Quando todo mundo começou a achar que o pior da crise de abastecimento de combustíveis estava passando, a realidade – sempre ela – veio para mostrar que tudo sempre pode piorar. A lenta chegada de combustíveis aos postos trouxe não apenas imensas e torturantes filas, mas também o fantasma do produto adulterado. Fantasma, não. Ele era bem real.
Apenas nos dois últimos dias, o mecânico Pedro Luiz Scopino, dono de uma oficina na zona norte da capital, atendeu a três clientes com o mesmo problema: combustível adulterado. Em todos os casos, Scopino constatou a presença de uma excessiva quantidade de água no etanol, o que impede o funcionamento do motor.
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O mecânico precisou esgotar o tanque e inutilizar o que havia lá dentro (líquido que certamente custou caro ao motorista, diga-se). Depois foi preciso alimentar o carro com combustível menos suspeito – na medida do possível, já que a escassez permanece.
Sem escolha
Quando as condições de abastecimento estão normais, o cliente tem a liberdade de optar pelo tipo de combustível que quiser: pode escolher pela bandeira do posto e pelo tipo de produto (comum, aditivado, premium, etc.).
Com a falta generalizada, todos correram desesperadamente para qualquer estabelecimento que tivesse algo para vender. Pior: formaram filas até diante de postos sem nada para vender, na esperança de que o fornecimento viesse. Resumindo, todos à espera de um milagre.
Diante da excessiva demanda e da absoluta falta de produto, muitos revendedores viram a possibilidade de ganhar um dinheiro fácil, multiplicar o lucro, por exemplo adicionando água ao etanol.
No grupo de WhatsApp do condomínio onde moro, constatei a determinação de abastecer a qualquer custo:
“O posto tal tem combustível”, escreveu um vizinho, ressalvando que a fila estava imensa, mesmo às 6h30 da manhã.
“Estão vendendo combustível adulterado neste posto”, alertou outro morador.
“Vou para lá, não tenho escolha”, resignou-se uma vizinha.
Moral da história: quem puder, que espere um pouco mais. Com a retomada gradual do abastecimento e o aumento da oferta, a concorrência pode mais uma vez separar o joio do trigo, a gasolina do solvente, ou a água do etanol.
Enquanto isso, o pecado – ou a ilegalidade – vai continuar
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