Não faz muito tempo, quem queria se destacar no trânsito comprava um SUV. Ao volante de um carro mais alto (podia ser tanto um EcoSport como um Land Rover, dependendo das posses), o motorista se sentia dirigindo um carro de categoria literalmente superior. Ele via tudo de cima, e era admirado pelos demais motoristas em seus sedãs, peruas e hatches.
Num comportamento de manada, todo mundo foi migrando para os tais utilitários-esportivos. O resultado disso? Daqui a pouco, quem quiser ser diferente vai ter de comprar um sedã, um hatch ou o que sobrar no mercado. O diferente vai ser quem estiver em um carro baixo.
Hoje em dia, praticamente não passa uma semana sem que alguma marca não lance um SUV. Esta semana já são dois, por enquanto: JAC T40 com câmbio automático CVT e BMW X2.
Continua depois do anúncioNa semana passada a Volvo lançou o XC40, o menor da família “XC”, que já contava com o XC60 e XC90. A marca sueca é um caso clássico de empresa que está surfando na onda dos SUVs. O presidente da companhia no Brasil, Luis Rezende, revela que 85% das vendas da empresa já são representadas pelos três SUVs: de acordo com ele, dos 6 mil automóveis da marca a serem vendidos este ano, 5 mil serão da linha XC. E, destes, 2 mil serão do novato XC40.
E as peruas? Ah, sim, a Volvo produz uma bela perua, a V90. E estuda trazer – talvez – umas 20 unidades, apenas para clientes que fazem questão do modelo. Olha só a diferença: 2 mil XC40 contra (talvez) 20 V90. Não é culpa da Volvo, evidentemente. É apenas o que o mercado quer.
(A propósito, a avaliação do XC40 está aqui)
Outras marcas, como a Volkswagen, também decidiram investir pesadamente no segmento. A empresa alemã planeja uma investida que inclui, além do novo Tiguan (que já chegou), o T-Cross (baseado na plataforma do Polo), Tarek, T-Trak e Atlas.
Com essa inundação de modelos de diversas marcas, é natural que os carros fiquem cada vez mais parecidos.
Loja de sapatos
A Volvo fez uma analogia interessante durante a apresentação do XC40: comparou a concorrência a sapatos. De acordo com o diretor de marketing da empresa, Leandro Teixeira, enquanto a concorrência vende “sapatos” que são diferenciáveis apenas pelo tamanho, na Volvo os calçados são diferentes entre si: na visão da marca sueca, enquanto o XC90 é um calçado formal, o XC40 é um “sapatênis”.
Na prática, porém, está muito difícil diferenciar um modelo do outro. As marcas têm de respeitar a tal “family face”, o aspecto familiar que fazem irmãos se parecerem. Grades têm de ser semelhantes, lanternas idem.
Especialistas conseguem enumerar as diferenças de um modelo para outro. O público escolhe o sapato pelo número (tamanho) e pelo preço. Incluindo quem entra numa concessionária da Volvo.