Na guerra do trânsito, motoristas perdem o espelho; motociclistas, a vida

Enquanto motoristas e motociclistas se acusam mutuamente, as estatísticas vão subindo e ninguém faz nada a respeito

Crédito: Mesmo tendo frota bem menor que a de carros, motocicletas quase sempre estão envolvidas em acidentes. Foto: Paulo Liebert/Estadão

Toda manhã é a mesma coisa. Quando o repórter que cobre o trânsito (no rádio ou na TV) informa que há acidente, você já sabe que na sequência é quase certo que virá a frase “envolvendo carro e moto”. Embora a frota de motocicletas na capital represente cerca de 20% do total de veículos, elas se envolvem na maior parte do acidentes.

De acordo com balanço da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), os motociclistas representaram 37,1% das 854 mortes ocasionadas por acidentes de trânsito em São Paulo no ano passado, ou 316 falecimentos.

É um número inferior apenas ao de mortes envolvendo pedestres (40% das vítimas, 342 falecimentos). E com a ressalva de que aí estão computadas somente as mortes ocorridas no local. Falecimentos posteriores, no hospital, não entram na conta.

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Ainda segundo números da CET, propocionalmente ao tamanho de suas frotas, as motos envolveram-se 4,8 mais vezes em acidentes do que automóveis.

Daria para ficar falando de estatísticas o post inteiro. Mas eu queria chamar atenção para o fato de que nada está sendo feito para mudar o quadro atual. Autoridades de trânsito, motoristas e motociclistas continuam agindo da mesma forma, ignorando dados e corpos estendidos no chão. Virou banal.

O trânsito em São Paulo é uma competição, e aparentemente formado por inimigos. Carro contra carro, carro contra moto. Todos contra todos. O cara parado ao lado no semáforo é seu rival. Você “tem” de largar na frente dele.


Motoristas andam como se não houvesse amanhã. Motociclistas andam como se não houvesse amanhã. A diferença é que, para os últimos, às vezes não há mesmo. Na guerra diária, motoristas costumam perder o retrovisor. Motociclistas perdem a vida.

Não, não é a visão de motorista sobre o assunto. Ando de carro e moto. Aliás, tive moto antes de ter carro. E aprendi a me antecipar ao perigo, a evitar situações de risco. Com o tempo sobre uma moto, você aprende a “ler” o que o motorista vai fazer, a se antecipar à jogada.

Utilizar o freio em vez de buzina pode ser uma boa forma de permanecer sobre (e não sob) a moto. Boa parte dos motociclistas anda no limite, sem a menor margem de segurança para uma manobra ou frenagem de emergência. Terceirizaram a segurança aos motoristas. E isso não é nem um pouco
recomendável. Sabemos muito bem do que é capaz um ser humano quando está atrás do volante.


Motos são muito mais ágeis que carros. Naturalmente, vão chegar antes aos destinos, mesmo sem cometer irregularidades ou insanidades. São menores e acham facilmente caminho entre os carros. Ok, legalmente não podem circular no corredor entre os veículos, mas não acho o fim do mundo quando vão passando com cuidado. Nesse caso, estão apenas utilizando a vantagem inerente ao tipo de veículo.

Se o trânsito está parado e elas passam devagar, ótimo. Podem entregar a refeição ou o documento no prazo. Mas quando passam a 80 km/h no meio do engarrafamento, perdem a razão, o argumento e, muitas vezes, a vida.

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