No trânsito, somos todos selvagens

Com o tempo, nos acostumamos a enxergar um inimigo atrás de cada volante, e um oponente debaixo de cada capacete. O trânsito é o campo de guerra

Carro avança sobre faixa de pedestres no sinal vermelho, uma cena cotidiana no trânsito de São Paulo Crédito: Daniel Teixeira/Estadão

Quem dirige em São Paulo recebe diariamente sua dose de agressividade do trânsito. Com o tempo, nos acostumamos a enxergar um inimigo atrás de cada volante, ou sob cada capacete. As mínimas normas de convivência pacífica e educada desaparecem diante da possibilidade de ganhar alguns metros, mesmo que para isso seja preciso fechar alguém ou se arriscar fazendo uma ultrapassagem perigosa. Semáforo amarelo é verde. Vermelho é amarelo.

Trânsito se transformou em local de disputa. E ninguém percebeu que, ao contrário do que ocorre em pistas de competição, no final não há vencedores. Apenas perdedores.

E o pior é que não estamos no fundo do poço. Quando você começa a achar que nada pode ser pior do que o trânsito de São Paulo, há sempre alguém do Rio, de Belo Horizonte ou de alguma outra capital dizendo que “lá é pior”.

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Outro dia, estava caminhando pelas ruas de Buenos Aires, num breve intervalo na programação de lançamento do Citroën C4 Lounge (a quem se interessar, minhas impressões sobre o sedã estão aqui).

E, como sempre faço nessas oportunidades, observava o comportamento de motoristas, motociclistas e pedestres.

Buenos Aires está com o trânsito ainda mais complicado que o habitual, por causa de obras que deverão mudar o visual na região da já belíssima Puerto Madero, uma antiga área portuária que foi revitalizada e hoje abriga restaurantes, hotéis e lojas elegantes. Tudo muito bonito, mas atualmente com muita poeira e um trânsito caótico (é o preço da obra).


Mesmo assim, presenciei cenas que não me lembro de ter visto por aqui. No meio de uma tarde quente de verão, caiu um pé d’água. Isso costuma ser um ingrediente a mais na guerrilha urbana do trânsito.

Enquanto o semáforo estava fechado, vi um motociclista sinalizar para o motorista ao lado, por mímica, que estava molhado e com frio, e que gostaria de estar com a bomba de chimarrão que o motorista sorvia tranquilamente, enquanto aguardava o farol verde. Ambos riram e seguiram seus caminhos.

Nos Estados Unidos, em cruzamentos sem semáforo, normalmente o trânsito respeita a ordem de chegada. Para começar, na maioria deles, é proibido cruzar sem parar. E, depois de parar, o motorista só avança na vez dele. Quem estava parado primeiro sai antes, e assim por diante. É o mais justo. A prioridade não é decidida com base no tamanho do automóvel ou na audácia do condutor, como aqui.


Será que um dia vamos superar a barbárie?

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