Bugatti só serve para andar em linha reta?

O Bugatti Chiron recentemente estabeleceu recorde numa inusitada prova 0-400-0. Mas será que ele é tão bom de curvas como de reta?

Crédito: O Bugatti Chiron causa sensação até parado. Em linha reta, parte como um tiro, e freia com a força de 2 g. Foto: Arnd Wiegmann/Reuters

Já está famoso na internet o vídeo do Bugatti Chiron na incrível prova de 0-400-0. Sob o comando do piloto Juan Pablo Montoya, o novo modelo da marca francesa, produzido artesanalmente na região da Alsácia, vai de 0 a 400 km/h e volta à imobilidade em apenas 42 segundos.

É um recorde mundial. O Chiron é uma obra notável de engenharia. O superesportivo é capaz de fazer 0 a 100 km/h em 2,4 segundos, 0 a 200 km/h em 6,1 segundos, 0 a 300 km/h em 13,1 segundos e alcançar os 400 km/h em 32,6 segundos.

E, 9,3 segundos após alcançar os 400 km/h, ele está parado novamente. Para estancar o carro, Montoya precisou de suportar uma força de 2 g. O vídeo está aqui:

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Para acelerar, o Chiron dispõe de um fabuloso motor 8.0 de 16 cilindros em W, com quatro turbos. A potência chega a 1.500 hp. Em cavalos, isso dá 1.521. E o torque, amigos? São 163 mkgf num platô que vai de 2.000 a 6.000 rpm!

Para frear, o modelo dispõe de discos de cerâmica e pinças de oito pistões de titânio. Foi esse conjunto que estancou o Chiron de 400 km/h a 0, em 9,3 s e 491 metros.


Claro que a sede é imensa: de acordo com a Bugatti, o modelo faz em média 2,8 km/l na cidade e 6,6 km/l na estrada – desde que não se abuse do acelerador. A questão é: como não abusar do acelerador?

Infelizmente, não tive a oportunidade de dirigir o carro, mas já tive a rara felicidade de dirigir seu antecessor, o Veyron. Foi o teste mais caro da minha vida – literalmente. O Veyron Grand Sport veio ao Brasil em 2010, para participar do Salão do Automóvel.

Encerrada a exposição, pude andar no carro, com uma condição: tive de assinar um contrato no qual eu e meu empregador na época nos comprometíamos a pagar por eventual acidente. Só para constar: o valor do carro era de R$ 7,7 milhões! E não tinha seguro!


Meu superior imediato recomendou que eu tivesse cuidado. Claro que concordei. Afinal, não tinha (não tenho, e provavelmente nunca terei) R$ 7,7 milhões. E lá fui. Primeiro, andei ao lado do piloto oficial da Bugatti, que foi dirigindo e mostrando todos os comandos. Após o rápido (outra vez, literalmente) estágio, chegou a minha vez.

A voz do bom senso estava ali, sussurrando no meu ouvido esquerdo: “Tome cuidado, tome cuidado”. O problema é que o sussurro foi abafado quando o motor começou a urrar bem atrás de mim, com as quatro turbinas zunindo ferozmente nos ouvidos. Tudo o que eu ouvia, além do motor, era o piloto da Bugatti dizendo “keep pushing, keep pushing” (continue acelerando, continue acelerando). Obedeci, mesmo pondo em risco o futuro financeiro do neto que ainda não tenho. Afinal, só se vive uma vez.

No fim do dia, entreguei o carro inteiro à Bugatti, menos a gasolina.


Essa história me veio agora que o Chiron aparece para continuar a bela saga do Veyron.

Mas meu ponto aqui é o seguinte: todo vídeo que vejo dos Bugatti da nova era, eles estão destruindo recordes de aceleração. Antes do Chiron, foi assim com o Veyron: mesmo tendo 2/3 da potência do novato (1.001 cv), ele fazia 0 a 100 km/h em 2,5 segundos, 0 a 200 km/h em 7,3 segundos e 0 a 300 km/h em 16,7 segundos. Mas não vejo o carro fazendo curvas.

Um esportivo completo deve ser bom de aceleração, freio e curvas. Nos dois primeiros quesitos, o Chiron passa com louvor. Mas o legal de um esportivo (principalmente os que utilizam o sufixo “super”) é a capacidade de contornar curvas em velocidade. Isso eu queria ver um Bugatti fazer.


Acelerar em linha reta é muito legal, mas exige muito menos do carro e do piloto. Basta se concentrar, colocar o pé no fundo e deixar. Não é preciso dosar acelerador e freio, nem reduzir marcha, muito menos escolher o melhor traçado para contornar a curva.

O Chiron é excepcional em linha reta, mas o que eu queria ver, mesmo, é ele disputando curvas numa pista de corridas com um Aventador. Ah, queria.

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