda mesmo com defeito no ABS ou sem  bolsa inflável nenhuma no alojamento, a lâmpada é conectada ao sistema operante. Ou seja, o problema é no air bag? Liga-se sua lâmpada ao sistema ABS. E vice-versa. Quando o motorista liga o carro, ambas as lâmpadas se acendem e apagam, mas não existe a bolsa do air bag. Ou o ABS está inoperante. Passa uma falsa impressão de que ambos os sistemas estão em ordem. Mas, às vezes, nenhum deles funciona.


A malandragem pode ter sido autorizada pelo dono do carro. Ou pela loja que o recebeu em troca por um valor abaixo da tabela (devido ao problema) e o corrigiu de forma criminosa.

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