Tem muito motorista que enxerga carro autônomo como uma espécie de concorrente a ele próprio. A tecnologia capaz de substituir o condutor ainda não chegou de fato, mas é vista com desconfiança e gera polêmica. Pois eu não vejo a hora de esse negócio chegar para valer. Gosto muito de dirigir, mas detesto congestionamento.
Aguardo com a ansiedade de um adolescente (ou, ao menos, de um adolescente da época em que eu era adolescente) a oportunidade de ir para uma bela estrada, sinuosa ou não. Mas não me incomodaria nem um pouco se a eletrônica assumisse o comando nas marginais. Não tenho o menor prazer em dirigir a 15 km/h. Para andar nesse ritmo, melhor pedalar.
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A condução autônoma vem para fazer o trabalho desagradável. Ela é o copiloto, o auxiliar. Toma o controle do carro (freia, acelera, faz curva) quando você não quer dirigir. Situações de anda e para do trânsito, por exemplo. E te libera para dirigir quando a condução for prazerosa.
Estacionar, por exemplo, é uma tarefa chata. Eu quero andar, não parar. Pois a Mercedes resolveu isso. O novo Classe E faz muito mais do que esterçar o volante no ângulo certo para entrar em uma vaga, enquanto o motorista engrena o câmbio para frente e para trás, seguindo as instruções. Nele, o dono do carro pode ficar do lado de fora e controlar a manobra pelo celular. A tecnologia (ainda não disponível no Brasil) transforma o sedã de luxo num carrinho de controle remoto. O vídeo abaixo não é novo, mas mostra como isso é feito.
Recentemente, dirigi o Audi A5 Sportback. Ele tem o que se convencionou chamar de sistema semiautônomo. É capaz de fazer algumas coisas por conta própria, mas por tempo reduzido. Depois, ele te convoca a reassumir os controles. Isso ocorre porque essa tecnologia ainda está se desenvolvendo, e também porque há questões legais (a legislação não prevê carro autônomo).
E há a questão da infraestrutura. Carros que acompanham as faixas evidentemente precisam de faixas bem pintadas no asfalto. E muitas vezes não temos isso por aqui. Durante o teste, por alguns momentos o A5 se aproximou perigosamente do limite da faixa.
É preciso ter paciência com esse tipo de carro, porque tudo isso é novo, e ainda com um longo desenvolvimento à frente. Carro semiautônomo é uma espécie de aprendiz. E, como tal, comete eventuais barbeiragens.
Recentemente, os modelos da Volvo tiveram problemas com cangurus na Austrália. O sistema se atrapalhava com os pulos do marsupial. Quando ele saltava, o carro perdia a referência, e entendia que o animal estava a uma distância maior que a real. Não quero nem imaginar o que pode acontecer se um carro desses estiver atrás de um caminhão com uma estrada pintada no baú…
Na semana que vem, a Audi vai mostrar o novo A8 (na foto abaixo, ele ainda está com disfarces). A nova geração do maior sedã da marca será capaz de assumir o controle por mais tempo que no A5 Sportback. Além disso, entre outras novidades, o sistema start-stop não irá desligar o motor se o carro “enxergar” que o trânsito à frente voltou a andar. Isso será possível graças à conversa entre a câmera frontal e o motor.
Os carros ainda têm muito a aprender, mas não tenho dúvida de que aprendem rápido. E, quando estiverem prontos, não vão costurar no trânsito, tampouco te fechar deliberadamente.
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